Política familiar será votada pelo povo
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A emenda constitucional proposta visa melhorar as condições dos pais que desejam conciliar a vida familiar com uma atividade profissional. Vozes críticas estimam, porém, que a medida representa apenas uma carga tributária adicional e uma desnecessária interferência estatal.
O texto da emenda – submetida a votação dia 3 de março de 2013 – é bastante vago, estipulando, essencialmente, caber aos governos federais e cantonais (estaduais) a responsabilidade de harmonizar o trabalho com a vida de família. Determina também que se os esforços cantonais forem insuficientes as autoridades federais poderão fixar objetivos.
Mas Lucrezia Meier-Schatz, diretora da organização Pro Família e deputada democrata-cristã, diz ser crucial elaborar um quadro jurídico para essa questão.
No momento, deficiência de infraestruturas – como creches e outras instituições de assistência a crianças – dificulta, em particular às mulheres conservarem seus empregos, observa Meier-Schatz.
Achando que a família é insuficientemente protegida na Suíça, a deputada entende que “a Constituição deve ser emendada para atender as necessidades familiais e as expectativas da sociedade.” Ela considera que as atuais ajudas e os subsídios estão defasados, citando como exemplo, o seguro maternidade.
Em posição contrária coloca-se Hans-Ulrich Bigler, diretor da influente Associação das Pequenas e Médias Empresas (SGV/USAM).
“O projetado artigo constitucional prepara caminho para gastos complementares e onera ainda mais a política social,” afirma.
Nos cálculos de Bigler, o aumento dos custos é da ordem de dois bilhões de francos (US$ 3.3 bi). E descartando denúncia de que seja abertamente contra a proposta de conciliar trabalho com família, apela a maior responsabilidade individual e a que se deixe às empresas a busca de soluções sob medida.
Lucrezia Meier-Schatz, grupo Pro Familia
A Constituição precisa ser emendada para atender as necessidades das famílias e a expectativa da sociedade.
Posicionamentos partidários
Em 2012, o debate parlamentar sobre a emenda constitucional provocou o desentendimento da esquerda e de grande parte de partidos centristas com membros de partido de direita.
Os Socialistas, os Verdes e os Democratas Cristãos enfatizaram que a reforma ajudaria a preencher uma lacuna legislativa e reforçaria o papel da família, beneficiando tanto a sociedade quanto o financiamento do sistema de segurança social. Realçaram também que, em relação a outros países da Europa, a Suíça estava ficando para trás no tocante aos cuidados extrafamiliares ministrados à criança.
O direitista Partido do Povo Suíço (SVP, na sigla alemã) – e, inicialmente, o Partido Radical, de centro-direita – retrucaram que a medida acarretaria excessiva interferência do Estado nas questões da família, provocando elevação dos custos e solapando o sistema federalista, que dá ampla autonomia política às autoridades cantonais.
Na votação final, na Câmara e no Senado, os defensores do projeto de lei venceram por ampla maioria, graças à esquerda e a maioria do centro que aprovaram a medida. Com os radicais divididos, foi em vão a rejeição da mesma pelo Partido do Povo.
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Qual o papel do Estado na educação dos filhos?
Iniciativas
Esse projeto de lei remonta a seis anos atrás, quando parlamentares democratas cristãos lançaram uma proposta de emenda constitucional.
Aliás, o PDC – que regularmente defende questões ligadas à família, no âmbito de sua agenda política – tem-se igualmente empenhado na supressão de impostos que incidem sobre a família.
Mas os democratas cristãos não constituem o único grupo parlamentar ativo nesse domínio.
O Partido do Povo Suíço espera convencer os eleitores a aprovarem a própria iniciativa, que persegue objetivos contrários: suprimir subsídios a famílias que enviam os filhos a creches ou serviços similares. Esse partido conservador promove um modelo familiar tradicional, incitando as mães a permaneceram no lar.
Por seu lado, o Parlamento tem repetidamente ampliado um programa – lançado por deputados do PDC em 2000 – destinado a dinamizar a criação de novas creches. Mas, em dezembro de 2012, o Ministério do Interior revelou que o pacote de 120 milhões de francos atribuídos a esse fim estava quase exaurido, em função justamente do número de solicitações de ajuda financeira.
Posicionamento do governo
O Ministério do Interior diz que o projeto de emenda constitucional a ser votado em março reconhece a “capital importância da família na sociedade e leva em maior conta as necessidades da mesma.”
Peter Lauener, porta-voz do Ministério, aponta também os lucros para a economia, caso maior número de mulheres conserve seus trabalhos depois do parto. Acrescenta que o aperfeiçoamento da legislação pode ser visto como meio para reverter a escassez de trabalho qualificado e reduzir a pobreza no lar.
Até agora as autoridades federais têm-se preocupado mais em aliviar o ônus financeiro das famílias. Mas o momento seria apropriado para harmonizar trabalho com vida familiar.
Indagado sobre o caráter vago da emenda constitucional, o porta-voz disse “competir aos cantões ajustar os detalhes.”
A política familiar cobre seguro maternidade, subsídios aos pais, bolsas, abonos familiares e isenção de impostos.
Inclui também medidas visando conciliar trabalho e vida familiar através de facilidades para crianças, como creches e refeições escolares.
As autoridades federais estabeleceram os princípios básicos da política familiar, incumbindo aos 26 cantões e suas respectivas comunas a responsabilidade pela aplicação de normas específicas.
O projeto de emenda constitucional sobre a família é um dos três quesitos submetidos a votação popular no dia 3 de março de 2013.
Os eleitores devem também decidir sobre uma controvertida iniciativa “contra as remunerações abusivas” de gerentes e empresários, que visa também incrementar os direitos dos acionistas. Devem ainda pronunciar-se sobre um referendo relativo à modificação da lei sobre o remanejamento territorial.
Estima-se em 5.1 o número de cidadãos que podem participar da votação (num país de 8 milhões de habitantes). Pouco mais de 160 mil deles, na maioria suíços do exterior, têm condições, pela Internet, de participar da mesma, no âmbito de uma experiência de “e-voting.”
Além das votações federais, o povo decidirá sobre numerosos itens em cantões e comunas, no dia três de março.
Adaptação: J.Gabriel Barbosa
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