Em Portugal, país de origem do terceiro maior grupo migratório na Suíça, representantes da economia manifestam preocupação com o resultado do referendo na Suíça sobre imigração. Em entrevista à swissinfo.ch, Gregor Zemp, da Câmara de Comércio Suíça, defende a decisão nas urnas, mas alerta para as consequências.
Este conteúdo foi publicado em
7 minutos
Alexander Thoele é de origem alemã e brasileira e ingressou na swissinfo.ch em 2002. Nascido no Rio de Janeiro, concluiu seus estudos de jornalismo e informática em Brasília e Stuttgart.
As manchetes dos jornais só falam sobre um assunto: o voto do eleitor suíço no plebiscito de 9 de janeiro de 2014, no qual foi aprovada a limitação da imigração na Suíça através de um sistema de quotas, como já ocorreu no passado.
Enquanto o governo federal discute uma proposta de implementação do projeto de lei na Constituição helvética, não apenas migrantes acompanham com atenção o desenrolar dos fatos. O suíço Gregor Zemp, radicado há treze anos em Portugal, manifestou pesar pela decisão dos seus compatriotas. Como secretário-geral da Câmara de Comércio e Indústria Suíça em Portugal, ele leva em consideração os riscos para o relacionamento econômico entre os dois países. Todavia defende o sistema de democracia direta vigente na Suíça.
Mostrar mais
Mostrar mais
Portugueses preocupados com futuras mudanças
Este conteúdo foi publicado em
Quarta-feira (12) o governo suíço fixou um prazo até junho para apresentar um plabno de aplicação da iniciativa contra a imigração em massa, aprovada domingo em votação popular por uma diferença de 20 mil votos. O passo seguinte será a elaboração de uma lei de aplicação pelo Ministério da Justiça. O texto da iniciativa prevê um prazo de…
swissinfo.ch: Como o senhor vê o resultado do plebiscito que aprovou a iniciativa popular “Contra a imigração em massa”?
Gregor Zemp: Acho preocupante. É claro que isso pode colocar em questão muita coisa já alcançada em nível de colaboração internacional e até para os cidadãos. Agora não sabemos se os tratados internacionais firmados com a União Europeia podem ser cancelados, mas isso poderá ter um grande impacto no dia-a-dia e também em cima do comércio. Essa é a minha opinião. Por outro lado, o plebiscito expressa a opinião dos suíços. Sou um democrata e um grande fã do sistema da democracia direta. Portanto, penso que se o povo assim decidir, está decidido. Embora não tenha gostado do resultado, eu o respeito. Esse voto mostra simplesmente que existem preocupações concretas.
swissinfo.ch: Como os associados da Câmara reagiram? Como o senhor viveu os dias seguintes ao plebiscito?
G.Z.: Ainda não tivemos reações dos associados. Publicamos no nosso site um editorial. É uma reação à votação. Houve um ou outro chamado de jornalista. Também recebemos telefonemas de portugueses, alemães ou outras pessoas interessadas no tema. Mas ninguém sabe exatamente que vai ocorrer e, por isso, ainda não houve nenhuma consequência direta prática, mas que poderá ocorrer no futuro.
swissinfo.ch: Esse voto poderá prejudicar os investimentos portugueses na Suíça?
G.Z.: Acho que a Suíça vai ficar ainda mais fora dos circuitos. Já temos agora muitos problemas para exportar as mercadorias. Muitas empresas tentam evitar a Suíça, pois há muitas complicações. Por exemplo, muitos caminhões que nem entram no país, pois é preciso tirar os bilhetes na alfândega. Isso vai se reforçar ainda mais.
swissinfo.ch: E como fica a imagem da Suíça? Ela piorou?
G.Z.: Eu não acho! Também temos pessoas que entenderam melhor a posição de querer controlar melhor a imigração. Porém a Suíça continua a gozar de uma imagem muito positiva. Os produtos suíços são considerados aqui como sempre de qualidade. Não acho que vai haver muito impacto. Mas talvez na prática as empresas possam evitar a Suíça devido às suas complicações, como já falei anteriormente. As pessoas vão começar a dizer ‘ô pá, a Suíça traz muita chatice, vamos evitá-la e então vamos para a Alemanha, Itália, França e outros mercados melhores. A Suíça não compensa tanto esforço.
swissinfo.ch: O senhor é suíço e já vive há muito tempo em Portugal. Como sua família viveu a votação de 9 de fevereiro?
