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Saída da BMW da Fórmula 1 ameaça fábrica da Sauber

Peter Sauber (dir.) com Mario Theissen, diretor esportivo da BMW, em 2005. Keystone

Quatro anos após incorporar a equipe suíça Sauber, a BMW anuncia sua retirada da Fórmula 1, coloca em risco 430 empregos na Suíça e dispara um alarme no automobilismo.

Peter Sauber vendeu a fábrica em Hinwil, perto de Zurique, à montadora alemã em 2005 para garantir os empregos. Hoje ele é consultor e ainda detém uma participação de 20% na escuderia.

A decisão da BMW surpreendeu não só os 700 empregados da equipe na Alemanha e na Suíça, como também milhões de fãs do automobilismo. Em Hinwil, onde são construídos os chassis dos carros de Fórmula 1 da BMW-Sauber, trabalham 430 funcionários, entre eles especialistas de 17 nações. Outros 270 trabalham em Munique.

“Ainda não está claro quantos empregos serão cortados em Munique e Hinwil. A BMW vai tentar encontrar uma solução para os funcionários em Hinwil”, informou a montadora alemã nesta quarta-feira (29/7).

A fábrica é um cartão de visitas tecnológico do povoado de 9.800 habitantes nas montanhas do cantão de Zurique. “A decisão da BMW significa para nós uma grande perda de imagem. O desenvolvimento de carros de Fórmula 1 deu fama mundial ao nosso município”, disse o prefeito de Hinwill, Walter Bachofen.

Ele não acredita, porém, que a fábrica seja fechada. “Eles acabaram de investir 70 milhões de francos em um canal de vento”, diz Bachofen. Segundo o prefeito, a Sauber é um cliente importante de fornecedores da região e as consequências da decisão da BMW ainda não são previsíveis.

Em um comunicado por escrito divulgado em Hinwill, Peter Sauber, declarou: “Eu aceito e respeito a decisão, mas pessoalmente me é difícil compreendê-la”. Ele afirmou que tentará fazer tudo o que for possível para encontrar uma solução que possibilite a manutenção da equipe de alguma forma em Hinwil. “O ponto de partida para isso é muito difícil”, segundo Sauber, que teve o mérito de criar a única escuderia de Fórmula 1 da história da Suíça.

O porta-voz da equipe, Hanspeter Brack, disse à swissinfo.ch que é cedo demais para dizer se a equipe poderá encontrar uma maneira de continuar existindo, e não quis comentar sobre a futura viabilidade das operações na Suíça.

“O objetivo final é continuar com a equipe de alguma forma. A decisão só foi tomada ontem, por isso apenas começamos a explorar nossas opções”, disse ele.

Mudança de estratégia

O presidente da BMW, Norbert Reithofer, justificou a decisão com uma mudança de estratégia do engajamento da montadora no automobilismo. “O segmento prêmio é cada vez mais definido pela sustentabilidade e compatibilidade ambiental. Queremos ter um papel exemplar nessa área. Nossa relação com a Fórmula 1 não é tão importante nesse sentido”, declarou à imprensa em Munique.

Especialistas estimam que o orçamento anual da equipe BMW-Saber gira em torno dos 200 milhões de euros. “A Fórmula 1 não cabe mais no conceito da BMW. A retirada da montadora muniquense, num momento de crise econômica e esportiva, é um sinal de alarme que deve ser levado a sério por todo o setor, porque o exemplo da Baviera pode fazer escola. Ele pode arrastar toda a Fórmula 1 para o abismo se o argumento da sustentabilidade pegar”, escreve a revista alemã Stern.

O anúncio da retirada da BMW coincide com o momento da assinatura por outras equipes de um documento – o Concorde Agreement – pelo qual elas se comprometem a permanecer na Fórmula 1 no mínimo até 2012. A japonesa Honda se retirou no final do ano passado.

Plano quadrienal

Com a fusão das equipes BMW e Sauber, em 22 de junho de 2005, os responsáveis haviam elaborado um plano quadrienal. Apesar de ter atingido seus objetivos nos três primeiros anos e Robert Kubica ter conquistado a primeira vitória em um Grande Prêmio, em 8 de junho de 2008, a BMW-Sauber continua distante de um título. Na atual temporada, ela soma apenas oito pontos.

A BMW atuou na Fórmula 1 como fornecedora de motores, conquistando 19 vitórias em Grandes Prêmios e 33 pole positions: de 1982 a 1985 (8 vitórias com a Brabham), 1986 a 1987 (a última vitória com um motor turbo com a Benetton) e de 2000 a 2005 (10 vitórias com a Williams).

Em 1983, Nelson Piquet conquistou com um Brabham equipado com um BMW-Power o último título de Fórmula 1 com participação da montadora bávara. A BMW só passou a ter uma equipe própria de Fórmula 1 após incorporar a Sauber. Em três temporadas e meia, a equipe disputou 63 corridas, obteve uma vitória, um pole position, subiu 16 vezes ao pódio e somou 280 pontos.

Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch (com colaboração de Matthew Allen) e agências

A história da escuderia suíça Sauber começou em 14 de março de 1993, no GP da África do Sul. Os dois pilotos eram o finlandês JJ Letho e o austríaco Karl Wendlinger. O carro era o C12.

Em sua forma original, a equipe chegou seis vezes ao pódio, a primeira vez em 1995, em Monza, com o piloto Heinz-Harald Frentzen. Em 2001, ficou em 4° na classificação dos construtores.

Em 22 de junho de 2005, Peter Sauber vendeu sua equipe à BMW (a nova equipe ficou em 2° lugar entre os construtores em 2007), mas ainda hoje detém uma participação de 20% e é consultor da escuderia.

Peter Sauber, “Suíço do Ano de 2005”, tornou-se conhecido como o melhor revelador de talentos no automobilismo. Muitos dos atuais e ex-pilotos estrearam na Fórmula 1 pela Sauber: por exemplo, Michael Schumacher, Heinz-Harald Frentzen, Nick Heidfeld, Kimi Räikkönen e Felipe Massa.

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