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“Parede assassina” do Eiger já matou mais de 60 pessoas

Mau tempo inviabilizou resgate dos alpinistas no Eiger. RDB

Dois jovens alpinistas suíços morreram esta semana congelados na descida do temível monte Eiger, na região alpina de Berna. São as duas primeiras vítimas do pico neste ano.

Mais de 60 pessoas já encontraram a morte em expedições ao Eiger, a maioria delas – mais de 50 – ao tentar escalar a face norte da montanha, também conhecida como “parede assassina”.

As duas vítimas mais recentes – supostamente alpinistas experientes – escalaram a montanha de 3.970 metros no último domingo (23/03) e foram considerados desaparecidos desde segunda-feira à noite.

Ao que tudo indica, eles morreram congelados após terem sido surpreendidos pelo mau tempo, o que também causou o fracasso de várias tentativas de salvamento.

Na quarta-feira, as autoridades em Grindelwald informaram que os dois corpos tinham sido localizados sobre a neve, a uma altitude de 3.800 metros (menos de 200 m abaixo do cume do Eiger) – leia mais no Blog Coisas da Suíça – link na coluna à direita.

O jornal Tagesanzeiger.ch informou nesta quinta-feira que um dos corpos foi resgatado. Segundo os responsáveis pela estação de salvamento de Lauterbrunnen, a segunda vítima não pôde ser localizada. Provavelmente o jovem estaria pendurado nas cordas e estaria definitivamente morto.

Atraídos pelo mito

Junto com os picos Jungfrau (4.158 m) e Mönch (4.107 m), o Eiger forma um conjunto mítico de montanhas, temido e admirado por alpinistas de todo o mundo, devido às dificuldades para escalar.

O Eiger foi escalado pela primeira vez através da face oeste em 11 de agosto de 1858 pelo irlandês Charles Barrington e seus dois guias suíços Christian Almer e Peter Bohren. Nos últimos 150 anos, dezenas de vidas foram “sacrificadas na montanha”, como mostra uma retrospectiva da agência de notícias SDA.

Até os anos de 1930, o pico foi escalado também pelas rotas sul e leste. A face norte, de cerca de 1.650 metros de altura, até então era considerada invencível devido às quedas de pedras e blocos de gelo, bem como às rápidas mudanças do tempo.

Já nos três anos antes de ser escalada pela primeira vez em 1938 pelos alemães Anderl Heckmair e Ludwig Vörg e os austríacos Fritz Kasparek e Heinrich Harrer, oito pessoas haviam morrido na chamada “parede assassina”.

Primeiro salvamento

Entre as vítimas dessa época constam quatro alpinistas da Alemanha e da Áustria, mortos na descida em 1936. Um deles, o alemão Toni Kurz, morreu poucas horas antes da chegada da equipe de resgate. O drama de sua morte foi eternizado no filme “Nordwand”, cujo remake chegou aos cinemas no ano passado (veja link na coluna à direita).

Em agosto de 1957, os italianos Claudio Corti e Stefano Longhi ficaram retidos na face norte. Corti foi salvo com um cabo de aço a partir do cume (foi o primeiro salvamento na face norte), o cadáver de Longhi ficou oscilando dois anos na corda até ser resgatado. Os corpos de dois alemães, que escalaram o pico na mesma época e morreram de cansaço na descida, só foram encontrados quatro anos depois.

Outro acidente dramático ocorreu em meados de setembro de 2000, quando duas equipes de alpinistas britânicos despencaram da chamada “Nordwand” (nome em alemão). Uma equipe de televisão britânica filmou a queda mortal.

Além da face norte, também a face oeste do Eiger é palco de muitos acidentes. Em abril de 2007, um alpinista francês sofreu uma queda mortal nessa região após ter escalado a face norte. Um destino semelhante teve um coreano em 1995.

Subida e descida difíceis

A rota do cume do Eiger (3.970 m) pelo desfiladeiro Eigerjoch (norte – 3.614 m e sul – 3759 m) é considerada a descida clássica. Por este caminho, em condições de tempo normais, chega-se em cerca de quatro horas, através do Oberes Mönchsjoch (3.627 m) ao Jungfraujoch (3.454 m).

Mas, sob neblina e tempestade, pode ocorrer nessa descida pela neve eterna o perigoso fenômeno chamado white out, em que o alpinista não consegue mais distinguir entre as estruturas da montanha e o horizonte. O perigo de perder o rumo então é grande. Por isso, muitos escaladores da face norte preferem descer pela face oeste.

Segundo o jornal 20min.ch, entre 1910 e 2008, as equipes de salvamento de Grindelwald, cidade ao pé da “parede assassina”, foram chamadas 114 vezes: 65 alpinistas elas só puderam resgatar mortos da face norte.

Nos anos de 1930, a ambição dos alpinistas na corrida para ver quem seria o primeiro a vencer a face norte causou tantas vítimas que o governo estadual de Berna chegou a proibir a escalada dessa rota, mas não conseguiu impor essa proibição.

swissinfo com agências

Em março de 1978, o japonês Tsuneo Hasegawa derrotou o francês Ivan Ghirardini na corrida contra o tempo pela primeira escalada individual da face norte do Eiger no inverno através da chamada “rota Heckmair”. Ele precisou de sete dias e seis noites.

Trinta anos mais tarde, em 13 de fevereiro de 2008, o suíço Ueli Steck fez o mesmo trajeto em apenas 2h47min, superando em 67 minutos um recorde que ele próprio havia estabelecido um ano antes.

Hoje existem 33 rotas através da face norte do Eiger. Como é preciso ir em ziguezague, para superar os 1.650 metros da parede, caminha-se uma distância de cerca de 4 km. O tempo normal para escalar a “rota Heckmair”, a mais conhecida, é estimado em dois a três dias.

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