ETH apresenta projetos de integração entre favela e cidade no Brasil
Nos próximos anos, com o desenvolvimento da aplicação prática de conceitos como sustentabilidade, mobilidade urbana, acessibilidade e integração social, qual deverá ser a relação das grandes cidades com suas favelas?
Em busca de respostas para essa questão, a Escola Politécnica de Zurique (ETH) realiza nas duas maiores metrópoles brasileiras – São Paulo e Rio de Janeiro – projetos acadêmicos em áreas de grande concentração urbana, onde pretende demonstrar que é possível o planejamento para uma boa convivência social, econômica e ambiental entre os diversos setores da cidade contemporânea.
Com a presença do presidente da ETH, Ralph Eichler, e de autoridades públicas paulistanas e cariocas, além de arquitetos, estudantes e jornalistas, os projetos desenvolvidos pela universidade suíça no Brasil foram apresentados durante o evento “Favelacity Exchange – visões para a transformação da cidade”, realizado no Rio de Janeiro em 26 de junho.
A apresentação aconteceu no Studio X, espaço de exposições e eventos mantido no Rio de Janeiro pela Universidade de Columbia (EUA), que é parceira da ETH. Os destaques foram os projetos com conceitos de mobilidade para a região Maracanã-Mangueira (Zona Norte do Rio) e de melhoria sustentável na favela Cidade de Deus (Zona Oeste). Também foi apresentado o projeto urbanístico para a favela Jardim Colombo, que faz parte do Complexo de Paraisópolis, em São Paulo.
Professor da ETH responsável pelo projeto Maracanã-Mangueira, Hubert Klumpner afirma que a região tem espaços muito fragmentados entre si, apesar de estar no coração da cidade: “Várias linhas de trem importantes passam por lá, oferecendo acesso rápido aos subúrbios no norte e noroeste da cidade. Mas, existe uma fratura entre os espaços urbanos, e nossa tarefa é desenvolver novos modelos de mobilidade para começar a conectar e integrar as áreas separadas dentro desse território”, diz.
O território que é objeto do projeto da ETH compreende os bairros de São Cristóvão, Maracanã e Rocha, além das favelas Mangueira, Morro dos Telégrafos e Parque Candelária. Nele estão pontos de grande interesse público no Rio de Janeiro, como o Estádio Mário Filho (Maracanã), a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), o Museu Nacional, a Quinta da Boa Vista e o Jardim Zoológico.
CDD
Na Cidade de Deus, o projeto coordenado pelo professor Marc Angéli procura valorizar as práticas sustentáveis desenvolvidas na comunidade e mudar positivamente a visão que a cidade tem da favela: “Depois que recebeu as unidades de pacificação da Polícia Militar, a comunidade Cidade de Deus pode ser considerada como um caso de estudo muito útil de como favelas podem fornecer respostas sobre a transformação da cidade em um ambiente mais sustentável, mais inclusivo e mais agradável”, afirma a ETH.
Já em São Paulo, no Jardim Colombo, o objetivo da universidade suíça é realizar um inventário morfológico da favela e elaborar um estudo sobre as estruturas em constante movimento de um assentamento popular informal. Os projetos em São Paulo são coordenados pelos professores Christian Kerez e Rainer Hehl. Este último, professor do Master Advanced Studios (MAS) da ETH, coordena quatro arquitetos formados pela Escola Politécnica de Zurique em um projeto de desenvolvimento de protótipos na favela Cabuçu de Baixo.
Interdisciplinaridade
O presidente da ETH, Ralph Eichler, comemorou o “engajamento intenso” da universidade suíça em projetos no Brasil: “São vivências muito ricas, que abordam vários aspectos da questão urbana e dão aos professores e estudantes da ETH responsabilidades interdisciplinares. Vim aqui ver o que os estudantes e arquitetos estão fazendo e aprender muito, pois eles estão em contato com os problemas do Brasil. Não vim aqui dizer a eles o que fazer”.
Sobre a interdisciplinaridade, Eichler frisou a possibilidade de se buscar soluções não somente urbanísticas, mas também sociais e ambientais para a relação entre as cidades e suas favelas: “Na ETH, os cientistas sociais convivem de perto com os engenheiros. Tenho absoluta certeza de que somente a tecnologia não é suficiente para resolver todos os problemas das cidades. Nós precisamos de cientistas sociais e de estudos que provoquem mudanças de comportamento”, disse.
Eichler citou um exemplo da mudança comportamental que espera ver acontecer nas grandes metrópoles nos próximos anos: “Por quê tanta gente dirige carros pequenos para uma só pessoa? As populações das grandes cidades precisam tirar esse costume da cabeça. Cientistas, arquitetos, estudantes, ambientalistas, precisamos todos trabalhar juntos para essa mudança de cultura”, pregou.
Favelas urbanizadas
Coordenador de Planejamento e Projetos da Secretaria Municipal de Habitação do Rio de Janeiro, Antonio Veríssimo saudou as iniciativas da ETH na cidade e afirmou que estudos como os realizados pela universidade suíça podem ajudar a distribuir os equipamentos públicos de forma mais democrática aos cidadãos: “O atual momento do Rio, com os diversos grandes eventos que acontecerão na cidade, pode ser catalisador de melhoras para o planejamento urbano e pode deixar um legado muito positivo para a população. A nossa meta é ter todas as favelas do Rio urbanizadas até 2020”, disse.
Para a coordenadora de Projetos da Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo, Maria Tereza Diniz, qualquer projeto urbanístico na capital paulista, até alguns anos atrás, se resumia na construção de conjuntos residenciais idênticos, conhecidos como “Cingapuras”. Isso mudou, segundo ela, que afirma ainda ser preciso investir muito em urbanismo: “Hoje, existe coleta de esgoto em 82% da cidade de São Paulo, mas se levarmos em conta somente as favelas, esse índice cai para 53%.”, exemplificou.
O presidente da ETH, Ralph Eichler, aproveitou sua passagem por Rio de Janeiro e São Paulo para fazer visitas às principais universidades e institutos de pesquisa das duas cidades, além de participar de reuniões com empresários e debates com estudantes universitários de diversos setores.
O momento mais marcante vivido pela equipe da ETH vinda de Zurique, entretanto, foi a visita ao Complexo do Alemão.
Acompanhado pelos professores Hubert Klumpner e Rainer Hehl, além do cônsul-geral da Suíça no Rio de Janeiro, Hans-Ülrich Tanner, o presidente da ETH viajou no teleférico que liga as comunidades da parte baixa à parte alta do complexo de favelas.
Rio de Janeiro
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