Cern espera “grandes descobertas” em 2010
Depois de realizar com sucesso as primeiras colisões de prótons na máquina do Big Bang, na fronteira da Suíça com a França, a Organização Europeia de Pesquisa Nuclear (Cern) espera "descobrir algo grandioso já no próximo ano" sobre a origem do universo.
O Cern conseguiu na segunda-feira (23/11) disparar dois feixes de prótons em sentidos opostos no anel de 27 km do Grande Colisor de Hádrons (LHC), permitindo aos operadores testar a sincronização dos feixes e observar as primeiras colisões de partículas subatômicas.
Segundo um comunicado do Cern, os feixes foram primeiramente otimizados para se cruzar no detector Atlas, que registrou seu primeiro candidato a colisão às 14h22 (horário local). Depois, foram otimizados para os subsistemas CMS, Alice e LHCb.
A bem-sucedida reativação da “máquina do Big Bang” no último sábado, após 14 meses de consertos, foi festejada pelos cientistas. Cerca de 3 mil pesquisadores que participam do mais caro experimento científico do mundo esperam os primeiros resultados para 2010.
“Simplesmente tremendo”
“Esta é uma grande notícia, o início de uma época fantástica da Física e esperamos descobertas de igual tamanho, depois de trabalhar 20 anos pela comunidade internacional para construir uma máquina assim, de complexidade e desempenho sem precedentes”, disse a porta-voz do subsistema Atlas, Fabiola Gianotti, em uma nota do Cern à imprensa.
“Já temos agora um altíssimo potencial para descobertas”, acrescentou a física italiana. “Provavelmente vamos descobrir algo grandioso já no próximo ano”, disse Gianotti.
Segundo Tejinder Virdee, porta-voz do subsistema CMS, “os eventos marcam o início da segunda metade desta incrível viagem de descoberta dos segredos da natureza”.
“Com as primeiras colisões, houve ovações na sala de controle do Alice”, disse Jurgen Schukraft, porta-voz dessa parte da máquina do Big Bang. “Isso é simplesmente tremendo.”
Durante a injeção de energia, os prótons atingiram 450 GeV (gigaeletrons volts). Somente no ano que vem deverão circular com 3500 gigaeletrons volts, o que significa 3,5 vezes a potência do acelerador de partículas Tevatron do Fermilab, perto de Chicago (EUA). A potência máxima possível no LHC é 7.000 GeV.
“O que fizemos até agora foi trabalhar com o que chamamos ‘beam’ (mecanismo experimental) de baixa intensidade. Seguiremos assim até que estarmos convencidos de que manejamos a máquina suficientemente bem para poder dirigir ‘beams’ de maior intensidade e de maneira segura para no danificar o equipamento”, explicou o porta-voz do Cern à swissinfo.ch.
“Como um carro novo”
Segundo o diretor do LHC, Steve Myers, os primeiros três dias de operação já foram um “enorme sucesso”, mas ainda vai demorar muito até se chegar a resultados sobre partículas ainda desconhecidas do universo. “É como um carro novo – nós começamos acelerando devagar”, explicou o diretor do Cerna, Rolf Heuer, a jornalistas em Genebra.
O LHC foi ativado em 10 de setembro de 2008, mas sofreu uma pane nove dias depois de entrar em funcionamento. Na sua inauguração oficial, em outubro do ano passado, ele estava desativado. O conserto demorou mais do que o esperado e custou 27 milhões de euros.
Com o projeto de aproximadamente 4 bilhões de euros, os cientistas pretendem demonstrar os princípios da teoria do Big Bang – uma explosão que teria dado origem ao universo – e decifrar enigmas fundamentais da natureza.
swissinfo.ch com agências
O Cern, a Organização Européia para a Pesquisa Nuclear (a sigla Cern vêm do antigo nome em francês Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire) foi fundado em 1954 por 12 países, inclusive a Suíça. Atualmente, conta com 20 países-membros.
Com cerca de 3.000 funcionários fixos, aproximadamente 6.500 cientistas visitantes e um orçamento de 1,1 bilhão de francos (2008), é o maior centro mundial de pesquisa na área da Física Quântica.
O LHC (Large Hadron Collider) é um túnel de 27 km de comprimento, situado a 100 m de profundidade, na fronteira da Suíça com a França.
Os cabos utilizados no LHC totalizam uma distância equivalente a 10 vezes a distância entre a Terra e o Sol.
No LHC, os prótons giram a mais de 99% da velocidade da luz. Esses prótons são extraídos do hidrogênio. Mesmo com essas velocidades, a máquina levaria um milhão de anos para “queimar” um grama de hidrogênio.
A colisão prevista na “máquina do Big Bang” gera temperaturas que podem chegar a bilhões de graus. Em uma fração de segundo, um ponto minúsculo pode ser mais quente do que uma galáxia.
Inversamente, o coração do LHC é o maior congelador do mundo; 700 mil litros de hélio líquido mantêm os ímãs a –271,25 graus centígrados, temperatura mais baixa do que no espaço sideral.
Os detectores do LHC produzirão 700 mil gibabytes de dados por segundo e serão conservados para análise no que equivale a 100 mil DVDs duplos por ano.
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