Twitter é a outra face do jornalismo
Os protestos no Irã reabriram o debate sobre o papel de twitter no desafio à censura e impõe uma redefinição do jornalismo.
Mas até onde se pode expandir o papel das redes sociais e qual é o limite?
Se chama Twitter, vem dos Estados Unidos e permite transmitir em 140 toques a atualidade em tempo real. Um diário da vida cotidiana que até pouco tempo atrás se limitava a mensagens quase banais de gente ansiosa e que precisa estar sempre conectada ao mundo.
Mas quando, em abril, jovens moldávios saíram às ruas, Twitter se transformou de uma simples plataforma de troca de informações em um instrumento político. O cenário se repetiu no Irã quando centenas de milhares de pessoas protestaram contra os resultados das eleições presidenciais. Elas usaram o portal como canal de difusão para suas reivindicações.
“De um lado, o Twitter permitiu ao mundo ter informações de primeira mão, embora dificilmente verificáveis”, explica Nicole Simon, autora de um livro sobre o serviço. “De outro, proporcionou aos iranianos a possibilidade de compartilhar suas opiniões com o resto do mundo e de chamar a atenção para o que estava acontecendo em seu país.”
Com as redes de televisão censuradas e o controle da internet, o Twitter foi o único meio de comunicação a desafiar o controle do governo iraniano. Já que para funcionar não precisa de um endereço internet, pois as mensagens (tweet) podem ser enviadas por celular.
“É uma maneira diferente de comunicação e que permite saltar a barreira da censura que alguns regimes, como o iraniano e o chinês exercem. Só por isso já traz um resultado excepcional”, continua Nicole.
Somos todos jornalistas?
Ao ritmo de diversas mensagens por segundo, Twitter for a única voz dos jovens iranianos em direção ao ocidente. Frases de solidariedade e dor, raiva reprovação chegavam com uma rapidez tal que era impossível não apenas verificar as informações, mas também lembrar do conteúdo das mensagens. As línguas são diversas, mas com o denominador comum de uma visão virtual da vida real.
Para a informação, trata-se de verdadeira mudança de paradigma. “Antes o jornalista se satisfazia de sentar na escrivaninha e esperar a notícia chegar pelos meios habituais. Agora deve ser mais seletivo e selecionar as fontes como atenção redobrada”, explica Nicole.
Essa opinião é compartilhada por Paolo Attivissimo, que concilia as paixões pelo jornalismo e pelas novas tecnologias. “Não se pode mais usar como fonte de informação apenas os jornais e a televisão. Os cronistas precisam levar em conta a concorrência. O cidadão comum comporta-se segundo as regras da deontologia. Pode ser uma fonte fidedigna e transformar-se em repórter.”
Cuidado na verificação
Verificar as fontes continua a ser o principal problema das redes sociais, sobretudo Twitter que garante o anonimato aos seus usuários. “É preciso ter cautela com as informações que chegam de fontes independentes”, admite Paolo Attivissimo. “Muitas pessoas ainda não adquiriram o hábito de julgar a qualidade da informação que chega pela internet e a mídia.”
No Twitter ninguém está disposto a verificar e cabe ao internauta controlar a veracidade da informação e a credibilidade das fontes. É fato que Twitter permitiu divulgar as imagens da morte de Neda, mas também circulou a informação improvável da prisão domiciliar o líder da oposição Hussein Musavi ou o número de participantes das manifestações, como relatado no site True/Slant.
Fenômeno específico do século 21, para Paolo Attivissimo as redes sociais oscilam entre a promoção de um jornalismo cidadão e um ‘grande bar de fofocas’.
“É fácil sentar-se diante do computador e dar sua opinião, mantendo-se no anonimato, dizer o que quiser porque você sabe que não vai acontecer nada. São duas faces da mesma moeda: conforme o contexto pode tratar-se de uma discussão irrelevante ou de uma situação social e política.”
Por uma maior liberdade de informação
Se a evolução tecnológica consegue contornar a censura e obter a simpatia da comunidade internacional, não significa que sozinha possa mudar um regime político.
“É simplesmente um canal que facilita a revolução de baixo para cima. Mas para mudar o sistema é necessário que as palavras da rede sejam transformadas em fatos”, ressalta Attivissimo. Se o interesse pelos protestos no Irã diminui na internet, internamento muitos jovens continuam a morrer.
“Além de demonstrar o singular instrumento que é o nTwitter, esses acontecimentos servem de lição a qualquer regime que pretenda controlar o fluxo de informações que chega a seus cidadãos”, prossegue Attivissimo. “Isso vale não somente para os regimes totalitários, mas também para os governos considerados democráticos como a Inglaterra, que censura algumas informações do estrangeiro para proteger supostos segredos de Estado. Ou as fotos ‘picantes’ de Berlusconi que foram proibidas na Itália e publicadas por El Pais.”
A conclusão é clara, segundo Paolo Attivissimo. “Acabou a época em que se podia controlar a informação e os governos ainda não se deram conta. Mesmo se isso não causará uma revolução política, não há dúvida que será cada vez mais difícil esconder ou negar informações quando tudo acaba on line em tempo real.
Stefania Summermatter, swissinfo.ch
Fundado em março de 2006 por Jack Dorsey e Evan Williams, Twitter tinha um milhão de usuários em abril de 2008 e 17 milhões um ano depois.
Em novembro de 2008, os dois jovens norte-americanos recusaram uma oferta de Facebook de 500 milhões de dólares.
A empresa tinha 29 funcionários no final de fevereiro de 2009.
O serviço gratuito permite enviar mensagens com 140 toques, no máximo.
A primeira etapa consiste em criar uma conta no site twitter.com e escolher um pseudônimo, visível para todos os outros usuários.
É possível encontrar uma pessoa através do pseudônimo ou fazendo uma busca por tema.
Twitter está pensando em criar um sistema de identificação seguro dos usuários para evitar manipulações.
Numerosos sites (Twhirl, Twibble) permitem acompanhar os “tweets”.
Também é possível se comunicar através de telefone celular.
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