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Portugueses preocupados com futuras mudanças

José Maria Ribeiro De Oliveira trabalha desde 2008 na Suíça. Keystone

O resultado da votação de domingo em que os eleitores votaram pela limitação da imigração causa inquietudes entre os portugueses da Suíça. As associações de portugueses ainda não reagiram oficialmente, mas swissinfo ouviu um de seus representantes e um antigo sindicalista.

Quarta-feira (12) o governo suíço fixou um prazo até junho para apresentar um plabno de aplicação da iniciativa contra a imigração em massa, aprovada domingo em votação popular por uma diferença de 20 mil votos. O passo seguinte será a elaboração de uma lei de aplicação pelo Ministério da Justiça. O texto da iniciativa prevê um prazo de três anos para a sua impementação, mas o governo suíço quer agir rápido para evitar uma avalanche de medidas de retorsão por parte da UE.

Manuel Beja hoje é aposentado, mas passou muitos anos como sindicalista na Suíça e conheceu bem o sistema de trabalho temporário e de contingentes de trabalhadores estrangeiros que agora deve ser reintroduzido na Suíça, depois da votação de domingo.

“O sistema de temporários vigorou durante 60 anos na Suíça e era muito injusto e discriminatório para os trabalhadores”, conta Beja ao swissinfo.ch. “Os quadros estrangeiros das grandes empresas sempre foram protegidos, mas para os outros era extremamente difícil”, acrescenta.

O que pode voltar

O pior do sistema de contingentes era a dificuldade do que se chamava de reagrupamento familiar. As permissões de trabalho eram temporárias e duravam geralmente nove meses. Nos três meses restantes, os trabalhadores voltavam para seus países. Os trabalhadores estrangeiros não podiam trazer suas famílias. Isso só era possível depois de quarto contratos sucessivos de nove meses e a consequente obtenção da permissão B.

“Vamos ver como será a aplicação do resultado da votação de domingo, mas receio que se queira novamente dificultar o reagrupamento familiar dos trabalhadores estrangeiros”, afirma Antonio Da Cunha, presidente da Federação das Associações Portuguesas da Suíça. Ele diz ao swissinfo.ch que até agora as organizações portuguesas na Suíça ainda não tomaram posição publicamente.

Outro problema que se receia voltar é o dos trabalhadores estrangeiros clandestinos e explorados. “Me lembro de ter acompanhado concidadãos que ganhavam 2 ou 3 francos a hora e que tinham coragem de denunciar seus patrões”, lembra Antonio Da Cunha.

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Entrevista com Marília Mendes, UNIA.

Este conteúdo foi publicado em Entrevista com Marília Mendes, responsável dos associados portugueses do sindicato suíço UNIA.

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Paradoxo

Cunha, que também é professor e especialista de questões urbanas na Universidade de Lausanne, rebate alguns argumentos dos que aprovaram a limitação da imigração. Um deles era que os imigrantes da livre circulação ocupavam  empregos dos suíços. “A taxa de desemprego (3,5%) continua estável e uma das mais baixas da Europa. Portanto, o contingente ideal é o da livre circulação”.

Outra questão é que a imigração estaria exercendo muita pressão sobre os transportes e o setor imobiliário. “Os transportes públicos na Suíça são pontuais e estão entre os melhores do mundo; quanto à raridade de moradia nos grandes centros, ela pode ter se agravado, mas existe há pelo menos quinze anos”.

O paradoxo,  afirma Cunha, é que as regiões com maior número de imigrantes como a Suíça Ocidental e as grandes cidades, votaram contra a proposta de limitar a imigração.  Como então explicar o voto? “Existe um temor difuso na Europa, talvez ligado à mundialização, e alguns partidos se aproveitam dessa insegurança com um discurso de reconstrução da realidade, que no fundo é preocupante”, analisa Antonio Da Cunha.

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Portugueses votaram a favor

É sabido que dos portugueses com direito de voto na Suíça, um certo número votou por limitar a imigração. Como se explica esse fato? Manuel Beja considera “egoísta votar contra seus próprios concidadãos e que alguns privilegiados de hoje se esqueceram de toda a luta por uma vida digna.”

Antonio Da Cunha diz que constatou votos favoráveis “a minha volta”. Considera que as pessoas com certos privilégios e empregos estáveis tendem a se proteger da concorrência de outras comunidades”, mas que também pode ser um sinal de integração no país.

Encruzilhada

“A livre circulação é vantajosa para todos, mas agora a situação será mais complicada”, prevê Manuel Beja.  Ele compreende que haja “um certo descontentamento”, mas acredita que a Suíça saberá encontrar um consenso com a União Europeia.

“Estamos numa encruzilhada muito importante”, diz o antigo sindicalista, referindo-se aos três anos de prazo para que o governo e o Parlamento implementem as mudanças na política migratória previstas no plebiscito aprovado domingo. “Antes disso seria fundamental ouvir as comunidades de imigrantes na Suíça”,  espera Manuel Beja.   

Os portugueses formam a terceira comunidade estrangeira na Suíça, depois dos italianos e dos alemães. Veja a evolução do número de portugueses na Suíça, nos últimos cinco anos:

2008 – 196.800

2009 – 206.000

2010 – 212.600

2011 – 223.700

2012 – 237.900 

(Fonte: Secretaria Federal de Estatísticas)      

Terça-feira (11/2), diante da Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas do Parlamento Português,  o Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, referiu-se ao resultado do plebiscito aprovado domingo na Suíça:

“Uma palavra também sobre a Suíça e sobre o preocupante resultado do referendo sobre o regime de imigração.

 

Sendo um parceiro privilegiado e de longa data, representa um evidente retrocesso nas relações entre a União Europeia e a Suíça, colocando em causa os princípios da liberdade de circulação de pessoas, de capitais, de bens e serviços acordados.

 

Naturalmente, residindo na Suíça uma comunidade portuguesa muito importante, esta é uma situação que iremos acompanhar com especial atenção.”

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