Juiz bloqueia ultimato para demissão de funcionários nos EUA
Um juiz federal paralisou o ultimato dado a mais de dois milhões de funcionários dos Estados Unidos para que decidam se vão pedir demissão com uma indenização equivalente a oito meses de salário, segundo o plano do bilionário Elon Musk para reduzir o tamanho da administração pública.
Os funcionários tinham nove dias para decidir entre aceitar ou não a proposta de “demissão adiada” até 30 de setembro, com a promessa de que manteriam os salários e todos os benefícios até essa data.
Mas um juiz federal de Massachusetts suspendeu nesta quinta-feira (6) à tarde o prazo que expirava à meia-noite e marcou uma nova audiência para a segunda-feira, segundo o Washington Post.
A ação foi apresentada na terça-feira pelo principal sindicato da categoria, a Federação Americana de Funcionários do Governo (AFGE, na sigla em inglês), e outras organizações para conseguir que o plano fosse suspenso e fazer com que o governo aplique “medidas que cumpram a lei em vez de um ultimato arbitrário, ilegal e demasiado breve”.
Segundo um modelo de acordo enviado aos funcionários que a AFP teve acesso, a oferta consiste em “conservar seu salário e todo os benefícios […] até 30 de setembro”.
No entanto, eles são obrigados, entre outras coisas, a renunciar a qualquer ação judicial posterior.
– ‘Lacaios’ de Musk –
“Os funcionários federais não devem se deixar enganar pela conversa de bilionários não eleitos e seus lacaios”, advertiu Everett Kelley, presidente da AFGE, em um ataque a Elon Musk, responsável pelo Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês) com o objetivo de cortar gastos em agências federais.
“Apesar das afirmações em sentido contrário, este plano de demissão adiada carece de financiamento, é ilegal e não oferece garantias. Não vamos ficar de braços cruzados e deixar que nossos membros se tornem vítimas deste golpe”, acrescentou.
Até o momento, “mais de 40 mil” funcionários federais já aceitaram a oferta, segundo a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt.
Isso representa cerca de 2% do pessoal. “Esperamos que esse número aumente. Incentivamos os funcionários federais desta cidade a aceitarem esta oferta tão generosa”, declarou ela aos jornalistas nesta quinta-feira.
A iniciativa de Musk, o homem mais rico do mundo e um dos principais doadores da campanha eleitoral de Donald Trump, angustiou os funcionários, que enfrentam diariamente ataques verbais da equipe do republicano desde que ele voltou à Casa Branca em 20 de janeiro.
Com sua oferta, o chefe da SpaceX, Tesla e da rede social X abalou profundamente as agências que por décadas administraram a principal economia mundial, abrangendo áreas que vão desde educação até inteligência nacional.
A Usaid, agência governamental responsável pela distribuição de ajuda ao redor do mundo, ficou paralisada, com ordens para que o pessoal permanecesse em casa. A Casa Branca e meios de direita a acusam de desperdício de recursos.
Trump também pretende fechar o Departamento de Educação, e colaboradores de Musk causaram alvoroço ao tentarem acessar um sistema de pagamentos altamente protegido do Departamento do Tesouro.
Os incentivos de demissão foram estendidos até mesmo à CIA. Segundo um relatório do New York Times, a agência enviou à Casa Branca uma lista de oficiais de menor escalão, cujo desligamento é mais simples.
A lista, indicou o NYT, continha nomes e iniciais dos sobrenomes dos agentes, mas foi enviada por um e-mail não sigiloso, levantando preocupações de que adversários estrangeiros possam ter acesso a suas identidades.
O “terremoto administrativo” parece imparável: um funcionário da agência que gerencia as propriedades do governo defendeu que a carteira imobiliária, com exceção dos prédios do Departamento de Defesa, seja reduzida em “pelo menos 50%”.
– Incerteza –
Os funcionários que considerarem a oferta enfrentam incertezas, entre elas a dúvida se Trump tem o direito legal de fazer essa proposta e se as condições serão cumpridas.
Musk declarou que as demissões são uma oportunidade para “tirar férias” ou “simplesmente assistir a filmes” e relaxar.
Mas os sindicatos alertam que, sem a aprovação do Congresso para o uso de recursos orçamentários federais, os acordos podem não ter validade.
Um funcionário do Escritório de Administração de Pessoal dos Estados Unidos, onde Musk colocou sua equipe em cargos-chave, admitiu à AFP, em condição de anonimato, que o plano consiste em fomentar demissões por meio do “pânico”.
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