“‘Temos de nos manter firmes, usando nossas sociedades democráticas”
Os governos deveriam se esforçar para atingir a geração de jovens que usam a internet e as redes sociais para que eles participem ativamente da democracia, afirma Wanja Kaufmann.
A jovem sueca de 19 anos é estudante de Letras e uma das novas vozes da comunidade suíça que vive no exterior. A swissinfo.ch apresenta uma série de membros da direção do recém-criado Parlamento dos Jovens Suíços no Exterior.
swissinfo.ch: Como membro do novo Parlamento dos Jovens Suíços no Exterior, o que você pretende conquistar na Suíça e no país onde você vive?
Wanja Kaufmann: Quero ajudar outros jovens suíços a saberem mais sobre a Suíça e seu sistema político e civil. Os jovens deveriam ter a possibilidade de conhecer outros jovens suíços que vivem no exterior. Eu acho que muitos jovens no mundo inteiro sabem muito pouco sobre os seus direitos democráticos.
Os jovens suíços têm a incrível oportunidade de aprender sobre democracia através da Organização dos Suíços no Estrangeiro (OSA). Como membro do Parlamento dos Jovens Suíços no Exterior, quero assegurar que todo jovem suíço que vive no exterior possa aprender sobre o seu país e possa também conhecê-lo.
Como um primeiro passo, gostaria de criar um subgrupo do Parlamento dos Jovens Suíços no Exterior aqui na Suécia, onde eu vivo, e futuramente expandir essa ideia para que se criem outros grupos regionais. Estes grupos poderiam funcionar como fórum de discussões para os jovens aprenderem juntos sobre o seu país de origem.
Eu também espero que estes grupos tenham a oportunidade de viajar para a Suíça para conhecer o país e seu sistema político. Estou realmente muito ansiosa para começar a trabalhar neste projeto.
swissinfo.ch: Em relação à democracia direta, como é a situação do seu país de acolhimento? Existem instrumentos que você aprecie? E há outros que você sente falta?
W.K.: A Suécia é um país verdadeiramente democrático, mas ainda há muito que se fazer aqui para que a democracia atinja o mesmo nível que na Suíça. É claro que temos eleições democráticas, mas quase não temos referendos. Acho que tivemos apenas cinco referendos desde o início do século XX.
Graças à última emenda constitucional, atualmente temos a possibilidade de lançar iniciativas populares, mas apenas a nível municipal e regional. Na prática, a Suécia não é um país com democracia direta, mas com uma democracia representativa.
Eu realmente espero que a Suécia se torne cada vez mais uma democracia direta.
Algo que eu realmente admiro na Suécia é o papel que as organizações e os partidos políticos desempenham na sociedade. Acho que isso realmente cria um ambiente social democrático.
swissinfo.ch: Na maioria dos países, os jovens comparecem muito menos às urnas – para votações e eleições – do que os cidadãos de outras faixas etárias. Não seria justamente a democracia direta um meio para a juventude poder fazer ecoar suas demandas e visões políticas?
W.K.: Sim, de certa forma acho que é. Mas muitos jovens hoje em dia acham que através do voto não se pode atingir um objetivo político.
Muitos jovens consideram a internet uma plataforma importante para compartilhar e desenvolver suas ideias e chamar a atenção dos políticos e da mídia, mesmo sem utilizar as ferramentas oficiais, como as iniciativas populares e o voto.
Não acho que isso seja necessariamente ruim. Os governantes de todo o mundo deveriam aceitar e entender esta forma de engajamento político e incorporá-la ao trabalho.
Nova plataforma para os suíços que vivem no exterior
O Parlamento dos Jovens Suíços no Exterior existe há apenas alguns meses. O local das reuniões dos quase 350 membros, espalhados por todos os continentes, é a internet. Mas também há as trocas que se dão através das redes sociais.
swissinfo.ch entrevistou onze jovens suíços que vivem no exterior e que fazem parte da direção do recém-criado Parlamento dos Jovens a respeito da democracia direta na Suíça e nos países onde eles moram.
swissinfo.ch: Desde os atentados em Paris, a Europa está obssecada com o terrorismo dos grupos do Estado Islâmico. Você acha que a luta contra os extremistas islâmicos, que representa uma restrição à liberdade individual, significa que as democracias estejam em perigo?
W.K.: Não acho que o Estado Islâmico afete diretamente as democracias. Eu acho que o maior problema atualmente é como o islamismo é recebido pela sociedade.
Agora que o terrorismo existe no mundo ocidental, tenho a impressão que muitas pessoas e mesmo governos passaram a ver o Islã com maus olhos. E isso é realmente preocupante.
Se grande parte da nossa sociedade passa a ser vista como terrorista em potencial e, por este motivo, não pode ter as vantagens dos direitos democráticos, temos um problema democrático.
Mesmo que nossos governos priorizem o extermínio dos grupos terroristas, temos que nos manter firmes usando e mantendo nossas sociedades democráticas, pois somos nós que formamos a sociedade democrática.
Adaptação: Fabiana Macchi
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