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Olhar de fora: quanto vale o voto dos suíços do exterior?

Der Politologe Claude Longchamp steht vor einer Bildmontage mit dem Bundeshaus
Claude Longchamp e Sarah Bütikofer são autores da nossa série sobre as eleições de 2023 e os suíços do exterior. Illustration: Helen James / swissinfo.ch
Série Olhar de fora, Episódio 1:

Nos plebiscitos, as cidadãs e os cidadãos suíços que moram fora do país costumam ser mais leais às autoridades e às vezes fazem opções menos conservadoras. Nas últimas eleições, suas escolhas tiveram um viés mais ecológico. Seus votos, no entanto, raramente decidem eleições, embora isso já tenha ocorrido.

Assim votam os suíços do exterior nas eleições

Se suíças e suíços expatriados tivessem decidido sozinhos as eleições para o Conselho Nacional (Câmara do Deputados), em 2019, o Partido Verde (PV, na sigla em alemão) teriam saído do pleito como partido mais forte. 

Nos cantões, nos quais os votos dos expatriados foram contabilizados separadamente, o PV chegou a receber um percentual de quase 21% dos votos válidos, seguido pelo Partido do Povo Suíço (SVP) com 16% e pelo Partido Socialista (SP) com 15%. O Partido Democrata-Cristão (CVP) conseguiu 13% e o Partido Verde-Liberal (GLP) 9%.

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*Os dados relativos a 2011 e 2015 referem-se às respectivas pesquisas pós-eleitorais “Selects”. Em 2019, foi feita uma avaliação dos 12 cantões que contabilizam separadamente os votos de cidadãos e cidadãs da Suíça que vivem no exterior (aprox. 70% dos expatriados). Os dois procedimentos têm vantagens e desvantagens: o primeiro engloba toda a Suíça, mas tem limitações em função da proteção de dados. O segundo reproduz a contagem dos votos, mas é incompleto. 

Nas eleições para o Conselho Nacional em 2015 e 2011, o SP era a maior força entre os expatriados, estando nos pleitos dos dois anos em questão à frente do SVP. Abaixo ficaram o FDP e o GPS, seguidos do CVP e do GLP.

Esse resultado não foi muito diferente do balanço geral das eleições – embora com uma vantagem maior para os Verdes e menor para o SVP. 

Também nas últimas eleições para o Conselho Nacional, a tendência ecológica ficou mais evidente entre os expatriados: o PV ganhou quase 8% a mais de votos e o GLP 5% a mais. Os partidos mais bem votados anteriormente foram os que mais perderam neste último pleito, ou seja, o SP e o SVP.

Neste sentido, as eleições de 2019 foram mais voláteis e abertas ao novo entre os expatriados do que entre os suíços que vivem em seu país de origem.

O que significa “olhar de fora”?

Os cientistas políticos Sarah Bütikofer e Claude Longchamp acompanham o ano eleitoral de 2023 para a SWI swissinfo.ch a partir da perspectiva dos suíços que moram no exterior. 

Em dez contribuições, eles abordam temas que despertam especialmente o interesse dos eleitores que vivem fora da Suíça, procurando enxergar, sempre que possível, um pouco além do horizonte conhecido.

Quais as razões do comportamento eleitoral dos suíços do exterior?

Isso tem a ver com a composição de ambos os grupos. As suíças e os suíços que moram fora do país são, em número, um contingente menor – 800 mil pessoas a menos – que os que vivem em seu país de origem. E precisam sempre se registrar para poder votar, o que leva a mais um tipo de seleção no grupo. 

Por fim, a entrega da cédula eleitoral nem sempre funciona bem sem votação eletrônica, de forma que a participação no pleito fica em torno de cerca de 20% – um percentual claramente inferior à média de 45% de participação dos eleitores que vivem na Suíça.

Ou seja, um grupo extenso de suíços que vive em seu país de origem se contrapõe a um grupo menor de expatriados. A relevância deste segundo grupo só se dá quando seus integrantes tomam uma decisão claramente distinta daquela tomada por seus compatriotas que vivem no país de origem.

Várias pesquisas mostram ainda, com frequência, que entre os eleitores no exterior há um contingente maior de pessoas com escolaridade superior.

