Depois de Aleppo, rebeldes sírios tomam a cidade de Hama
Rebeldes sírios liderados por islamistas radicais entraram, nesta quinta-feira (5), na cidade estratégica de Hama, no centro da Síria, após confrontos com o exército do presidente Bashar al Assad, que reconheceu sua derrota.
Hama está situada no eixo que leva a Homs, no centro, e à capital, Damasco, que são hoje as duas únicas grandes cidades nas mãos de Assad, cada vez mais enfraquecido pela ofensiva relâmpago dos insurgentes lançada do norte.
À noite, dezenas de milhares de habitantes de Homs, em especial membros da comunidade alauita, à qual pertence Al Assad, fugiram para a costa oeste, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).
Os rebeldes liderados pelos radicais islamistas do Hayat Tahrir al Sham (HTS) tomaram a maior parte de Aleppo, a segunda cidade do país, e continuaram seu avanço em direção a Hama, mais ao sul. Segundo o OSDH, mais de 800 pessoas morreram, entre combatentes e civis.
“O que aconteceu hoje” em Hama “é uma medida tática temporária, nossas forças continuam próximas da cidade”, declarou o ministro da Defesa sírio, Ali Abbas, referindo-se a uma “redistribuição” das forças governamentais.
No entanto, os moradores de Homs, terceira maior cidade da Síria, afirmaram temer o avanço dos rebeldes.
“O medo domina a cidade”, disse Haidar, morador de um bairro alauíta, em contato por telefone com a AFP. Ele contou que pretende fugir o mais rápido possível para Tartus, um reduto alauíta no litoral, para onde já levou seus pais.
Parte dos residentes de Hama saíram às ruas para receber os rebeldes, a pé ou de carro, aplaudindo sua chegada, mostram imagens da AFP. Algumas pessoas incendiaram um retrato enorme de Bashar al Assad que estava pendurado nas paredes de um prédio municipal.
Ao entrarem em Hama, alguns rebeldes atiraram para o alto, enquanto outros se ajoelharam para rezar, segundo imagens da AFP.
– “Liberação total” –
A coalizão rebelde anunciou pelo Telegram a “liberação total de Hama” e que suas forças “entraram na prisão central de Hama e libertaram centenas de prisioneiros detidos injustamente”.
O chefe do HTS, Abu Mohammad al-Jolani, prometeu em uma mensagem em vídeo que não haveria nenhuma “vingança” em Hama. Ele disse que seus combatentes entraram na cidade “para fechar a ferida aberta há 40 anos”.
Hama, a quarta maior cidade da Síria, foi cenário, em 1982, de um massacre executado pelo exército comandado pelo pai do presidente Bashar al-Assad, que reprimiu uma insurreição da Irmandade Muçulmana.
Os confrontos travados desde o início da ofensiva rebelde são os primeiros desta magnitude desde 2020 na Síria, onde uma guerra civil devastadora eclodiu em 2011, deixando meio milhão de mortos.
O país está dividido em várias zonas de influência, onde as partes em conflito contam com o apoio de diversas potências estrangeiras.
Desde o início da ofensiva rebelde, em 27 de novembro, os combates e os bombardeios deixaram 826 mortos, incluindo 111 civis, segundo o OSDH, ONG sediada no Reino Unido que possui uma ampla rede de fontes de informação na Síria.
– “Fracasso coletivo” –
O secretário-geral da ONU, António Guterres, exigiu o fim da “massacre” na Síria, atribuindo-a a um “fracasso coletivo crônico” em alcançar uma solução política para o conflito.
Com o apoio militar da Rússia, do Irã e do movimento libanês pró-iraniano Hezbollah, o regime recuperou grande parte do país em 2015 e, em 2016, toda Aleppo, cuja parte oriental havia sido tomada pelos rebeldes em 2012.
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, cujo país é um importante aliado dos rebeldes, pediu a Assad que encontre “urgentemente” uma “solução política”.
A Rússia e o Irã, principais aliados de Damasco, estão em “contato próximo” com a Turquia, de acordo com a diplomacia russa.
Enfraquecido por dois meses de guerra aberta com Israel, o Hezbollah reafirmou nesta quinta-feira seu apoio ao governo de Bashar al Assad.
O chefe do HTS, Abu Mohammad al Julani, instou o Iraque a se manter à margem do conflito.
“A perda de Hama é um golpe muito duro para o governo sírio, especialmente após sua derrota em Aleppo. Foi lá que o Exército tentou reverter a situação […], mas não conseguiu”, disse à AFP Aron Lund, pesquisador do centro de estudos Century International.
“Agora, o HTS tentará avançar em direção a Homs”, acrescentou.
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