RDC acusa Ruanda de ‘declarar guerra’
A chanceler da República Democrática do Congo (RDC), Thérèse Kayikwamba Wagner, denunciou neste domingo, perante o Conselho de Segurança da ONU, a entrada de mais tropas de Ruanda em seu país, uma ação que definiu como “uma declaração de guerra.”
“Mais tropas ruandesas cruzaram os portões 12 e 13 do posto fronteiriço que separa Goma [RDC] de Gisenyi [Ruanda], entrando em nosso território em plena luz do dia, em uma violação aberta e deliberada da nossa soberania. É uma agressão frontal, uma declaração de guerra que não se esconde atrás de truques diplomáticos”, disse a ministra, durante uma reunião de emergência do Conselho.
Thérèse pediu sanções políticas e econômicas contra Ruanda, cujas tropas apoiam o grupo rebelde M23, majoritariamente tutsi, em sua ofensiva para alcançar a capital da província de Kivu do Norte, Goma, uma região rica em minerais.
“O Conselho de Segurança deve impor sanções seletivas que incluam o congelamento de ativos e a proibição de viajar, não apenas contra os membros identificados da cadeia de comando das Forças Armadas ruandesas, mas também contra os responsáveis políticos por essa agressão”, ressaltou a ministra, que também pediu “um embargo total às exportações de todos os minerais rotulados como ruandeses”.
A sessão do Conselho foi antecipada devido à escalada da violência no leste da RDC, que causou a morte de 13 membros de forças de paz. Os Estados Unidos condenaram a ofensiva de Ruanda e do M23, pediram um cessar-fogo e alertaram que Washington vai usar todas as ferramentas disponíveis contra aqueles que estimulam o conflito.
Após o fracasso da mediação de Angola, o M23 e mais de 3 mil soldados de Ruanda, segundo a ONU, avançaram rapidamente nas últimas semanas, e agora cercam Goma, cidade de 1 milhão de habitantes. Nos últimos anos, o M23 se apoderou de grandes extensões de território no leste da RDC, alegando defender a população tutsi do Congo.
– Explosões –
Fontes da segurança e da ONU informaram que um drone de Ruanda abriu fogo neste domingo contra posições congolesas a cerca de 6 km de Goma. Segundo fontes da missão da ONU na RDC (Monusco), dois paramilitares ficaram gravemente feridos.
Outros bombardeios atingiram o campo de deslocados de Rusayo, nos arredores de Goma, segundo fontes humanitárias. No centro da cidade, explosões foram ouvidas desde o amanhecer, enquanto helicópteros do Exército congolês sobrevoavam a área.
A maioria das lojas ficou fechada e houve saques em bairros da periferia. O Exército da RDC acusou Ruanda de estar “determinada a tomar a cidade de Goma”.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu hoje que as forças de Ruanda se retirem do território da RDC e cessem seu apoio ao M23, informou seu porta-voz, Stephane Dujarric.
“O secretário lembra às partes em conflito suas obrigações em virtude do direito humanitário internacional. Lembra que os ataques contra a equipe das Nações Unidas pode constituir um crime de guerra”, advertiu Dujarric.
Três membros das forças de paz morreram nas últimas 48 horas no leste da RDC. A comunidade internacional reiterou seus apelos aos rebeldes para que detenham seu avanço sobre Goma.
A ONU começou a retirar parte dos seus funcionários da cidade. Estados Unidos, França, Reino Unido e Alemanha pediram que seus cidadãos deixem Goma enquanto o aeroporto e as fronteiras ainda estão abertos.
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