Doris Leuthard entra com respeito em ano presidencial
Com responsabilidade e respeito: assim entra a ministra suíça da Economia e presidente da Confederação Helvética em 2010, Doris Leuthard, no ano que começa.
Sem um bom relacionamento com o exterior não é possível solucionar os problemas econômicos da Suíça, ressalta em entrevista exclusiva à swissinfo.ch
swissinfo.ch: Diversos canteiros de obra e problemas ainda não solucionados sobraram de 2009. A senhora entra com alegria ou certa preocupação no seu ano presidencial?
Doris Leuthard: Principalmente com um senso de responsabilidade. No meu ano presidencial haverá, com segurança, também muitas experiências boas e encontros interessantes.
Porém existe obviamente a responsabilidade de resolver as questões que estão pendentes e os desafios para o nosso país juntamente com o resto dos membros do gabinete. Assim eu diria que é a responsabilidade e também um grande respeito.
swissinfo.ch: Quais são os desafios mais importantes para a senhora: as questões internacionais ou nacionais?
D.L.: Elas não podem ser separadas. A Suíça ganha um de cada dois francos no exterior: dependemos do bom relacionamento, da abertura dos mercados para as nossas empresas e que a nossa reputação esteja em bom estado.
Caso contrário, não é possível solucionar os problemas no mercado interno. Dentre eles, o desemprego, que irá atingir este ano o seu ponto mais alto. A perspectiva de criar novos empregos, as perspectivas de melhora no mercado de trabalho: tudo está intimamente relacionado.
swissinfo.ch: Entre as suas prioridades estão o bom relacionamento com os países vizinhos. O que significa isso concretamente?
D.L.: Esquece-se rapidamente que o relacionamento com os países vizinhos é o mais intenso de todos, tanto do ponto de vista cultural, econômico, em termos de transporte e também de educação. Estamos intimamente ligados a eles.
Isso exige procurar o diálogo não apenas com a União Européia em Bruxelas, mas também com os nossos vizinhos, para poder resolver os problemas que estão além das nossas fronteiras.
swissinfo.ch: Estes problemas já existem. Um exemplo é o sigilo bancário, presente com a Alemanha, Itália e também com a França…
D.L.: Em uma crise econômica é natural que os interesses se desencontrem. Ministros das finanças necessitam encher seus cofres e, consequentemente, a Suíça entra no foco das atenções. Isso significa para o governo federal solucionar questões com a Alemanha no âmbito da bitributação e as pendências relacionadas ao tráfego aéreo (nota da redação: a disputa em relação ao sobrevôo do território alemão por aviões que pousam no aeroporto de Zurique).
Com a Itália e a França é o mesmo. Também com esses países temos questões abertas em termos fiscais. Por isso, darei uma atenção especial a esses três países.
swissinfo.ch: Alguns críticos afirmam que a Suíça está isolada e praticamente não tem mais aliados. Nesse sentido, o que a senhora gostaria de fazer?
D.L.: Não estamos isolados, mesmo se essa impressão insiste em aparecer durante a crise. Temos uma boa rede de relacionamentos. Porém ela precisa ser cultivada, sobretudo quando não se é membro de organizações como a União Européia, a Otan ou o G-20.
swissinfo.ch: Na sua lista de prioridades para este ano está também o fortalecimento das relações econômicas com a China?
D.L.: Para o governo federal, a China é um país prioritário. No esforço de firmar um tratado de livre comércio, a China estará no centro de pelo menos uma visita com a minha participação. Possivelmente iremos receber na Suíça também um importante dignitário chinês.
swissinfo.ch: Ainda não foi decidido, mas a Suíça deverá receber dois ex-prisioneiros uigures de Guantánamo. Esse ato não poderia prejudicar o relacionamento com a China?
D.L.: Por uma questão humanitária, o governo federal decidiu auxiliar os Estados Unidos a solucionar a questão de Guantánamo. Nós – concretamente o cantão de Genebra – decidimos acolher uma pessoa, originária do Uzbequistão.
Nenhuma outra decisão foi tomada nesse sentido. Por isso, prefiro passar a questão.
swissinfo.ch: Retornando às questões de política interna: o desemprego continuará a crescer. Ao mesmo tempo, a senhora gostaria de reformar o seguro-desemprego (ALV, na sigla em alemão). Críticos consideram isso uma contradição…
D.L.: O déficit estrutural do seguro-desemprego necessita ser saneado, sobretudo pelo fato deste ter crescido mesmo durante os bons momentos da nossa economia. As dívidas aumentam. Não é possível solucionar o problema só quando a conjuntura está boa.
Os planos atuais de revisão das leis relativas ao seguro-desemprego não pretendem tirar nada do desempregado. Só mais tarde, quando a crise passar, as condições para o benefício serão elevadas e também deve ser exigido um tempo maior de contribuição.
Essa diminuição da oferta é aceitável, pois o nível e a duração do seguro-desemprego se mantêm. O núcleo da ALV não será atingido por essa revisão.
De fato, futuramente será exigido dos jovens mais flexibilidade na procura de trabalho. Porém é sempre possível insuflar medo nas pessoas. Eu considero as mudanças aceitáveis. Jovens são flexíveis. Em grande parte, eles não têm obrigações familiares e estão menos ligados a um único local. Assim, é razoável ser mais restrito nas considerações do que pode ser ou não tolerável para eles do que para uma mãe solteira de 55 anos e que perdeu seu emprego.
swissinfo.ch: Constatou-se que existe uma necessidade de reforma da estrutura do governo federal – o grêmio de sete ministros – e na sua forma de trabalho. Como esta reforma deverá ser?
D.L.: Meu objetivo é que uma reforma dessas não seja discutida mais uma vez, mas sim também decidida. O trabalho conjunto com o Parlamento e com o exterior nos toma cada vez mais tempo. Eu acredito que exista vontade política para uma otimização.
Andreas Keiser e Eva Herrmann, swissinfo.ch
(Adaptação: Alexander Thoele)
A ministra da Economia nasceu em 1963 e é formada em direito.
Desde 2006 faz parte do gabinete federal, representando o Partido Democrata-Cristão (CVP, na sigla em alemão), do qual era presidente antes da eleição ao governo.
Doris Leuthard considera muito positiva a participação crescente de suíços do estrangeiro na vida política do seu país de origem.
Porém ela não dará uma ênfase especial aos suíços do estrangeiro durante o seu ano presidencial.
“Todos os suíços e suíças têm a mesma importância para mim. O que me interessa é o país e tudo o que está relacionado a ele. Nesse sentido, os suíços do estrangeiro também estão incluídos aqui.”
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