Paz, crises, Trump vs. Biden: o que 2024 reserva para a Genebra internacional?
As incertezas do futuro pairam sobre as organizações internacionais de Genebra. Em 2024, pode haver esperanças de paz, mas também novos conflitos ou o retorno de Donald Trump ao poder.
Mais um ano de crise após crise. É assim que 2023 pode parecer do ponto de vista das organizações internacionais de Genebra. O ano de 2024 promete ser igualmente complicado.
Ucrânia: diplomacia em ação
Em 14 de janeiro, a paz na Ucrânia não será discutida em sua capital não oficial, Genebra, mas nos Alpes suíços, em Davos, onde será realizada uma rodada de discussões sobre o plano de paz do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.
A Rússia não participou das três etapas anteriores, em Jeddah, Copenhague e Malta, e não há nenhuma indicação de que o fará desta vez.
Portanto, não se trata de negociações. E a esperança de paz na Ucrânia em 2024 continua remota. Como a The EconomistLink externo apontou em um editorial recente: “Para a Ucrânia, permitir que a Rússia mantenha o território que ocupa é inaceitável, principalmente por causa do impacto econômico da perda de parte de seu acesso ao mar. Para a Rússia, a invasão ainda parece um fracasso, pois ela não controla totalmente as quatro províncias anexadas em 2022”.
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O que acontece se o bloqueio do Mar Negro for suspenso?
Um dos poucos pontos em que a Ucrânia e a Rússia conseguiram chegar a um acordo, o Acordo de Grãos do Mar Negro, negociado pela ONU e pela Turquia, expirou após a retirada de Moscou em julho de 2023. O acordo levou a uma retomada das exportações ucranianas e a uma queda nos preços dos grãos, ajudando a evitar uma crise alimentar global. No entanto, quando questionado pela Geneva SolutionsLink externo, um funcionário sênior da ONU revelou que as discussões com o objetivo de ressuscitar o acordo estão em andamento.
Uma das ONGs de mediação discreta de Genebra, o HD Centre, desempenhou um papel fundamental na criação desse acordo, conforme revelado em uma investigação da mídia DevexLink externo. Em um momento em que a mediação oficial da Suíça parece impossível, essa diplomacia paralela permite o diálogo indireto entre russos e ucranianos. Em 2024, ela provavelmente continuará, mas sem chamar a atenção.
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O momento é propício para a paz na Ucrânia?
Oriente Médio: escalada ou paz duradoura?
Em meados de dezembro, o resultado da guerra no Oriente Médio continua incerto. Até o momento, os repetidos apelos das agências humanitárias de Genebra para um cessar-fogo só foram atendidos com uma pausa humanitária de uma semana no final de novembro.
Durante essa pausa, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) desempenhou um papel fundamental, facilitando a transferência de 80 reféns israelenses em troca de 240 prisioneiros palestinos.
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“Nosso trabalho é muitas vezes mal compreendido”
Os profissionais da área humanitária não têm mais adjetivos para descrever o sofrimento da população civil em Gaza. No ano que vem, uma pergunta os atormentará: a guerra levará a uma escalada regional, a um conflito que não tem volta ou a uma paz duradoura?
Um sistema humanitário nas últimas
2023 terá sido um ano difícil para as agências humanitárias de Genebra. Os conflitos existentes continuaram sem solução, enquanto novas crises eclodiram no Sudão e no Oriente Médio. Além disso, houve desastres naturais, às vezes em áreas já frágeis: terremotos na Síria e no Afeganistão e enchentes na Líbia.
A ONU espera que as necessidades humanitárias cheguem a 46 bilhões de dólares até 2024. Essa é uma estimativa realista, levando em conta as fontes limitadas de financiamento. À medida que o final do ano se aproxima, as agências humanitárias da ONU receberam apenas 37% dos 57 bilhões de dólares de que precisam.
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Apoiar a vida em meio ao caos: dificuldades da ajuda humanitária em zonas de conflito
O desafio continuará sendo – em um momento em que as guerras no Oriente Médio e na Ucrânia dominam a mídia ocidental – chamar a atenção dos países doadores para as crises esquecidas: do Haiti ao Afeganistão, passando pela República Democrática do Congo, Iêmen e Síria.
2023 também foi um ano de crise para o CICV, que enfrentou um grande déficit de financiamento. Acusada de se dispersar demais e gastar demais, a organização com sede em Genebra disse que voltaria a se concentrar em suas atividades principais: visitas a prisioneiros de guerra, trocas de detentos e restauração de vínculos familiares.
O CICV já cortou seu orçamento e anunciou a eliminação de cerca de 1.800 empregos. Com sua neutralidade muitas vezes mal interpretada, a organização terá que provar que ainda pode fazer a diferença. Esse será um grande desafio para o futuro diretor-geral, que assumirá seu cargo em abril.
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Crise orçamentária: o CICV apela aos grandes doadores para que se mobilizem
Uma eleição presidencial de alto risco
Em novembro, os olhos da Genebra internacional se voltarão para os Estados Unidos, onde ocorrerão as eleições presidenciais. Uma possível “revanche” na qual o presidente em exercício Joe Biden e seu antecessor Donald Trump se enfrentarão mais uma vez. Uma eleição acirrada que, como aponta a The EconomistLink externo em outro editorial, provavelmente se resumirá aos votos de algumas “dezenas de milhares de eleitores em um punhado de estados”.
Durante seu mandato (2016-2020), o bilionário americano demonstrou claramente seu desprezo pelo multilateralismo, lançando uma sombra sobre as organizações internacionais em Genebra. Sob sua liderança, os Estados Unidos se retiraram de vários órgãos, incluindo o Conselho de Direitos Humanos e a Organização Mundial da Saúde. O resultado foi a ascensão da China, determinada a aproveitar o vácuo deixado por Washington para colocar sua marca no sistema de direitos humanos.
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75 anos de direitos humanos: o que há para comemorar?
O retorno do republicano ao protecionismo econômico certamente também seria uma má notícia para a Organização Mundial do Comércio (OMC), cujo sistema de arbitragem permaneceu paralisado desde o governo Trump.
Acordo sobre pandemias
Em 2024, um tratado sobre pandemias deve ser adotado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O futuro acordo, que está em andamento desde 2021, deve permitir que a OMS e seus 194 Estados-membros previnam e combatam a próxima pandemia de forma mais eficaz.
As negociações estão progredindo, mas ainda há diferenças entre os países do Sul e os do Norte. Um dos principais pontos de atrito é a proteção de patentes para vacinas e medicamentos. Os países com fortes indústrias farmacêuticas, incluindo a Suíça, acreditam que uma flexibilização da lei nessa área atuaria como um freio à inovação.
Se o texto final for adotado conforme planejado na próxima Assembleia Mundial da Saúde, no final de maio de 2024, será um raro exemplo atual de colaboração multilateral bem-sucedida em escala global.
Conselho de Segurança: segunda rodada para a Suíça
As decisões políticas da ONU são tomadas em Nova York. Mas elas têm consequências para o trabalho de sua sede europeia em Genebra, onde, em especial, a ação humanitária é coordenada.
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O que esperar da presidência suíça do Conselho de Segurança da ONU
Em 2024, em seu segundo e último ano como membro não permanente do poderoso (embora muitas vezes paralisado) Conselho de Segurança, a Suíça terá a oportunidade de levar seus valores ao mais alto nível.
(Adaptação: Fernando Hirschy)
Fernando Hirschy
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