Philip Morris: “Não existe cigarro seguro”
Ao mesmo tempo em que mais de 40 organizações ligadas à saúde pedem uma proibição nacional do fumo na Suíça, começa a operar em Serrières/Neuchâtel (oeste do país) o centro mundial de pesquisa e desenvolvimento da Philip Morris International.
A multinacional da indústria do fumo, sediada em Lausanne, investiu mais de 120 milhões de francos (US$ 111,7 milhões) na construção de um luxuoso “campus” para 450 cientistas.
Situado entre a autoestrada A5 e o Lago de Neuchâtel, o complexo de 36.500 metros quadrados impressiona pela moderna arquitetura com muito vidro. Esse “oásis dedicado à pesquisa” oferece aos cientistas, além de laboratórios, entre outras coisas, uma sala de ginástica e duas saunas.
Segundo um comunicado publicado no dia da inauguração (28/5) pela Philip Morris International (PMI), o novo campus tem como principal objetivo “desenvolver produtos que tenham o potencial de reduzir o risco de doenças relacionadas ao tabaco”.
A PMI mantém desde 1963 uma fábrica de cigarros em Neuchâtel, onde emprega 1.300 pessoas, sendo o maior empregador privado e principal contribuinte do estado. Daniel Cusworth, gerente de comunicação externa da empresa, respondeu por escrito às seguintes perguntas de swissinfo.ch a respeito da pesquisa sobre o tabaco e as restrições ao fumo na Suíça.
swissinfo.ch: Eu li que a pesquisa em Neuchâtel deve reduzir os efeitos negativos do cigarro. A Philip Morris, portanto, admite publicamente que fumar causa doenças?
Daniel Cusworth: A Philip Morris International tem comunicado consistentemente que o tabagismo provoca doenças e vicia, inclusive no nosso website www.pmintl.com, onde dizemos que concordamos com o esmagador consenso médico e científico de que fumar cigarros causa câncer nos pulmões, doenças cardíacas, enfisema e outras graves doenças em fumantes. Os fumantes são muito mais propensos a desenvolver doenças sérias, como câncer nos pulmões, do que os não-fumantes. Não existe cigarro “seguro”. Essas são e têm sido as mensagens das autoridades de saúde pública no mundo inteiro. Fumantes e fumantes em potencial devem considerar estas mensagens ao tomar quaisquer decisões relacionadas ao consumo de cigarros.
Uma coalizão de 40 organizações de saúde lançou uma iniciativa para proibir o fumo em ambientes de acesso público em toda a Suíça. O que o senhor acha dessa iniciativa?
As duas câmaras do Parlamento Federal aprovaram em outubro de 2008 a lei federal sobre a proteção contra o fumo passivo. A lei prevê salas especiais para fumantes (“fumoirs”) e, como exceções, pequenos restaurantes e bares podem se declarar como estabelecimentos para fumantes. A data de aplicação da nova lei está pendente atualmente. Consideramos a legislação federal como uma solução equilibrada e não vemos uma necessidade para essa iniciativa popular.
A PMI já tem centros de pesquisa e desenvolvimento em Colônia (Alemanha) e Louvain (Bélgica). O que a empresa descobriu nesses centros sobre os riscos e as conseqüências do fumo e como isso mudou os seus produtos?
O principal foco das nossas atividades de pesquisa e desenvolvimento em Neuchâtel, Colônia e Louvain é desenvolver produtos que tenham o potencial de reduzir o risco de doenças relacionadas ao tabaco. Embora hoje não exista algo como um cigarro seguro, desenvolver produtos que possam reduzir os efeitos do tabagismo sobre a saúde é uma das nossas prioridades. Temos sido ativos nesse campo há muito tempo e temos compartilhado nossas descobertas com reguladores e com a comunidade de saúde pública.
Em Neuchâtel já é parcialmente proibido fumar. Isso o incomoda, visto que a Philip Morris paga 40 milhões de francos em impostos por ano ao cantão?
A lei específica do cantão Neuchâtel sobre restrições públicas ao fumo oferece aos restaurantes, cafés e bares a possibilidade de criar espaços especiais destinados a fumantes ( “fumoirs”). O correspondente regulamento de aplicação, porém, define requisitos técnicos muito complicados e caros para os “fumoirs”. Não foi sequer dado aos restaurantes e bares um período de transição para criar um “fumoir”. Nós consideramos tal regulamentação de implementação como excessiva e como uma proibição disfarçada. Fumantes adultos devem ter lugares confortáveis à sua disposição, onde possam desfrutar produtos do tabaco.
De acordo com a Secretaria Federal de Saúde Pública, cerca de 8 mil pessoas morrem por ano na Suíça em consequência dos efeitos do fumo. O senhor não teme que também na Suíça fumantes abram processos judiciais contra a indústria do tabaco, como tem ocorrido nos EUA e em outros países da Europa?
Permita-me começar afirmando a nossa opinião de que a melhor forma de abordar as questões relacionadas ao tabaco é através da regulação, não do contencioso, e nós somos há muito tempo defensores de uma regulamentação abrangente da indústria do tabaco, focada em uma estratégia de reduzir os danos causados pelos produtos do tabaco. Dito isto, penso que o ambiente jurídico aqui na Suíça é significativamente diferente dos Estados Unidos.
Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch
A Philip Morris International (PMI) é a empresa de tabaco líder do mercado internacional e vende seus produtos em aproximadamente 160 países. São dela sete das 15 principais marcas de cigarro do mundo.
No ano passado, tinha uma participação estimada de 15,6% no mercado internacional de cigarros fora dos EUA.
Em 2008, a receita líquida, excluindo impostos de consumo, foi de US$ 25,7 bilhões e a receita operacional US$ 10,2 bilhões.
O centro mundial de operações da empresa fica em Lausanne (Suíça). Ela tem 60 fábricas e mais de 75 mil funcionários.
Fonte: PMI
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