Líderes indígenas brasileiros estão trabalhando nos bastidores para convencer alguns dos principais atores políticos na Suíça e no restante da Europa a pressionar o governo brasileiro. O objetivo: garantir a proteção dos povos indígenas e das florestas.
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Jamil Chade, em Genebra, swissinfo.ch
Nas últimas semanas, cidades suíças receberam vários caciques em busca de visibilidade para suas causas, mas também, e principalmente, de um apoio real nos bastidores.
Um deles foi Raoni, o primeiro a sair de suas terras há 30 anos e percorrer o mundo. Hoje, em sua sexta turnê internacional, ele já fala abertamente que precisa passar a responsabilidade para as novas gerações de caciques.
Entretanto, num encontro em Genebra com as autoridades locais, ficou claro que as viagens vão muito além de trocas de gentilezas e declarações aos jornalistas.
Com um mapa do Brasil e da reserva do Parque Indígena do Xingu sobre uma mesa, o prefeito de Genebra, Sami Kanaan, indicou que irá pressionar os deputados de seu partido e representantes da região no Parlamento Federal para que avaliem qualquer passo comercial com o Brasil.
Nem tudo é comércio
O Mercosul e a EFTA, bloco do qual a Suíça faz parte, negociam um acordo de livre comércio. Mas ideia é de que aspectos ambientais sejam respeitados para que um entendimento seja concluído. “O comércio é bom. Mas não podemos assinar qualquer coisa em nome do comércio”, disse o prefeito.
“Estamos preocupados diante das posições do novo governo brasileiro”, disse Kanaan. “Vamos pedir aos nossos representantes em Berna que tomem o aspecto ambiental em consideração”, afirmou.
Para o prefeito, a pressão internacional é importante também para convencer o governo brasileiro a assumir suas responsabilidades.
“Precisamos trabalhar juntos”, pediu o líder caiapó. Seu discurso é de que sua luta é para manter a floresta “para o mundo”, e não apenas para seu povo. Sua luta é para que haja uma pressão internacional sobre o governo brasileiro para garantir a demarcação de suas terras. “Estamos mantendo o território para todos nós”, insistiu.
O filho do cacique Aritana, Tapi Iwalapiti, também confirmou que a viagem para a Suíça tem justamente a função de criar uma “pressão internacional” sobre o Brasil. “Esse é o momento mais difícil para a defesa da floresta”, disse.
Entre o Google Earth e a política
Quem também passou por Genebra e por Neuchâtel em maio foi o líder indígena Almir Suruí. Para ele, apenas uma pressão internacional concreta e que vá além de palavras é que pode fazer hoje a diferença.
“Teremos mais massacres se a atual política for mantida”, disse ele. “Nós só temos flechas. Mas, do outro lado, quem invade nossas terras vem cada vez mais armado. O que nos preocupa é que, com o atual discurso do governo, essas pessoas que nos atacam vão se sentir incentivadas”, disse.
Ao longo de duas semanas, ele se reuniu com mais de 50 deputados de diferentes países europeus, inclusive suíços. O recado era sempre o mesmo: pressionem politicamente e até com aspectos comerciais o Brasil para que o governo cumpra suas obrigações ambientais.
Não é a primeira vez que Almir Suruí recorre à ajuda internacional para proteger sua terra. Há cerca de dez anos, ele tomou a iniciativa de entrar em contato com a Google para pedir que sua tribo também tivesse suas imagens em alta definição no programa Google Earth. Motivo: ele queria usar as fotos como prova do desmatamento.
Agora, seu combate é para que a Suíça e outros países europeus coloquem “pressão real” sobre o Brasil.
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