Perspectivas suíças em 10 idiomas

Cresce temor de resistência ao Tamiflu

Funcionários da Roche preparam embalagens de Tamiflu. Keystone

O antiviral fabricado pela Roche é considerado uma das principais armas contra a gripe suína, mas deve ser usado com cautela para não criar resistências, adverte um perito suíço.

O governo suíço mantém um estoque de 30 milhões de doses do medicamento, o suficiente para tratar um quarto população do país, caso ocorra uma pandemia.

O vírus influenza A(H1N1) – conforme a nova denominação dada pela OMS e conhecido como gripe suína – atinge mais de uma dezena de países, com mais de 200 casos confirmados, e a Organização Mundial da Saúde (OMS) adverte sobre o risco iminente de uma pandemia.

A insegurança é grande, mas, segundo o historiador zuriquense Philipp Sarasin, as autoridades e também os meios de comunicação até agora reagiram sem pânico.

O fato de o vírus ser transmissível entre seres humanos, no entanto, torna mais difícil seu combate. Preocupadas, muitas pessoas na Suíça estariam comprando o Tamiflu para se proteger do vírus, noticia a imprensa local.

Segundo Pietro Vernazza, diretor do Departamento de Doenças Infecciosas do Hospital de St-Gallen, tanto o Tamiflu quanto o Relenza (fabricado pela britânica Glaxo) são ferramentas essenciais para combater uma possível pandemia.

“Tamiflu e Relenza são muito importantes, mas devem ser usados com muito cuidado”, explica Vernazza à swissinfo.

“O temor é que, se os usarmos de forma imprópria pode ser criado um maior risco de resistência que se desenvolva muito rapidamente. Se conseguirmos impedir o desenvolvimento da resistência do vírus, estes medicamentos salvarão vidas”.

Não estocar em casa

Vernazza explica que o medicamento (Tamiflu) não deve ser usado como preventivo para o conjunto da população e sim ser dado nas 12 primeiras horas ao paciente que mostra sintomas de gripe suína. Se o tratamento for iniciado tarde demais, a efetividade do medicamento seria reduzida e aumentariam as possibilidades de resistência.

Não é a primeira vez que surgem temores sobre uma possível resistência virótica ao Tamiflu. Em 2006, pesquisadores da Escola Politécnica Federal de Zurique advertiram sobre os perigos de usar o antiviral como preventivo.

Também em 2006, durante a última onda de gripe aviária, o grupo farmacêutico Roche se viu obrigado a reconhecer que alguns dos vírus mostravam sinais de resistência ao Tamiflu. Hoje a própria fabricante recomenda que não se estoque o medicamento em casa.

“O Tamiflu é um produto estável que age até sete anos após a fabricação, desde que armazenado em condições controladas. Se ele for estocado em casa, perde a validade após cinco anos”, disse porta-voz da empresa, Martina Rupp, ao jornal Bund.

Vernazza explica que o vírus da gripe aviária era dez vezes mais mortal do que o da gripe suína, que parece ter uma taxa de mortalidade de aproximadamente 5% entre adultos e jovens saudáveis. Mas este último vírus tem mais possibilidades de propagação.

Outro problema da gripe suína é que é muito difícil de ser detectada, já que o vírus se parece com o da gripe normal. Além disso, as pessoas infectadas são mais contagiosas no dia anterior ao aparecimento dos sintomas, o que torna quase impossível conter a doença, segundo Vernazza.

Fechar as escolas

A única maneira de conter a expansão dos contágios é impedir a reunião de pessoas, acrescenta. “Para reduzir as possibilidades de propagação, seria necessário fechar as escolas, os museus e teatros, qualquer lugar que as pessoas se reúnem.”

Segundo o perito, “os modelos matemáticos mostraram que, limitando estes encontros, se pode frear bastante a expansão da enfermidade.”

Vernazza comparou a propagação do novo vírus à gripe espanhola (também causado por um vírus H1N1, que matou pelo menos 25 milhões de pessoas entre 1918 e 1920. Sem dúvida, são duas épocas muito diferentes.

“Em 1918, a situação era completamente diferente, não se tinha consciência do problema, não se podia detectar o vírus, a pandemia ocorreu logo após a Primeira Guerra Mundial e não existiam medicamentos para combater a infecção”, conclui.

swissinfo, Matthew Allen/Geraldo Hoffmann

A Roche informou que atendeu na quarta-feira a um pedido de 220 milhões de cursos de tratamento solicitados pela OMS e por governos como parte dos esforços para conter um agravamento da epidemia de gripe suína.

A companhia já doou 2 milhões de doses de Tamiflu à OMS e disse dispor de outros 3 milhões adicionais, caso sejam necessárias.

Em 2006, a companhia doou 5 milhões de pacotes de Tamiflu para a OMS, além de 5 milhões de cursos de tratamento com base no medicamento.

No final de 2004, a Roche tinha capacidade de fabricar somente 28 milhões de kits de Tamiflu por ano. Hoje diz ter uma capacidade global de produção anual de 400 milhões de kits de tratamento.

A pedido do governo suíço, desde 2004, ela mantém em seus depósitos, 30 milhões de doses de Tamiflu, suficientes para atender 25% da população do país em caso de pandemia.

Na Suíça, o Tamiflu só é vendido sob receita médica (com raras exceções). Uma caixa com 10 cápsulas do medicamento custa 83 francos (160 reais).

Os mais lidos
Suíços do estrangeiro

Os mais discutidos

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR