Suíços rejeitam imposição americana
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Os jornais do país passaram as últimas semanas comentando cada passo de um polêmico projeto de lei imposto pelos Estados Unidos que permitiria que os bancos suíços ajudassem a Receita Federal americana a reprimir suspeitas de fraudes fiscais.
A imprensa suíça refletiu na quinta-feira, 20 de junho, uma grande incerteza em torno da rejeição do projeto de lei pela Câmara dos Deputados, apesar da aprovação do Senado.
Para o jornal de Zurique Neue Zürcher Zeitung (NZZ), a decisão significa em primeiro lugar que os bancos que enfrentam problemas com a justiça americana vão ficar sem uma muleta legal para sustentá-los. Dito isto, o periódico apontou que os bancos suíços foram os principais responsáveis por brincar com o fogo no mercado financeiro americano.
Para o La Liberté, de Friburgo, a decisão parecia óbvia desde o início: deixar os bancos resolver seus problemas por si mesmos.
Mas para o Tagesanzeiger, de Zurique, a questão não é tão simples. O jornal considera que a Câmara deixou a sobrevivência de muitos bancos suíços nas mãos das autoridades fiscais dos EUA, lembrando que no ano passado o Banco Wegelin foi o primeiro estabelecimento a pagar o preço por suas atividades ilícitas.
“Para uma semana de retórica, os dois partidos que apoiam os bancos, o Partido Radical e o Partido do Povo Suíço, tomaram um risco incomensurável”, acrescentou.
O tabloide Blick apontou que “muitos políticos estão agora suando sangue e se perguntando se a rejeição não vai levar a mais sofrimento”.
No entanto, o NZZ ressaltou que ninguém sabe se aceitar o projeto de lei teria significado o fim dos problemas fiscais que azedam as relações da Suíça com os Estados Unidos nos últimos anos.
Questão de honra
Uma série de jornais disse que o parlamento parecia decidido a defender a honra do país. Para o Tagesanzeiger, a Câmara dos Deputados estava certa ao dizer que o projeto de lei foi ditado pela pressão externa, além de ser um ataque contra o orgulho, a liberdade e a soberania da Suíça.
Para o La Liberté, o voto foi contra um encurralamento imposto pela superpotência americana e também contra o país ter que pagar, mais uma vez, a conta das atividades de banqueiros sem escrúpulos.
O editorialista do NZZ ressaltou que a pressão imposta por Washington e aceita pelo governo suíço não ajudou. “O limite para poder discutir a legislação de forma sério foi atingido”, acrescentou.
Para o Tagesanzeiger, teria sido melhor decidir a questão com a cabeça fria ai invés de ter levado para o lado da honra.
“Capitular é uma arte”, defende o jornal. “A Câmara dos Deputados não tem capacidade para isso, o que vai custar caro para o país”.
O La Liberté escreveu que os parlamentares suíços se colocaram em uma situação desconfortável, defendendo sua honra e imediatamente aceitando uma declaração afirmando que não houve má vontade com os EUA.
“É como pedir desculpa logo depois de bater em um amigo – com exceção que é improvável que o gigante norte-americano tenha se sentido esnobado por um anão de jardim”, acrescentou.
O editorialista chamou o parlamento suíço de covarde ao lavar as mãos das consequências do voto, pedindo ao governo que ajudasse os bancos a enfrentar os futuros problemas com a justiça americana.
A ministro da Fazenda, Eveline Widmer-Schlumpf, já declarou que as autoridades farão tudo o que puderem para suavizar o golpe da rejeição da lei. No entanto, o comissário de proteção de dados suíço já avisou que vai bloquear qualquer transmissão de dados bancários que não seja legal.
Para o NZZ, o que é necessário agora é liquidar os erros do passado com os EUA. “Mas os principais atores do setor financeiro suíço devem aprender, novamente, a serem responsáveis por seus próprios problemas. Não é mais aceitável procurar ajuda do parlamento para resolver seus erros”, acrescentou.
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