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Por que Steve Bannon vem a Zurique?

Steve Bannon durante palestra 44.a Conferência Anual de Ação Política Conservadora em Maryland, EUA, em fevereiro
Bannon, ex-diretor executivo da Breitbart News, foi convidado a falar em Zurique por Roger Köppel, dono da revista conservadora Die Weltwoche. Keystone

Antecipando o discurso do ex-estrategista-chefe da Casa Branca, Steve Bannon, em Zurique, o cientista político Daniel Warner desconstrói o zumbido da mídia em torno da visita, hoje, do autoproclamado fundador da 'alt-right' (a 'direita digital') e o que isso significa para a política suíça.

Após o frenesi suíço durante uma viagem que não deveria causar nenhuma sensação política do presidente Donald Trump ao Fórum Econômico Mundial (WEF), em Davos, em janeiro passado, a mídia suíça agora está focada na visita a Zurique do ex-estrategista-chefe de Trump, Steve Bannon.

A rápida passagem de Trump atraiu políticos, líderes empresariais e a multidão usual do WEF, fazendo fila para ver, ouvir e fotografar o presidente americano. A visita de Bannon também está atraindo atenção considerável: seu discurso foi transferido de um local menor para o centro de eventos de Oerlikon (mais conhecido como palco de concertos de rock) para acomodar uma multidão de 1.600 pessoas. O esquema de segurança é extraordinário, e a polícia espera pelos indefectíveis manifestantes do lado de fora do local.

O autor do artigo, Daniel Warner
Daniel Warner é cientista político suíço-americano e ex-diretor adjunto do Graduate Institute de Genebra. Courtesy

Por que todo esse barulho por Bannon?

O presidente Trump foi convidado pelo fundador e presidente executivo do WEF, Klaus Schwab. Bannon foi convidado pelo parlamentar do Partido Popular da Suíça e editor da revista Die Weltwoche, Roger Köppel.

Foi um tremendo golpe de sorte para Schwab ter o presidente dos Estados Unidos em pessoa no WEF – o único outro presidente dos Estados Unidos que esteve em Davos foi Bill Clinton em 2000. O convite para Bannon é menos impressionante. Há um monte de prefixos “ex-” em seu currículo. Ex-banqueiro, ex-executivo de mídia e ex-presidente executivo da Breitbart News, Bannon foi estrategista-chefe da Casa Branca nos primeiros sete meses da presidência, na sequência de seu trabalho como diretor executivo da campanha presidencial de Trump.

Se há tantos “ex-“, por que há tantos rumores sobre Bannon? Não há nada a ver com seu título ou posição atual. Ele desapareceu (foi demitido?) de qualquer legitimidade que pudesse ter tido na Casa Branca ou mesmo na Breitbart, o site que ele co-fundou.

Não, o zumbido em torno de Bannon tem a ver com sua ideologia. Um autoproclamado fundador da alt-direita, Bannon opõe-se ao ‘establishment’ do Partido Republicano, apoiando candidatos externos em primárias republicanas. Ele ajudou o juiz Roy Moore a derrotar o senador republicano pelo Alabama nas primárias de 2017, mas perdeu um pouco de seu brilho político quando Moore, acusado de abusis sexuais, perdeu a eleição para seu adversário democrata.

Arauto do radicalismo de direita

Bannon ainda tem tração política e seguidores. Além de sua personalidade superdimensionada, como a de Trump, ele permanece proeminente por seu nacionalismo econômico radical e por seus apelos à redução da imigração, menos envolvimento dos EUA nos assuntos estrangeiros e restrições ao livre comércio. Se Trump foi eleito com o slogan “América em Primeiro Lugar”, grande parte de sua retórica radical nacionalista veio de Steve Bannon.

Enquanto o presidente se gaba em ser um exímio negociante, Bannon tem uma inclinação mais obsessiva e ideológica, que vem de um passado bem diferente do de um corretor imobiliário de alto padrão (como Trump). Ele possui um diploma em estudos de segurança nacional da Escola de Relações Internacionais da Universidade de Georgetown (Washington D.C.) e um mestrado em Administração de Empresas com honras da Harvard Business School. Bannon também foi oficial da marinha americana por sete anos, ao contrário de Trump, que fugiu do serviço militar diversas vezes.

Assim, enquanto Trump incessantemente roda, negocia, e ‘tweeta’ 24 horas por dia, 7 dias por semana, Bannon arma esquemas e intrigas com planos mais ambiciosos. Após as eleições de 2016, Bannon comparou sua influência com a de “Thomas Cromwell aos Tudors”; um Svengali para os nossos tempos. Ele estava na capa da revista Time, que o chamou de “O Grande Manipulador”; a matéria indagava: “Será Steve Bannon o segundo homem mais poderoso do mundo?”

Agora, fora da ribalta oficial, Bannon tornou-se uma referência para o movimento populista de direita nos Estados Unidos. Ele não está mais no Conselho de Segurança Nacional, nem tem presença física imediata na Casa Branca (rumores dizem que ele ainda tem o ouvido do Príncipe, mesmo que só por telefone), mas esteve ocupado preparando concorrentes contra os republicanos em exercício no Congresso para as próximas primárias do partido em 2018.

O renegado não tem vez aqui

O que torna Bannon tão atraente em Zurique? O seu nacionalismo seduz aqueles que minam qualquer aproximação da Suíça com a União Européia. Sua conexão ideológica com Trump ajudará aqueles que ainda tentam descobrir como posicionar-se frente às políticas do governo americanom atual (e boa sorte para quem quiser entender racionalmente a política americana, seja estrangeira ou doméstica).

Embora esses apelos sejam evidentes, pode haver uma parte da agenda de Bannon que seus seguidores em Zurique não devem ignorar. Ao ir contra o Partido Republicano estabelecido, Bannon está tentando abalar o sistema político de dois partidos que se tornou o fundamento da política americana. Bannon é um ‘outsider’ natural; um renegado que funciona melhor fora das instituições tradicionais.

Trump costumava ser assim. Democrata, republicano – um verdadeiro outsider. Agora que ele é pressidente, tenta operar dentro do sistema. Bannon durou apenas sete meses na Ala Oeste da Casa Branca, porque ele não podia aceitar as regras do jogo. John Kelly, chefe de gabinete de Trump e fiel seguidor das regras do jogo, mostrou-lhe a porta da rua. Não há espaço na Casa Branca para um renegado.

Mesmo que Bannon possa ser um personagem fascinante, e que seu discurso possa iluminar sua percepção do que está acontecendo nos Estados Unidos, sua política não tem tradução na Suíça. As Repúblicas Irmãs evoluíram desde o século XVIII. A Suíça tem sua Fórmula Mágica. O Conselho Federal é dividido por um conjunto de partidos políticos. Pode haver renegados individuais ocasionais (Christoph Blocher) ou exceções à regra dos partidos (Eveline Widmer-Schlumpf), mas o sistema suíço sempre reverte para sua estabilidade intrínseca. Não há desejo de caos aqui.

Pessoas como Bannon pertencem ao faroeste, não sob a cúpula parlamentar em Berna nem passeando pela Bahnhofstrasse em Zurique. A política suíça é anti-Trump, contra a destruição criativa, e bem anti-Bannon.

As opiniões expressas neste artigo são unicamente as do autor e não refletem necessariamente as opiniões da swissinfo.ch.
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Adaptação: Eduardo Simantob

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