Devemos temer o coronavírus de Wuhan?
O coronavírus de Wuhan é agora uma “emergência sanitária internacional” de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), que por outro lado não recomenda restringir os movimentos com a China. Temos então razão para entrar em pânico? Chequemos os fatos.
Por que chama-lo de coronavírus?
Porque sob o microscópio ele parece estar rodeado por uma coroa. O 2019-nCoVLink externo está na mesma família do vírus SARS Link externo(Síndrome Respiratória Aguda Grave), que apareceu na China em 2003, e do MERS Link externo(Síndrome Respiratória do Oriente Médio), que apareceu na Arábia Saudita em 2012.
De onde vem o 2019-nCoV?
De um animal, cobra ou morcego, que o teria passado para um humano, provavelmente no mercado de Wuhan. É importante saber que os chineses gostam de todo o tipo de carne que não se encontra nos nossos supermercados ocidentais. E para garantir o frescor, os mercadores oferecem animais vivos.
Como se transmite o vírus?
Como seus predecessores, o coronavírus de Wuhan pode passar de animais para humanos e de humanos para humanos. Ele é transmitido através de contato muito próximo com um animal ou pessoa doente – contato íntimo, tosse ou espirro, habitat partilhado, ou cara a cara a menos de um metro de distância duma pessoa infectada.
Até que ponto ele é perigoso?
Aqui, há dois fatores a serem levados em consideração: transmissão (o 2019-nCoV é transmitido com bastante facilidade) e taxa de mortalidade (proporção de pessoas que morrem por total de infectados), lembra o epidemiologista Harris Héritier. Atualmente, o New England Journal of Medicine (EUA) estima a letalidade do vírus Wuhan em cerca de 4%. Em comparação, a taxa foi de 9,5% para o SARS e 34% para o MERS.
Existem grupos específicos de risco?
“Suspeitamos que sim, mas com base em epidemias anteriores”, explica Harris Héritier. “De fato, os dados ainda não nos permitem dizer se existem grupos mais vulneráveis que outros. E pode ser perigoso fazer suposições nessa direção, porque vimos com a gripe espanhola que as pessoas mais vulneráveis eram as que tinham maior imunidade.”
De que modo esses coronavírus são mais perigosos que os da gripe sazonal?
A gripeLink externo mata entre 290.000 e 650.000 pessoas em todo o mundo a cada ano (de acordo com estimativas da OMS), mas isso representa apenas cerca de 0,1% das pessoas que contraem a gripe. Sua taxa de mortalidade é, portanto, baixa, como havia sido a da gripe espanhola (que também surgiu na China, apesar do nome) de 1918 a 1919: cerca de 2%, mas que se espalhou tanto que causou 50 a 100 milhões de mortes , de acordo com estimativas.
Mais de 90% das pessoas que contrairão a doença não morrerão – mas como serão os efeitos para elas?
“Pode parecer uma gripe, mas não conhecemos todos os sintomas possíveis e todos reagem de maneira bem diferente”, explica Harris Héritier. “Isso significa que as pessoas que pegaram a gripe apenas ficaram em casa, se recuperaram e não entram nas estatísticas”. Portanto, o número real de casos é maior do que sabemos, o que reduz a taxa de mortalidade geral.
Existe algum remédio contra o 2019-nCoV?
Não. Não mais do que havia contra outros coronavírus. Quando os pacientes são afetados por uma forma grave da doença, os médicos tentam evitar outras complicações respiratórias ou infecciosas. Por outro lado, a sequência genética do vírus de Wuhan foi identificada em tempo recorde e vários potenciais vacinas estão nos trilhos, na China, nos Estados Unidos e na Austrália. Mas, considerando o tempo necessário para testes, a vacina provavelmente chegará tarde demais.
As máscaras faciais são úteis?
Na Suíça (onde nenhum caso de doença foi registrado ainda, lembre-se), as farmácias estão esgotadas. Como em outros países. Alguns aproveitam a oportunidade para revendê-las a preços proibitivos na internet. No entanto, essas máscaras são realmente úteis apenas para pessoas que já estão doentes, para evitar contaminar outras pessoas. Como repetem todas as autoridades de saúde, tendo em mente a OMS, a precaução número um é lavar as mãos com muito cuidado.
Por fim, o pânico que está tomando conta da mídia, redes sociais e parte do público é justificado?
Das pragas da Idade Média ao Ebola, o ser humano sempre temeu uma peste que mataria a todos nós. E de Hieronymus Bosch a Stephen King, passando por todos os autores de romances, filmes e séries apocalípticas, os humanos não cansam de encená-lo, como uma criança que gosta de sentir medo.
O último relatório da OMS (em 31 de janeiro) registra cerca de 15.000 casos confirmados em todo o mundo e 370 mortes, todos na China exceto um nas Filipinas. Nas redações – incluindo a swissinfo.ch – há uma constante pergunta sobre o lugar a ser dado a essa notícia, entre o dever de fornecer informações e o risco de alimentar o pânico. Nas redes sociais, por outro lado, exagero, desinformação e histeria são mais contagiosos que o vírus.
Como lembrete, o SARS desapareceu em um ano depois de matar 800 pessoas e o MERS ainda está no ar, mas matou “apenas” 838 pessoas oficialmente até o momento.
swissinfo.ch/ets
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