Onda de calor na Suíça bate recorde de temperaturas

Os Alpes suíços são um destino popular para quem quer fugir do calor do verão. Mas altas temperaturas foram registradas nas últimas semanas, mesmo em altitude. © Keystone / Gian Ehrenzeller

Uma brutal onda de calor se instalou na Europa no final do verão, causando temperaturas recorde na Suíça. Glaciólogos se preocupam com o futuro das 1.400 geleiras no país.

A nação alpina geralmente é considerada um lugar ideal para fugir do calor do verão. Mas, nesse final de agosto, uma zona atípica de alta pressão encobriu os Alpes. Somada ao ar quente vindo do sudoeste da Europa e do norte da África, ela criou uma cúpula de calor que empurrou as temperaturas para níveis recorde.

As estações meteorológicas suíças registraram novas temperaturas máximas para a segunda metade de agosto, e os recordes também estão sendo estabelecidos acima de nossas cabeças.

No dia 21 de agosto, o serviço meteorológico suíço MeteoSwiss relatouLink externo que a linha de zero grau – altitude na qual a temperatura cai abaixo de 0°C – havia sido medida a 5.298 metros de altitude, mais de 100 metros acima do recorde anterior de 5.184 metros, registrado em julho do ano passado.

O que é a linha de zero grau e por que ela é importante?

A linha de zero grau é um importante indicador meteorológico, sobretudo nas regiões montanhosas, pois “afeta a vegetação, a neve e o ciclo da água, tendo repercussões significativas nos habitats de humanos, animais e plantas”, explicaLink externo o MeteoSwiss.

Nas últimas décadas, a mudança climática causada pelo ser humano levou a linha de zero grau a “aumentar significativamente a cada estação”, afirmaLink externo o MeteoSwiss, destacando também que foram registrados recordes sucessivos do indicador nos últimos dez anos.

Por que os glaciólogos suíços estão preocupados?

Glaciólogos afirmam que o novo recorde da linha de zero grau é um sinal preocupante. Para Matthias Huss, diretor da Glacier Monitoring Switzerland (GLAMOS), trata-se de uma “mudança de regime” e “outro golpe contra as geleiras”, que já haviam sofrido bastante este ano.

“É muito claro que as geleiras estão derretendo cada vez mais rápido com esse calor em alta altitude”, disse ele à empresa de rádio e televisão pública RTS. “As geleiras já estavam em péssimas condições em comparação aos anos anteriores. Houve muito derretimento em junho e julho, e agora esse calor está piorando a situação.”

No ano passado, as geleiras alpinas atingiram novos recordes de derretimento devido à combinação de uma baixa cobertura de neve invernal, da chegada de poeira saariana em março e das ondas de calor entre maio e o início de setembro. As geleiras suíças perderam cerca de 6% do seu volume de gelo entre 2021 e 2022. No passado, uma perda de 2% já era considerada extrema.

“Com a isoterma de zero grau muito acima dos 5.000 metros, todas as geleiras nos Alpes estão sujeitas ao derretimento – mesmo em suas altitudes superiores”, disse o glaciólogo Daniel Farinotti, que trabalha no Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, ao jornal Associated Press. “Tais eventos são raros e prejudiciais para a saúde das geleiras, uma vez que elas dependem da neve acumulada em altas altitudes.”

“Se essas condições persistirem a longo prazo, as geleiras estarão condenadas a desaparecer irreversivelmente.”

Huss é igualmente pessimista quanto ao cenário a longo prazo se a atual tendência persistir.

“Em 50 anos, quando não tivermos mais geleiras, o que é um cenário provável, teremos muito menos água, especialmente em períodos quentes como este. E isso será um problema para o abastecimento de água nas terras mais baixas e para a irrigação, bem como para os ecossistemas e para a energia hidrelétrica”, concluiu.

Quais foram os recordes de temperatura atingidos nessa onda de calor?

Depois de um verão fresco e úmido, a Suíça experimentou um calor avassalador e noite tropicais no final de agosto. As temperaturas ficaram entre 33 e 35°C em muitas partes do país. Em Sion, no cantão de Valais, chegou-se a registrar 37°C.

No dia 24 de agosto, a temperatura na cidade de Genebra chegou aos 39.3°C, estabelecendo um novo recorde nacionalLink externo para este ano. Foi a segunda maior temperatura já registrada na cidade desde o início das medições. Devido ao calor extremo, o cantão de Genebra autorizou as escolasLink externo a liberarem os estudantes no turno da tarde.

“Esse episódio de calor intenso que ocorreu na segunda metade do mês de agosto é totalmente inédito na Suíça”, disse Frédéric Glassey, diretor de meteorologia na MeteoNews, à RTS.

Yann Roulet gerencia o refúgio de montanha mais alto da Suíça: o Mönchsjochhütte, não muito longe do Jungfraujoch, nos Alpes berneses.

“Já vi temperaturas altas aqui no verão, mas essa vez foi mais extrema. Parece que estamos num vale, e não a 3.657 metros de altitude. Andamos por aí usando camisetas”, disse ele ao jornal Tages-AnzeigerLink externo.

(Adaptação: Clarice Dominguez)