Valais vota “não” aos parques solares alpinos: o que isso significa para a Suíça?
Os eleitores do cantão de Valais rejeitaram a rápida expansão de parques solares em seus pastos e picos de montanhas ensolarados. Segundo a mídia suíça, isso complica a implementação de projetos locais, mas também pode ter consequências maiores para a política energética nacional.
No dia 10 de setembro, 54% do eleitorado rejeitou um decreto, aprovado pelo parlamento de Valais, destinado a apoiar a legislação federal “Solar Express”, que tem como objetivo simplificar e acelerar a construção de grandes parques solares nos Alpes. O comparecimento às urnas foi de 35,72%.
Os seus opositores – uma aliança de ambientalistas e apoiadores do Partido Verde (esquerda) e do Partido do Povo Suíço (direita conservadora) – transformaram essa questão legal e processual em um teste mais amplo da opinião pública com uma simples pergunta: você é a favor ou contra os parques solares alpinos?
O resultado envia várias mensagens claras, diz a imprensa suíça.
“A votação confirma que o cantão montanhoso – com exceção da região do Alto Valais, de língua alemã, e de alguns outros municípios que votaram ‘sim’– não quer grandes parques solares alpinos”, disse Le Nouvelliste, um jornal regional do Valais.
O jornal também acrescentou que, nos Alpes, os ideais ambientalistas e o conservadorismo se uniram sob o lema “não toque nas montanhas antes de aproveitar ao máximo a infraestrutura existente”.
O jornal Le Temps, por sua vez, disse que os cidadãos do Valais votaram “com o coração e com os olhos” e enviaram uma mensagem clara às autoridades federais em Berna: “não há solução milagrosa para acelerar a transição energética”.
Como parte do esforço do governo federal para desenvolver rapidamente fontes de energia renováveis, a Solar Express, aprovada pelo parlamento no ano passado, visa acelerar a construção de grandes sistemas fotovoltaicos nos Alpes durante uma fase de transição que vai até o final de 2025. Há subsídios generosos em jogo. Surgiram cerca de 40 a 50 propostas de projetos, que estão em diferentes estágios de aprovação e implementação. Muitos deles estão planejados para a ensolarada região de Valais, no sudoeste da Suíça.
Processo de aprovação mais longo
Apesar do resultado da votação, projetos de parques solares alpinos ainda poderão avançar no Valais. Mas eles provavelmente enfrentarão uma maior oposição e um processo de aprovação mais longo. Eles também correm o risco de não obter fundos federais.
A rejeição mostra claramente que “a euforia inicial acabou e a corrida do ouro da política energética desacelerou por enquanto”, disse o Neue Zürcher Zeitung (NZZ).
“O Valais de língua francesa, que é mais populoso e considerado mais progressista, está agora atrasando a Solar Express”, declarou o jornal.
A decisão do Valais não tem impacto direto em outras regiões suíças. Cada cantão define como vai implementar a estratégia solar decidida por Berna, às vezes na esfera municipal, em mesas redondas ou de acordo com a legislação de planejamento local.
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Mas, após o resultado no Valais, outros cantões certamente levantarão questões sobre a lógica de instalar parques solares nas montanhas, a estratégia solar da Suíça e seu lugar na transição energética de modo geral.
“O voto de ‘não’ à Solar Express não é um não à produção de energia solar alpina em si, mas ainda assim representa um contratempo para o abastecimento de energia em toda a Suíça”, escreveu o Tages-Anzeiger.
“Para garantir a segurança do abastecimento, o país depende da rápida expansão da energia solar, especialmente na região alpina. O parlamento federal pensa da mesma forma e, por isso, aprovou às pressas uma lei de emergência nacional no outono de 2022. Vemos agora que o ritmo está rápido demais para muitas pessoas de Valais.”
Uma questão que surge agora é se o ministro da Energia, Albert Rösti, que foi fundamental para apressar a aprovação da legislação Solar Express no parlamento, mudará sua abordagem, disse o NZZ.
“Sua principal meta provavelmente continuará sendo conseguir aprovar, na sessão de outono, o decreto para um abastecimento seguro de eletricidade através de energias renováveis. Rösti está nitidamente tentando salvar os vários compromissos entre o fornecimento de energia e a proteção ambiental na lei – uma tarefa difícil. Até mesmo a expansão da energia hidrelétrica está sendo ameaçada por uma enorme resistência”, afirmou o jornal.
Uma outra consequência do voto negativo poderia ser um impulso para novas usinas nucleares, sugeriu o NZZ.
O Tages-Anzeiger concordou que o resultado no Valais poderia ajudar os defensores de novas usinas nucleares. “Mas, mesmo que a Suíça começasse a construir novas usinas nucleares hoje, elas só entrariam em funcionamento daqui a 20 anos”, acrescentou.
Abastecimento de energia e energia solar
O grande problema na Suíça, continuou o Tages-Anzeiger, é que, quando se fala do abastecimento nacional de energia, muitas pessoas ainda não se dão conta do que está em jogo nos próximos anos.
“A demanda por energia está aumentando constantemente, tanto por causa da eletrificação dos carros quanto devido à instalação de bombas de calor”, disse o jornal. “De acordo com estimativas do setor elétrico suíço, em 30 anos, a Suíça consumirá cerca de 80 terawatts-hora (TWh) de eletricidade – hoje são 60 TWh. Mas, com o desligamento das usinas nucleares, 30 TWh serão perdidos no mesmo período. Ou seja, a Suíça precisa de 50 TWh de novas fontes de energia. Esse é um fato puramente físico. Além disso, a energia deve ser neutra em termos de CO2 e vir o mínimo possível do exterior.”
A produção de mais energia solar local é um dos principais pilares da atual estratégia do governo. E, de acordo com os planos da Solar Express, os parques solares alpinos são um elemento-chave, tendo como meta alimentar a rede, a partir do final de 2025, com 2 TWh ao ano, o suficiente para abastecer 500.000 residências.
Atualmente, não se sabe com que facilidade essa meta pode ser alcançada. Mas, para o Tages-Anzeiger, não há alternativa. “A Solar Express deve continuar avançando, embora um pouco mais devagar do que o planejado”, declarou.
(Adaptação: Clarice Dominguez)
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