Olhar de fora: quem são os suíços no exterior?
A composição exata dos suíços do exterior é apenas parcialmente conhecida. Algumas percepções sobre o terreno cheio de obstáculos da Suíça global.
Essa é uma reclamação conhecida: pouco se sabe sobre a composição dos suíços do exterior. Uma vez por ano, os números publicadosLink externo pelo Depto Federal de Estatísticas (BfS, na sigla em alemão) sobre esta população ajudam a remediar a situação: 800.041 suíços estavam registrados no exterior no final de 2022. E a tendência é de aumento. Isso representa pouco menos de 11% de todos.
Uma coisa não deve ser esquecida: Cerca de três quartos destes têm vários passaportes. Na maioria dos casos, eles também adquiriram a cidadania do país em que vivem atualmente. E quanto mais tempo eles vivem lá, mais isso acontece.
O que significa “olhar de fora”?
Os cientistas políticos Sarah Bütikofer e Claude Longchamp acompanham o ano eleitoral de 2023 para a SWI swissinfo.ch a partir da perspectiva dos suíços que moram no exterior.
Em dez contribuições, eles abordam temas que despertam especialmente o interesse dos eleitores que vivem fora da Suíça, procurando enxergar, sempre que possível, um pouco além do horizonte conhecido.
Quem emigra, para onde?
Para 64%, a nova residência é na Europa mesmo; 16% vivem na América do Norte e 7% na América do Sul e na Ásia. Apenas 4% dos suíços do exterior se estabeleceram na Austrália, e 2% na África.
Na Europa, os países vizinhos como França, Alemanha e Itália, estão há muito tempo no topo da lista. Fora da Europa, os EUA e o Canadá estão no cume da emigração da “Quinta Suíça”. O mundo ocidentalizado é, portanto, de longe, o destino mais comum dos emigrantes.
Os dados estatísticos disponíveis também incluem pontos demográficos. As mulheres estão super-representadas, com uma participação de 54%. 21% dos suíços do exterior têm menos de 18 anos de idade, 23% têm mais de 65 anos.
A propósito, a proporção de pessoas com mais de 65 anos está aumentando. Mas isso não se deve ao fato de mais aposentados estarem emigrando. Em vez disso, o envelhecimento da população suíça no exterior, que se estabeleceu lá, é o fator decisivo. Mas estes são todos os dados das características pessoais dos suíços do exterior.
Quem participa?
Sabe-se bastante sobre a composição desta população politicamente ativa no exterior. Cerca de 200 mil suíçosLink externo se registraram especialmente, para exercer seus direitos políticos. No entanto, eles nunca participam da mesma votação, de modo que o número de votantes da Quinta Suíça é ainda menor.
Em 2019 isso foi particularmente evidente. O comparecimento às urnas nos 12 cantões (estados) que demonstram explicitamente isso foi de apenas 21% das suíço do exterior registrados no cadastro eleitoral. Foram 5 pontos percentuais a menos do que em 2015, enquanto o número na Suíça caiu de 49% para 46%.
O principal motivo para isso foi provavelmente a descontinuação da votação eletrônica para as eleições de 2019. Preocupações com a segurança levaram ao abandono da tentativa de votação on-line em vários cantões nas eleições de 2015. E foi exatamente nestes que o declínio da participação entre os suíços do exterior foi três vezes maior do que nos outros cantões.
No caso das votações, a proporção de participantes do exterior flutua sem nenhum desenvolvimento claro ao longo do tempo. O tópico, o grau de preocupação e a questão de quão polêmica é uma proposta, também são decisivos aqui. Mesmo assim, tem-se como experiência um valor médio de cerca de 30% de participação dos inscritos.
Em comparação com a média nacional de 45%, isso também é um pouco menor. Os motivos estão tanto na oferta quanto na demanda. Do lado da oferta, há muitas deficiências na infraestrutura e na entrega do material de votação. Do lado da demanda, a cidadania múltipla tem um impacto: Esses suíços do exterior estão geralmente mais interessados na política de seu país de residência do que na da Suíça.
O que é a “Quinta Suíça”?
No período que antecedeu as eleições de 2019, dois cientistas políticos de Genebra, Andreas Goldberg e Simon Lanz, fizeram um relatório sobre a composiçãLink externoo politicamente ativa desta população.
As pessoas com diploma universitário são as mais representadas, com mais de 50% dos eleitores. Sua participação é, portanto, mais de duas vezes maior do que na Suíça.
Há também um aumento acentuado no número de funcionários públicos, como o pessoal de embaixadas, gerentes e profissionais com trabalho principalmente intelectual. Isso também se aplica a homens e pessoas sem confissão religiosa.
Em contrapartida, pessoas com baixo nível de escolaridade, trabalhadores, mulheres em geral e pessoas da confissão católica praticantes estão claramente sub-representadas no exterior. A diferença determinada pela educação e pelo status ocupacional é expressa de forma ainda mais clara no exterior do que na Suíça.
Também poderíamos chamar isso de individualização por meio da carreira. Por outro lado, a integração social é menos importante quando se trata de participação política do exterior.
Isso faz com que essa população que é politicamente ativa hoje seja, até certo ponto, uma imagem espelhada dos eleitores no país. Enquanto os últimos são caracterizados por um eleitorado predominantemente conservador de áreas rurais e de cidades pequenas, os suíços do exterior são mais cosmopolitas e urbanos.
Representativo?
Mas uma questão deve ser feita: Essa representação de suíços politicamente ativos no exterior corresponde a todos os compatriotas no exterior? É necessário ceticismo. Afinal de contas, a participação na política suíça é seletiva devido aos obstáculos de registro mencionados acima, e às taxas de participação muito baixas.
É plausível a hipótese de que os suíços do exterior que são ativos por direito próprio também participem mais do que a média na política. Os mais passivos, que desfrutam de sua nova vida em seu novo lugar mesmo sem política, provavelmente estão sub-representados.
Outro fator importante é provavelmente a perspectiva de fora do país. Pois pessoas que organizam suas vidas permanentemente no exterior provavelmente estão sub-representadas nos plebiscitos e nas eleições suíças. Por outro lado, os viajantes entre dois mundos, que deixaram a Suíça temporariamente por motivos profissionais, provavelmente estão super-representados.
Desta forma, mesmo depois de todas as explorações destes caminhos repletos de obstáculos, algumas perguntas sobre a composição dos quase 11% de suíços que vivem fora do país ainda permanecem sem resposta.
Edição: Mark Livingston
Adaptação: Flávia C. Nepomuceno dos Santos
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