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Música: um amor que rompe barreiras e une culturas

Três homens tocando saxofone, acordeão e trompeta
Os filhos do músico brasileiro também seguiram seus passos. swissinfo.ch

Foi no show Águas de Março, que acontece todo ano em Winterthur, que dei de cara com Lino Botter Maio tocando com o pai, Rodrigo Botter Maio. Inacreditável.

O menino de 16 anos, criado em Zurique, maneja no acordeom clássicos da MPB, bossa-nova, tango, entre outros ritmos e estilos. 
Mas mais bonito que ouvir, é ver a conexão do filho suíço com pai brasileiro.

Do público, dá para enxergar, como nos diálogos de histórias em quadrinhos, transparentes balõezinhos com conversas trocadas pelo olhar. O menino mira o pai, que dá uma nota, e assim estabelece-se a comunicação. O público? Esse fica hipnotizado. 

Artigo do blog “Suíça de portas abertas” da jornalista Liliana Tinoco Baeckert.

O fascínio nasce não somente pelo talento musical e graça do adolescente. A admiração vem da conjunção de menino criado fora do Brasil-filho de pai brasileiro-que ama e reproduz lindamente a música nacional. Nessa relação não tem barreira da língua, choque de gerações ou diferentes valores. Quem fala mais alto é o amor paternal e musical. 

Segundo Lino, a relação íntima com a música estreita a conexão com o pai e com o Brasil. Quando questionado sobre o assunto, não titubeou: “Eu tenho certeza de que passo mais tempo com meu pai do que os meus amigos da minha idade. Eu toco com ele, conversamos sobre canções, aprendo. É muito legal. Acho que conheci os ritmos brasileiros antes do país”, conta o adolescente, que fala português fluentemente e de vez em quando toca MPB para os amigos suíços. 

Rodrigo Botter MaioLink externo confirma: “assunto é o que não falta entre a gente. Mas eu juro que nunca forcei. Vida de músico é dura. Eu não quero que meus filhos façam música só para me agradar. Mas confesso que fico muito feliz por eles gostarem. Acredito que ela una a nossa família”, diz o músico, que conheceu a esposa suíça que, apesar de arquiteta, tocava saxofone em Roma. 

De acordo com Rodrigo, o interesse de Lino pela música e pelo acordeom, seu instrumento favorito, começou quando ele tinha seis anos, ao assistir ao filme Dois Filhos de Francisco, que conta a trajetória dos cantores sertanejos Zezé Di Camargo e Luciano. “Ele ficou simplesmente vidrado e me disse que queria aprender”. De acordo com o pai, logo no início da aventura musical, Lino já conseguia tocar Asa Branca, de Luiz Gonzaga. O músico diz que criava arranjos mais simples para adaptar Trenzinho Caipira, de Villa Lobos, aos conhecimentos do filho ainda criança. Hoje ele toca e canta; não é à toa que pretende seguir carreira. 

Luis, o filho de 19 anos, também cresceu nesse ambiente e foi contaminado. Aos sete, descobriu o trompete, instrumento que, segundo Rodrigo, é difícil de tocar. Não se sabe se ele quer se tornar profissional, mas já tocou com o pai em vários concertos pela Suíça e Europa, integrando o Quarteto Bossa Nova e o Grupo Gafieira Alpina. Com apenas dez anos, o primogênito se apresentou com o pai no Jazz no Jazz, festival que acontece em Zurique todos os anos. Ele foi o participante mais jovem de todo o festival. 

O pai conta orgulhoso que o menino descobriu no ano passado Gilberto Gil e Rita Lee e que se diverte cantando sucessos dos artistas. Já compôs peça para piano, toca sempre bateria nos workshops de música, e em casa passa o dia todo no piano, ukulele, violão ou no baixo elétrico.
“Eu fico muito feliz de ter passado o gosto pela boa música. Eu fui mostrando aos poucos, e eles se interessaram”, diz Rodrigo. Definitivamente não é só amor e laços de sangue que unem a família Botter Maio. 

