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Golpe de Estado abortado serve às ambições de Erdogan

Milhares de partidários ao presidente Erdogan tomaram as ruas do país para se opor ao golpe fomentado por uma parte dos militares Keystone

"Expurgação total", "início da faxina", "eliminação da oposição": a tentativa de golpe de uma parte das forças armadas turcas pode reforçar a deriva autoritária do presidente Erdogan, alerta a imprensa suíça nesta segunda-feira.

Um golpe rapidamente transformado em fiasco, como observa grande parte da imprensa suíça de hoje, 18 de julho.

“Um trágico golpe de opereta”, diz o Le Temps, de língua francesa. “Ao invés de provocar uma reação contra Erdogan, os golpistas criaram uma avalanche de solidariedade a favor do presidente”, diz o Berner Zeitung, de Berna. “É como se tivessem escrito o cenário perfeito para um golpe militar concebido para falhar propositalmente e fornecer um triunfo político para o homem que era para ser a vítima”, analisa o La Regione, da Suíça italiana.

Os turcos não querem mais uma dominação militar, mesmo entre a maioria dos cidadãos laicos. E isso apesar de toda a raiva que eles carregam contra Erdogan e o medo do terrorismo, diz o Neue Zürcher Zeitung (NZZ), de Zurique.

Uma opinião partilhada quase unanimemente pelos colunistas dos principais jornais suíços. “À primeira vista parece uma vitória da democracia. Mas a democracia turca não sairá fortalecida com este golpe fracassado. As tendências autoritárias que se desenvolveram nos últimos anos sob o regime de Erdogan serão reforçadas com esta tentativa de golpe”, analisa o Aargauer Zeitung, em alemão.

A mesma história no Tribune de Genève: “O golpe abortado de sexta-feira não parou de causar danos à democracia na Turquia. Os militares aventureiros que pensaram que podiam ‘restaurar a democracia’ no sangue são os principais responsáveis. Eles serão as primeiras vítimas. A tentativa deles vai realmente dar um golpe em uma instituição que ainda pretendia ser a herdeira da Turquia moderna e ocidentalizada desejada por Mustafa Kemal Atatürk, o fundador da República turca.”

O Bund e o Tages-Anzeiger temem o pior com relação à reação do presidente Erdogan. Como outros jornais suíços, esses dois jornais da região de língua alemã ressaltam o discurso de ódio proferido por Erdogan no domingo, que prometeu eliminar a oposição da mesma forma que se extirpa um tumor que teria se espalhado por todo o Estado.

O projeto de Erdogan, de fortalecer significativamente o poder do chefe de Estado através de uma reforma constitucional, tem agora grande probabilidade de se tornar realidade, diz o Corriere del Ticino, da região sul da Suíça.

No entanto, é difícil chegar a uma conclusão definitiva diante de uma situação opaca internacionalmente. Para o La Regione, “A megalomania, as obsessões, as incoerências e as ações políticas de Erdogan tornam qualquer previsão praticamente impossível.”

Suíça-Turquia

Cerca de 120.000 turcos vivem na Suíça e 3.700 suíços na Turquia. Em 2013, as exportações suíças para a Turquia chegaram a quase 2 bilhões de francos e as importações vindas da Turquia totalizaram 1,2 bilhões de francos.


Adaptação: Fernando Hirschy

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