G.Z.: Minha família foi contra a iniciativa. Eles estavam bastante preocupados, pois acompanhavam toda a luta política. E nós aqui, distantes, não acompanhamos todos os programas de televisão. Também a Câmara não participa da política, já que somos exclusivamente uma organização econômica. Pessoalmente também acho que haverá problemas. Lembro-me que quando cheguei em Portugal – eu nasci e cresci na Suíça – há trezes anos, eu precisei de visto e de tomar vacinas já que a Suíça era um país terceiro, que não fazia parte da União Europeia. Assim fui tratado como um cidadão de um país qualquer. Eu tive de esperar numa fila por toda a manhã para receber a permissão de residência. Depois a situação melhorou muito com os tratados bilaterais, onde eu passei a ser quase considerado como um cidadão europeu.
swissinfo.ch: Como a União Europeia poderá reagir, em sua opinião?
Agora o meu receio é que as coisas voltem para trás. Se a Suíça se isolar e a União Europeia decidir cancelar os tratados, então em breve poderei até ter que pedir todo tempo um visto, com os trâmites que isso implica. Mas eu também posso obter a nacionalidade portuguesa porque a minha mulher é portuguesa. Estou casado há mais de dez anos e cumpro todos os requisitos. A minha primeira reação pessoal foi essa: vou pedir a cidadania portuguesa para evitar qualquer futuro problema neste sentido.
Portugal é um parceiro econômico tradicional da Suíça, especialmente devido à importância da comunidade portuguesa na Suíça. Todavia o intercâmbio com Portugal permanece em baixo nível (0,4% do comércio exterior suíço em 2012). O setor tradicional de farmacêuticos domina as exportações suíças em Portugal (40%), seguido pelo setor de máquinas e relojoaria, cada um com uma parte de 14%.
As exportações suíças em 2013 (janeiro até novembro) foram da ordem de 1,01 bilhões de francos. Importações: 934 milhões de francos.
A Suíça importa de Portugal veículos, aviões, produtos têxteis, agrícolas e máquinas.
Segundo o Banco Nacional Suíço, o estoque de investimentos suíços em Portugal se eleva a 1,7 bilhões de francos. Esses investimentos representam 8.800 empregos. Segundo o Banco de Portugal, a Suíça era em 2012, com uma parte de 5,8%, o 7° maior investidor direto estrangeiro no país. As principais multinacionais suíças estão presentes em Portugal, especialmente no setor químico, farmacêutico, alimentar, de máquinas, produtos têxteis e transportes.
A Secretaria de Estado para Economia (seco, na sigla em alemão) não dispõe de informações sobre investimentos portugueses na Suíça.
Como evitar que a inteligência artificial seja monopolizada?
Como evitar o monopólio da IA? Com o potencial de resolver grandes problemas globais, há risco de países ricos e gigantes da tecnologia concentrarem esses benefícios. Democratizar o acesso é possível?
Você já utilizou ferramentas de inteligência artificial no trabalhho? Elas o ajudaram ou, ao contrário, causaram mais estresse, aumentaram a carga de trabalho ou até mesmo resultaram na perda do emprego?
Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.
Consulte Mais informação
Mostrar mais
Voto sobre imigração desestabiliza mercado de trabalho
Este conteúdo foi publicado em
A federação dos sindicatos suíços teme uma crise no mercado de trabalho da Suíça se a União Europeia decidir retaliar o país bloqueando outros acordos bilaterais. O banco Credit Suisse estima que pelo menos 80 mil empregos deixarão de ser criados nos próximos três anos por causa da incerteza que deve frear os investimentos na…
Este conteúdo foi publicado em
“Claramente, esse voto não deu o bom tom para o início das negociações de um acordo institucional”, declarou a porta-voz da Comissão Europeia, Pia Ahrenkilde. Os embaixadores dos 28 países-membros da UE deveriam aprovar a abertura dessas negociações com a Suíça quinta-feira (13). Eles mudarão de opinião? O Serviço de Ação Exterior da UE não…
Este conteúdo foi publicado em
“Foi por pouco, mas foi”, resume o Público o resultado do plebiscito votado na Suíça em 9 de fevereiro, no qual foi aprovada por uma maioria apertada uma iniciativa popular (projeto de mudança constitucional) que determinou a reintrodução do sistema de quotas para migrantes europeus. No editorial, o articulista do jornal português é lapidar: “O…
Este conteúdo foi publicado em
As primeiras tentativas de limitar a população estrangeira foram no período de grande crescimento econômico do pós-guerra, quando a Suíça enfrentava o maior afluxo migratório de sua história. O crescimento rápido da economia nacional, sobretudo do setor industrial, atraiu centenas de milhares de trabalhadores da Europa Meridional, principalmente da Itália e da Espanha. O governo…