Poder de seduzir, comunicar e aproximar pessoas

Quem cria filhos em outro país pode ter uma dificuldade a mais para estabelecer laços culturais estreitos quando eles ficam maiores. Barreira da língua, vivências e valores diferentes e choque de gerações são capazes de distanciar seres que tanto se amam. Mas é possível criar conexão, seja por hobby, esporte, música ou gostos parecidos, além de muita compreensão, claro. 

Mas a música tem inúmeros poderes e um deles é o de unir gerações e culturas totalmente distintas. De acordo com artigo da BBC de 2015, cientistas levantaram a hipótese de que a música teria surgido como uma forma primitiva de comunicação. Pesquisadores da Universidade do Wisconsin, nos Estados Unidos, estabeleceram que certos temas musicais podem, de fato, carregar algumas das marcas registradas de apelos emocionais de nossos antepassados. Alguns sons tendem a nos colocar em alerta, enquanto tons longos e descendentes parecem ter um efeito calmante – só para citar dois exemplos.

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Homem tocando flauta

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Uma vida de choro e bossa

Este conteúdo foi publicado em Ele já gravou cinco CDs na Suíça, onde vive desde 1991 e um na Itália. Flautista, saxofonista e compositor, Rodrigo Botter Maio está lançando seu 7° CD, inteiramente dedicado ao choro. “Um gostinho de Brasil” tem quatorze faixas. Doze são composições suas e duas são os clássicos “Carinhoso” (de Pixinguinha) e “Arrasta-pé” (de Valdir Azevedo),…

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Esses padrões sonoros parecem ter um sentido universal para adultos de diferentes culturas, crianças pequenas e até outros animais. Portanto, talvez a música tenha sido calcada em associações feitas com os sons emitidos pelos animais, ajudando-nos a expressar nossos sentimentos antes de termos as palavras. Seria uma forma de “protolíngua”, que poderia ter aberto caminho para a fala.

Outras correntes acreditam que a música pode ter ajudado a moldar as sociedades humanas quando começamos a viver em grupos cada vez maiores. Dançar e cantar juntos parece ajudar os agrupamentos a serem mais altruístas e a terem uma identidade coletiva mais forte.

De acordo com uma pesquisa inovadora na área de neurociência, realizada na Grã-Bretanha, quando alguém se move em sincronia com outra pessoa, seu cérebro começa a criar uma névoa na sua percepção de si mesmo. Passa-se a pensar que os outros se parecem mais com você e compartilham das suas opiniões. E a melhor maneira de fazer as pessoas se moverem juntas é com música. O papel da música como um amálgama social também pode ser visto nas canções entoadas por escravos quando trabalhavam, por marinheiros e seus cânticos de navegação e por soldados e suas marchas.

Apesar de aumentar seu impacto, a participação ativa na música não é absolutamente necessária para sentir seus benefícios. Simplesmente ouvir uma canção que produza um “frisson musical” pode aumentar o altruísmo. Com mais solidariedade e menos disputas internas, um grupo pode ficar melhor equipado para sobreviver e se reproduzir. 

A música realmente tem um poder de união. E, ao tomar um lugar tão importante em nossas relações, parece lógico que ela também mexa com nosso coração, nos ajudando a criar uma conexão emocional.

De acordo com reportagem do Jornal Gazeta do PovoLink externo, até hoje, todas as culturas estudadas fazem alguma forma de música e entre os objetos artísticos mais antigos já encontrados estão flautas feitas de ossos de mamute, algumas com mais de 43 mil anos – ou seja, 24 mil anos antes das pinturas rupestres de Lascaux. Em vista da antiguidade, da universalidade e da profunda popularidade da música, muitos pesquisadores presumem há bastante tempo que o cérebro humano seja equipado com algum tipo de “câmara musical”, uma área específica da arquitetura cortical dedicada à detecção e interpretação dos deliciosos sinais sonoros.

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