Homens têm mais peso no Parlamento que as mulheres
Quais parlamentares fazem ouvir mais suas vozes em Berna? Uma análise da rede pública de mídia RTS revela quem são os mais loquazes durante os debates no Parlamento, à medida que a legislatura se aproxima do fim.
“Senhor Bauer, posso lhe pedir que conclua? O senhor já está falando há 55 minutos”. Sem essa interrupção do presidente do Conselho dos Estados (Senado), ninguém sabe quanto tempo o liberal-radical Philippe Bauer teria dissertado sobre a emenda ao código de processo civil durante a sessão de verão de 2021. O assunto, muito técnico, aparentemente é muito caro a ele.
No entanto, ao contrário de alguns de seus colegas, o parlamentar de Neuchâtel não é conhecido por discursos longos nem é viciado em subir à tribuna. A célula de dados da RTS analisou as 1.200 horas de debates da legislatura em curso a fim de identificar os membros mais prolixos do Parlamento (veja a metodologia no quadro).
Mulheres falam menos
Sua análise dos discursos no Parlamento revela que as mulheres ainda passam menos tempo ao microfone do que os homens, como já demonstrado por uma pesquisa semelhanteLink externo realizada em 2018. Elas falaram em 386 das 1.206 horas de debates totalizadas nas duas câmaras.
Dito de outro modo, em uma hora de debate no Parlamento, elas têm, em média, a palavra por 19 minutos, enquanto os homens 41 minutos. Com diferenças significativas entre as duas Câmaras.
No Conselho Nacional (Câmara dos Deputados), a discrepância entre homens e mulheres é explicada pela proporção de parlamentares eleitas. O tempo de fala delas é muito próximo da proporção de assentos que ocupam, cerca de 40%.
Não é a mesma história no Conselho dos Estados. Com 29% dos assentos (26% no início da legislatura), elas respondem por apenas 19% do tempo de fala. A primeira mulher, a Verde por Basiléia, Maya Graf, ocupa apenas a 13ª posição na classificação estabelecida pela RTS.
Questionada sobre esses números, a senadora ambientalista Céline Vara descreve “uma forma de pressão” sobre as mulheres da Câmara para que falem menos: “Não só nos dizem isso, mas as atitudes assinalam esse fato. Por exemplo, alguns homens não hesitam em se levantar e sair da sala ou em nos fazer comentários, alegando que falamos demais ou por muito tempo”.
A nativa de Neuchâtel também menciona a barreira do idioma em um Parlamento com maioria de língua alemã: “Quando falo francês, sou menos ouvida pelos meus colegas suíços de língua alemã. Então, de modo geral, vou direto ao ponto e uso termos simples. O objetivo é realmente fazer a mensagem passar”.
Políticos do cantão do Valais falam mais
A palma de ouro para o parlamentar mais falante vai para Beat Rieder, do Alto Valais. No total, o membro do Conselho dos Estados pelo Centro falou mais de 500 vezes e discursou por 24 horas diante de seus colegas.
Na parte francófona, apenas o socialista genebrino Carlo Sommaruga se destaca entre os 10 mais falantes, com pouco mais de 18 horas de discurso.
No Conselho Nacional, os parlamentares se expõem menos do que seus colegas dos Estados. Ao contrário da Câmara dos Cantões, o tempo de fala lá é limitado.
Outro “Beat”, o Verde-liberal de Argóvia, Beat Flach, é quem mais toma a palavra. Ele proferiu cerca de 12 horas de discursos em quatro anos.
Esses dados também revelam a onipresença dos valaisanos. Além de Beat Rieder no Conselho dos Estados, quatro deles figuram entre os 10 primeiros no Conselho Nacional: Benjamin Roduit, Philipp Matthias Bregy, Philippe Nantermod e Jean-Luc Addor.
De acordo com Benjamin Roduit, entrevistado pelo programa La Matinale da RTS, essa forte presença dos valaisanos na tribuna pode ser explicada pelas comissões em que os parlamentares têm assento, pelo seu posicionamento político e pelo idioma que falam. Mas, para o conselheiro nacional do Centro, a origem também desempenha um papel importante.
“Como valaisano, defendo os interesses dos cantões alpinos”, continua Benjamin Roduit. “Somos minoria e temos uma voz a ser ouvida. Quando falamos sobre energia, ordenamento territorial, lobos, realmente temos algo a dizer à população suíça, por isso subimos à tribuna. Nosso objetivo nem sempre é dar espetáculo, mas precisamos de uma certa visibilidade”.
Como a RTS calculou o tempo de fala
Como não há registro oficial do tempo de fala no Parlamento, a análise foi realizada com base nas atas de cada intervenção no Conselho Nacional e no Conselho dos Estados. A fim de obter um exame dos debates em vez de aspectos protocolares, as inúmeras intervenções dos presidentes e vice-presidentes da Câmara não foram contabilizadas. As mudanças (saídas e entradas) de parlamentares durante a legislatura também foram levadas em conta.
As atas permitiram à RTS somar todas as intervenções feitas por cada parlamentar, convertendo-as em número de caracteres. Em seguida, a RTS cronometrou o fluxo de palavras de cada parlamentar em uma intervenção de alguns minutos, da forma mais neutra possível. O tempo de fala foi então calculado usando o fluxo de palavras e a soma das intervenções.
Esse método, recomendado por linguistas, foi preferido à duração dos vídeos das intervenções disponíveis no site do Parlamento, pois a decupagem desses vídeos é às vezes aproximativa.
Edição: Pauline Turuban
Adaptação: Karleno Bocarro
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