Maçã suíça serve para retardar rugas
Uma rara maçã suíça é vista no mundo dos cosméticos e da moda como um dos mais promissores produtos no combate à velhice. Até mesmo a primeira dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, seria um dos seus fãs.
Utilizada em cremes e soros, células-tronco da maçã “Uttwiler Spätlauber” propiciariam a regeneração celular da pele e retardariam o aparecimento de rugas. A descoberta foi feita por uma companhia suíça.
A edição de novembro da edição americana da revista Vogue chega até a denominá-la de “super-maçã”, questionando também se a fruta não poderia ser “a nova fonte da juventude”.
A “Uttwiler Spätlauber”, que foi registrada pela primeira vez no século 18, é originária do cantão da Turgóvia, no norte da Suíça. Ela é bem conhecida pela excelente capacidade de armazenamento, podendo se manter fresca por até quatro meses depois de ter sido colhida. Nesse espaço de tempo, outras variedades já teriam apodrecido.
Apesar dessas qualidades, a maçã deixou de ser cultivada nos últimos tempos. Uma razão é o seu gosto azedo. O resultado é a diminuição considerável do número de árvores plantadas.
Grande longevidade
Após a coleta de algumas amostras, pesquisadores suíços começaram a investigar e descobriram que a resposta está, sobretudo, na incrível longevidade das células-tronco dessa maçã.
As células-tronco dos seres-humanos se regeneram e mantém o balanço das células dentro do tecido da pele, além de repor o tecido danificado.
Mas com a idade, o número de células-tronco na pele diminui e sua habilidade de restauração se torna menos eficiente. O resultado piora ainda mais por danos ambientais como a radiação ultravioleta, na perda da vitalidade da pele e, inevitavelmente, rugas.
A empresa do setor de bioquímica Mibelle, que desenvolveu um creme à base da maçã, chegou à conclusão que as células-tronco estariam protegendo as células-tronco da pele do processo de envelhecimento.
“Pensamos que deve haver algo nessas maçãs que lhes dão uma sobrevida tão grande nas prateleiras”, explica Beata Hurst, chefe de vendas e marketing na Mibelle.
“Conseguimos mostrar que as células-tronco da maçã têm uma influência positiva na vitalidade das células-tronco da pele. Elas as tornam mais eficientes e permitem viver por mais tempo”, revela Hurst.
A empresa, filial da grande rede suíça de varejo Migros, utilizou uma nova tecnologia para aplicação com as células da maçã chamado “PhytoCellTec”.
Michelle Obama
O ingrediente à base da maçã tem sido agora utilizado por empresas de cosméticos na Europa, Ásia e nos Estados Unidos, incluindo também a Lancôme e Chantecaille.
De acordo com o artigo publicado na Vogue, a ícone é a primeira dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, consumidora de um soro à base da maçã fabricado por uma empresa chamada Clark. O produto custa 355 dólares.
A maçã “Uttwiller Spätlauber” foi encontrada em uma das coleções pertencentes à ProSpecieRara, uma fundação destinada a evitar a extinção espécies raras de animais e plantas na Suíça.
Seu diretor, Béla Bartha, revela que apenas 20 árvores da Uttwiller Spätlauber foram encontradas até hoje, o que para ele não foi uma surpresa. Algumas variedades de frutas têm entre uma e cinco árvores.
Salvando espécies raras
Globalmente, ProSpecieRara conseguiu preservar 1.800 variedades nos seus 25 anos atividade. Isso foi feito através da coleta de amostras, do cultivo delas e da distribuição a pessoas dispostas a trabalhar com as velhas variedades.
A maçã Uttwiller Spätlauber foi encontrada na fazenda de Hansrudolf Schweizer em Neukirch, vilarejo no cantão da Turgóvia, norte da Suíça.
Bartha afirma que ProSpecieRara tem uma estratégia de “open source”, dando às pessoas acesso aos recursos. Ela também assegura que essa biodiversidade seja cultivada nos campos ao invés de armazenada nos bancos genéticos, dando-lhe mais visibilidade.
A maçã não é a única história de sucesso no trabalho com variedades raras: um cruzamento de duas antigas variedades de batata resultou na batata azul, agora utilizada na produção de chips. O produto é vendido em todos os supermercados da Suíça.
Bartha diz que a ProSpecieRara nunca sonhou, no momento em que encontrou a Uttwiller Spätlauber no pomar do fazendeiro Schweizer, que a fruta teria um uso bem sucedido na indústria de produtos cosméticos. “Não era nosso objetivo”, diz.
Mas o caso serviu para destacar um dos pilares do trabalho da fundação, ou seja, mostrar que as antigas variedades abrigam uma riqueza genética capaz de ser aproveitada em novas aplicações.
“Descobrimos tesouros nesses coleções”, afirma Bartha.
Isobel Leybold-Johnson, swissinfo.ch
(Adaptação: Alexander Thoele)
A empresa do setor de bioquímica Mibelle lançou sua PhytoCellTec™ Malus Domestica como produto no mercado internacional em abril de 2008. Fred Zülli, gerente da unidade de negócios, explica que a companhia iniciou as pesquisas há cinco anos.
Cerca de cem empresas no mundo utilizam esse ingrediente à base de maçã, incluindo três delas na própria Suíça (como a rede de supermercados Migros). Zülli afirma que mais produtos devem ser lançados nos dois próximos anos, pois ela necessita de tempo de lançá-los.
O material bruto representa cerca de 1-2% do produto final, o cosmético. O volume de negócios da Mibelle com os produtos finais à base dessa matéria-prima é de mais de 100 milhões de dólares.
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