Este conteúdo foi publicado em
A iniciativa popular “Contra a imigração em massa” foi proposta pelo Partido do Povo Suíço (SVP, na sigla em alemão). Aprovada por uma maioria apertada (50,34% do votos, diferença de 20 mil votos), ela prevê que a imigração seja limitada através da reintrodução de contingentes anuais. Estes haviam sido suspensos após a entrada em vigor dos acordos bilaterais com a União Europeia,…
Este conteúdo foi publicado em
“A livre circulação foi idealizada para permitir que os cidadãos europeus trabalhassem na Suíça. Hoje aumenta o número de pessoas que chegam ao nosso país fugindo da crise e sem dispor de um contrato de trabalho, sendo que muitos também acabam ficando depois de serem demitidos dos seus empregos. E isso à custa do nosso…
Trabalhador sazonal: um status que renasce das cinzas
Este conteúdo foi publicado em
“Para setores como a construção ou a agricultura deveríamos reintroduzir o status de trabalhador sazonal. Era um sistema muito bom, mas que foi, infelizmente, enfraquecido pelos políticos e depois completamente suprimido. Com a nossa iniciativa não haverá mais nenhuma garantia de instalação, reagrupamento familiar ou beneficiamento do sistema de seguro-desemprego”. Com suas declarações feitas nas…
Este conteúdo foi publicado em
Em 31 de dezembro de 2012, o cantão de Friburgo contava 21 mil portugueses, 35% do total de estrangeiros de uma população de 291mil pessoas. Nos últimos dois anos, 2 mil lusitanos chegaram à Suíça, por ano. Entre eles, cada vez mais adolescentes que não são fluentes em francês e devem frequentar as escolas do município.…
Este conteúdo foi publicado em
Maria João, de 38 anos, e Jorge Gonçalves, de 43, querem abandonar o quadro da função pública portuguesa, para ir trabalhar para a Suíça. Só estão à espera que o telefone toque, com a notícia de que há uma vaga para enfermeira num cantão francófono. Quando souber o destino da mulher, Jorge decidirá o seu…
25 anos a fomentar os negócios entre Suíça e Portugal
Este conteúdo foi publicado em
Mas, com o tempo, adaptou-se e hoje, com maior abertura às empresas portuguesas, é uma plataforma de referência bilateral. A CCISP procura que os melhores parceiros se conheçam e assim se consiga um casamento entre empresários que procuram dinamizar investimentos num país que não é o deles. Quer a iniciativa surja de uma empresa suíça…
Este conteúdo foi publicado em
Rosita Fibbi, professora de Universidade de Neuchâtel, foi a coordenadora da pesquisa. Como especialista em migração, ela acompanha de perto a imigração portuguesa e de outras colônias. Entrevista swissinfo.ch. Em seu escritório localizado no recém-inaugurado prédio “Géopolis”, da Universidade de Lausanne, Rosita Fibbi puxa a cadeira para falar da sua especialidade. Originária de Ancona, Itália,…
Este conteúdo foi publicado em
Fé, tradição e cultura levam milhares de imigrantes lusófonos, sobretudo portugueses, a participar anualmente de uma peregrinação ao mosteiro beneditino de Einsiedeln, no coração da Suíça. (Texto e fotos: Geraldo Hoffmann/swissinfo)
Este conteúdo foi publicado em
A fotógrafa expõe em seu livro “In der Heimat ihrer Kinder – Tamilen in der Schweiz”, o microcosmo cultural dos tâmeis na Suíça entre 2002 e 2004.
Este conteúdo foi publicado em
Recentemente publicado,A Galiza na Suíça. Aspectos de uma emigração aborda os 50 anos de presença galega. As fotos testemunham essa nova vida para os imigrantes que, muitos deles, fugiram das privações da ditadura franquista. (Todas as fotos são da Coleção Xurxo Martinez Crespo)
Este conteúdo foi publicado em
Entre 1892 e 1954, mais de 12 milhões de pessoas entraram nos EUA através do Centro de Registro Ellis Island, perto de Nova York. Uma parte do compelxo de edifícios hoje abriga um museu que documenta a imigração para os Estados Unidos. (Fotos: Ellis Island e Dale Bechtel)
Este conteúdo foi publicado em
A exposição intitulada “Migração em imagens – um inventário” propõe ser uma mostra bem-humorada ou até perplexa sobre o quotidiano dos imigrantes na Suíça. O livro, que exibe fotos e contribuições de jornalistas e cientistas, foi publicado em 2006 na editora “Hier und Jetzt, de Baden.
Não foi possível salvar sua assinatura. Por favor, tente novamente.
Quase terminado… Nós precisamos confirmar o seu endereço e-mail. Para finalizar o processo de inscrição, clique por favor no link do e-mail enviado por nós há pouco
Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!
Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.