Max Göldi volta à Suíça após dois anos de odisseia
Após uma retenção de quase dois anos na Líbia, o empresário suíço Max Göldi voltou ao seu país e foi recebido por sua família nesta segunda-feira (14/6), no aeroporto de Zurique.
A crise entre a Suíça e a Líbia chega ao fim, após mais um pedido de desculpas oficial e de uma visita da ministra das Relações Exteriores, Micheline Calmy-Rey, à tenda do líder líbio Muammar Khadafi.
Após quase dois anos de separação involuntária, o alívio é muito grande, informou a família Göldi. “É indescritível a alegria por ter terminado o longo período de espera e temor. Nós estamos muito felizes pelo fato de ele estar conosco novamente e agora poder se recuperar em paz no círculo familiar das tensões sofridas.”
Também a ministra suíça das Relações Exteriores, Micheline Calmy-Rey, manifestou-se satisfeita: “Estamos aliviados e nos alegramos com Max Göldi e sua família”, disse Calmy-Rey em um comunicado.
A presidente da Comissão de Política Externa do Parlamento também manifestou seu alívio. “Com o retorno de Göldi, termina uma tragédia pessoal”, disse a deputada federal Christa Markwalder.
“Muito aliviado” disse estar igualmente o porta-voz da Anistia Internacional, na Suíça, Daniel Graf. A Anistia fez uma intensa campanha pela libertação de Göldi.
Göldi deixou a Líbia no domingo e, após uma escala em Túnis, voltou junto com Calmy-Rey à Suíça. O retorno de Göldi tornou-se possível após a assinatura de um plano de ação entre a Suíça e a Líbia, no domingo, em Trípoli.
Calmy-Rey e seu colega de pasta espanhol, Miguel Angel Moratinos, negociaram junto com primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi a saída de Göldi. Calmy-Rey disse que o retorno do empresário suíço foi “o início da normalização das relações entre os dois países.”
O plano de ação
Em Trípoli, Calmy-Rey apresentou um plano de ação para resolver os problemas bilaterais entre a Líbia e a Suíça. O documento trata da instituição de um tribunal de arbitragem e também do procedimento acelerado para a partida de Max Göldi.
As duas partes concordam em criar um tribunal de arbitragem, afirma no primeiro ponto do acordo. “Um tribunal de arbitragem com o qual o presidente da Suíça já concordou em 20 de agosto de 2009”, ressaltou a ministra das Relações Exteriores.
O segundo ponto do plano de ação refere-se à publicação “ilegal” de fotos de Hannibal Kadhafi, filho do líder líbio Muammar Khadafi, em setembro de 2009, pelo jornal Tribune de Genève.
O plano de ação afirma a este respeito: “A Suíça pede desculpas pela publicação indevida de imagens de Hannibal Kadhafi(…), que representa uma violação da confidencialidade prevista na lei suíça. O governo do cantão de Genebra lamenta a publicação dessas fotos e reconhece a sua responsabilidade. O incidente será investigado juridicamente, e as autoridades suíças são obrigados a levar o culpado ou os culpados à Justiça.”
Além disso, segundo Calmy-Rey, o plano de ação assinado pela Líbia, Suíça, Espanha e Alemanha prevê um processo de saída rápida para Max Göldi. “Trabalhamos duro para unir Max Göldi e Rachid Hamdani com suas famílias”.
Antecedentes da crise
A crise entre a Suíça e a Líbia foi desencadeada pela prisão temporária de Hannibal – filho de Muammar Khadafi – e sua esposa Aline, em Genebra, em julho de 2008, por suspeita de maus tratos contra empregados domésticos.
A Líbia exigiu que a prisão – a seu ver “humilhante” – de Hannibal fosse investigada por um tribunal de arbitragem internacional. A Suíça sustou esse acordo depois que os dois suíços, Max Göldi e Rachid Hamdani, foram levados temporariamente para um local desconhecido.
Enquanto Hamdani pode deixar a Líbia em fevereiro, Göldi teve cumprir até a última sexta-feira uma pena de prisão por suposta permanência ilegal no país.
Calmy-Rey teve de esperar
A assinatura do acordo de domingo foi precedida por horas de espera. Calmy-Rey e Moratinos já haviam viajado no sábado à noite para Trípoli para negociar a saída de Göldi e uma solução para a crise diplomática.
Uma conferência de imprensa marcada para a manhã de domingo num hotel de luxo pela Líbia foi novamente adiada. Calmy-Rey e Moratinos tiveram de esperar mais de uma hora no saguão do hotel, até serem levados para um lugar desconhecido para a mídia, relatou o correspondente da agência de notícias AFP.
O primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi desembarcou no domingo à tarde na capital líbia. O motivo de sua visita não foi revelado, mas, segundo fontes próximas do governo líbio, ela esteve ligada à libertação de Max Göldi.
Em discurso durante a recente reunião cúpula dos países árabes, Berlusconi havia classificado o líder líbio Muammar Khadafi como “amigo”.
Segundo duas agências de notícias, Muammar Khadafi recebeu no domingo à noite, em sua tenda, a ministra suíça das Relações Exteriores, Micheline Calmy-Rey, em companhia de Berlusconi.
Encontravam-se no local também os ministros das Relações Exteriores da Líbia, Moussa Koussa, da Espanha, Miguel Angel Moratinos, e de Malta, Tonio Borg. Também os primeiros-ministros da Eslovênia e Malta, Borut Pahor e Lawrence Gonzi, estavam na tenda no quartel de Al Azyzyia, informam as agências de notícias Ansa e Adnkronos.
swissinfo.ch com agências
Hannibal Kadhafi, o filho do líder líbio Muammar Kadafi, e sua esposa foram detidos pela polícia suíça em 15 de julho de 2008, no hotel Presidente Wilson, em Genebra.
Hannibal e Aline Kadhafi foram indiciados no dia seguinte por lesões corporais simples, ameaça e coação contra dois empregados domésticos. Ambos negaram as acusações.
Após dois dias de detenção, o casal Kadhafi foi liberado mediante o pagamento de uma caução de meio milhão de francos e retornaram à Líbia. Os dois empregados pediram asilo político na Suíça.
No início de setembro de 2008, a Justiça de Genebra arquivou o processo contra os Kadhafi, depois que os dois acusadores retiraram a queixa.
Um relatório apresentado em 14 de setembro de 2008 por uma comissão independente concluiu que as autoridades de Genebra agiram corretamente.
Em 20 de agosto de 2009, o presidente suíço Hans-Rudolf Merz pediu desculpas, em Trípoli, pela prisão do casal Kadhafi.
Na ocasião, foi assinado um acordo para normalizar as relações entre os dois país e para que a Líbia libertasse dois reféns suíços, retidos nos país desde o ano passado. Um tribunal independente investigaria de novo o caso Kadhafi.
O prazo para o cumprimento do acordo terminou em 20 de outubro de 2009 sem que a Líbia tivesse cumprido a sua parte.
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