Isso muda também a perspectiva deste eleitorado específico sobre a própria Suíça. Viver no exterior amplia a riqueza de vivências e experiências. As tendências globais vão se tornando mais importantes e as tradições familiares vão se diluindo. As ligações regionais passam a ser menos decisivas para a escolha do voto e ganha importância a abertura para aquilo que o futuro exige.

E quanto aos plebiscitos?

As diferenças no caso de plebiscitos têm relação com isso. O estudo mais detalhado a respeito desse assunto, publicado em 2017 pelo Centro pela Democracia de Aarau (ZDA, na sigla em alemão), aponta: as suíças e os suíços que vivem no exterior votam, via de regra, de forma mais leal ao governo. Além disso, supõe-se que a propaganda pelo “não”, levada a cabo pela direita, costuma ser menos intensa fora do país que dentro dele.

Em 2013, na votação da “Iniciativa pela Família”, proposta pelo Partido Democrata-Cristão (CVP) e, um ano depois, na “Iniciativa de Imigração em Massa”, proposta pelo Partido Popular da Suíça (SVP), o comportamento eleitoral dos dois grupos resultou em posições divergentes. Os expatriados suíços aprovaram com 25 pontos percentuais a mais a iniciativa familiar do que os eleitores que vivem dentro do país. E os expatriados rejeitaram a iniciativa do SVP com 17 pontos percentuais acima da média dos eleitores que vivem na própria Suíça.

Não há, contudo, dados exatos sobre este comportamento eleitoral como um todo, visto que os resultados de votos de expatriados só são contabilizados separadamente em 12 cantões. Mesmo assim, isso abrange em torno de 70% dos grupos relevantes. Ao contrário do caso das eleições, ousou-se aqui uma extrapolação sobre os dados faltantes.

Para determinar oposições genéricas para além de um projeto único de lei, a divisão entre progressivo e conservador é mais apropriada do que a antítese econômica esquerda versus direita. Pois os expatriados tendem a se aproximar mais de um polo progressivo, enquanto os suíços que vivem em seu país de origem tendem mais ao conservadorismo. Antigamente, o conservadorismo tão tipicamente suíço podia ser também observado entre expatriados, dado o alto número de aposentados vivendo no exterior. Isso, contudo, mudou: entre os expatriados de hoje, os cidadãos na ativa são maioria. 

Por vezes, para além das visões distintas de mundo, reconhece-se também a influência de uma preocupação direta: os expatriados mostram-se menos críticos quando o assunto diz respeito às taxas destinadas ao financiamento de rádio e TV públicos, visto que, normalmente, eles não precisam pagá-las. Também no caso de questões de ordem social e de política de saúde, os interesses divergem com frequência.

Definindo o resultado das eleições?

É quando surge a questão: os expatriados podem mudar os rumos de uma eleição? A resposta é sim, mesmo que essa seja uma situação rara.

A condição essencial para que isso ocorra é ter um resultado eleitoral pouco acima ou pouco abaixo de 50%. Além disso, é preciso que o projeto de lei em questão, em um plebiscito, polarize preferencialmente entre progressivo e conservador ou desencadeie questões específicas de quem vive no exterior. 

Um exemplo foi a votação em 2015 sobre as já mencionadas taxas de rádio e TV. Ela foi aceita pelo eleitorado com uma vantagem mínima de 50,1%. Os expatriados defenderam com força a proposta parlamentar e isso facilitou a aprovação.

O mesmo ocorreu com a reforma da previdência em 2022 (conhecida como AHV21), que foi aprovada por apertados 50,7% dos votos. Também neste caso os expatriados se mantiveram mais fiéis ao governo, tendo sido seus votos determinantes para os resultados. 

O contrário ficou evidente no contexto da iniciativa de asilo do Partido Popular da Suíça (SVP). Ela recebeu um “sim” de 49,9% do eleitorado, com uma rejeição evidente entre os expatriados. O teor conservador e nacionalista da iniciativa não convenceu o eleitorado de fora do país.

Contudo, uma objeção geral permanece: em decisões tão apertadas, outros grupos, que também podem ter sido decisivos, precisam ser levados em consideração. Afinal, os suíços que vivem no exterior nem sempre são “culpados” de tudo!

Adaptação: Soraia Vilela

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