Em Portugal, país de origem do terceiro maior grupo migratório na Suíça, representantes da economia manifestam preocupação com o resultado do referendo na Suíça sobre imigração. Em entrevista à swissinfo.ch, Gregor Zemp, da Câmara de Comércio Suíça, defende a decisão nas urnas, mas alerta para as consequências.
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Alexander Thoele é de origem alemã e brasileira e ingressou na swissinfo.ch em 2002. Nascido no Rio de Janeiro, concluiu seus estudos de jornalismo e informática em Brasília e Stuttgart.
As manchetes dos jornais só falam sobre um assunto: o voto do eleitor suíço no plebiscito de 9 de janeiro de 2014, no qual foi aprovada a limitação da imigração na Suíça através de um sistema de quotas, como já ocorreu no passado.
Enquanto o governo federal discute uma proposta de implementação do projeto de lei na Constituição helvética, não apenas migrantes acompanham com atenção o desenrolar dos fatos. O suíço Gregor Zemp, radicado há treze anos em Portugal, manifestou pesar pela decisão dos seus compatriotas. Como secretário-geral da Câmara de Comércio e Indústria Suíça em Portugal, ele leva em consideração os riscos para o relacionamento econômico entre os dois países. Todavia defende o sistema de democracia direta vigente na Suíça.
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swissinfo.ch: Como o senhor vê o resultado do plebiscito que aprovou a iniciativa popular “Contra a imigração em massa”?
Gregor Zemp: Acho preocupante. É claro que isso pode colocar em questão muita coisa já alcançada em nível de colaboração internacional e até para os cidadãos. Agora não sabemos se os tratados internacionais firmados com a União Europeia podem ser cancelados, mas isso poderá ter um grande impacto no dia-a-dia e também em cima do comércio. Essa é a minha opinião. Por outro lado, o plebiscito expressa a opinião dos suíços. Sou um democrata e um grande fã do sistema da democracia direta. Portanto, penso que se o povo assim decidir, está decidido. Embora não tenha gostado do resultado, eu o respeito. Esse voto mostra simplesmente que existem preocupações concretas.
swissinfo.ch: Como os associados da Câmara reagiram? Como o senhor viveu os dias seguintes ao plebiscito?
G.Z.: Ainda não tivemos reações dos associados. Publicamos no nosso site um editorial. É uma reação à votação. Houve um ou outro chamado de jornalista. Também recebemos telefonemas de portugueses, alemães ou outras pessoas interessadas no tema. Mas ninguém sabe exatamente que vai ocorrer e, por isso, ainda não houve nenhuma consequência direta prática, mas que poderá ocorrer no futuro.
swissinfo.ch: Esse voto poderá prejudicar os investimentos portugueses na Suíça?
G.Z.: Acho que a Suíça vai ficar ainda mais fora dos circuitos. Já temos agora muitos problemas para exportar as mercadorias. Muitas empresas tentam evitar a Suíça, pois há muitas complicações. Por exemplo, muitos caminhões que nem entram no país, pois é preciso tirar os bilhetes na alfândega. Isso vai se reforçar ainda mais.
swissinfo.ch: E como fica a imagem da Suíça? Ela piorou?
G.Z.: Eu não acho! Também temos pessoas que entenderam melhor a posição de querer controlar melhor a imigração. Porém a Suíça continua a gozar de uma imagem muito positiva. Os produtos suíços são considerados aqui como sempre de qualidade. Não acho que vai haver muito impacto. Mas talvez na prática as empresas possam evitar a Suíça devido às suas complicações, como já falei anteriormente. As pessoas vão começar a dizer ‘ô pá, a Suíça traz muita chatice, vamos evitá-la e então vamos para a Alemanha, Itália, França e outros mercados melhores. A Suíça não compensa tanto esforço.
swissinfo.ch: O senhor é suíço e já vive há muito tempo em Portugal. Como sua família viveu a votação de 9 de fevereiro?
G.Z.: Minha família foi contra a iniciativa. Eles estavam bastante preocupados, pois acompanhavam toda a luta política. E nós aqui, distantes, não acompanhamos todos os programas de televisão. Também a Câmara não participa da política, já que somos exclusivamente uma organização econômica. Pessoalmente também acho que haverá problemas. Lembro-me que quando cheguei em Portugal – eu nasci e cresci na Suíça – há trezes anos, eu precisei de visto e de tomar vacinas já que a Suíça era um país terceiro, que não fazia parte da União Europeia. Assim fui tratado como um cidadão de um país qualquer. Eu tive de esperar numa fila por toda a manhã para receber a permissão de residência. Depois a situação melhorou muito com os tratados bilaterais, onde eu passei a ser quase considerado como um cidadão europeu.
swissinfo.ch: Como a União Europeia poderá reagir, em sua opinião?
Agora o meu receio é que as coisas voltem para trás. Se a Suíça se isolar e a União Europeia decidir cancelar os tratados, então em breve poderei até ter que pedir todo tempo um visto, com os trâmites que isso implica. Mas eu também posso obter a nacionalidade portuguesa porque a minha mulher é portuguesa. Estou casado há mais de dez anos e cumpro todos os requisitos. A minha primeira reação pessoal foi essa: vou pedir a cidadania portuguesa para evitar qualquer futuro problema neste sentido.
Portugal é um parceiro econômico tradicional da Suíça, especialmente devido à importância da comunidade portuguesa na Suíça. Todavia o intercâmbio com Portugal permanece em baixo nível (0,4% do comércio exterior suíço em 2012). O setor tradicional de farmacêuticos domina as exportações suíças em Portugal (40%), seguido pelo setor de máquinas e relojoaria, cada um com uma parte de 14%.
As exportações suíças em 2013 (janeiro até novembro) foram da ordem de 1,01 bilhões de francos. Importações: 934 milhões de francos.
A Suíça importa de Portugal veículos, aviões, produtos têxteis, agrícolas e máquinas.
Segundo o Banco Nacional Suíço, o estoque de investimentos suíços em Portugal se eleva a 1,7 bilhões de francos. Esses investimentos representam 8.800 empregos. Segundo o Banco de Portugal, a Suíça era em 2012, com uma parte de 5,8%, o 7° maior investidor direto estrangeiro no país. As principais multinacionais suíças estão presentes em Portugal, especialmente no setor químico, farmacêutico, alimentar, de máquinas, produtos têxteis e transportes.
A Secretaria de Estado para Economia (seco, na sigla em alemão) não dispõe de informações sobre investimentos portugueses na Suíça.
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