Beznau: de símbolo de progresso à pomo da discórdia
Ao entrar em funcionamento há exatamente cinquenta anos, ela marcava o início da exploração comercial da energia atômica na Suíça. Hoje, Beznau I é uma das mais antigas usinas nucleares do mundo ainda em operação.
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Historiador da educação e nativo do cantão dos Grisões, me interesso principalmente por questões políticas e sociais.
O ônibus sai do vilarejo de Brugg, no cantão da Argóvia, e se aproxima do rio Aare. É uma paisagem típica ao norte da Suíça, onde o meio rural se mistura com áreas habitadas e industriais. Então chegamos a um lugar que a população batizou de “Vale Nuclear”.
Nele encontra-se o Instituto Paul ScherrerLink externo (PSI, na sigla em alemão), um centro especializado em pesquisa nas áreas de engenharia, incluindo energia alternativa e nuclear. Não muito distante está o depósito temporárioLink externo de resíduos radioativos de Würenlingen.
Um pouco mais adiante, em uma pequena ilha no meio do rio, é possível ver os dois prédios cilíndricos, que contém os reatores Beznau I e Beznau IILink externo.
País atômico
Beznau I é um dos reatores mais antigos ainda em funcionamento no mundo: desde 9 de dezembro de 1969 fornece energia ao país. Apenas algumas usinas na Índia e nos Estados Unidos superam a central suíça em tempo de uso.
No final dos anos 1960 a Suíça havia abandonado suas tentativas de construir o próprio reator depois que um grave acidente em Lucens, ocorrido em janeiro de 1969, enterrou o sonho de autossuficiência (ver galeria de fotos abaixo).
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O reator de Beznau I utiliza uma tecnologia importada dos Estados Unidos e abriu uma nova temporada na política energética helvética. Em 15 anos, com a construção das usinas de Beznau II (1972), Mühleberg (1972), Gösgen (1979) e Leibstadt (1984), a energia nuclear passava a cobrir 40% da demanda no país.
Mais oposição
A central de Beznau levou quatro anos para ser construída. Na época, havia um grande otimismo em relação à energia nuclear: a perspectiva de utilização pacífica da nova fonte de energia alimentou visões eufóricas de um futuro livre das preocupações energéticas.
Porém, no início da década de 1970, começou a formar-se uma oposição organizadaLink externo contra a construção de centrais nucleares. Ela era alimentada em especial pelas dúvidas crescentes à segurança do uso da energia atômica e preocupação em relação ao armazenamento dos resíduos radioativos, um problema não resolvido até hoje.
Em 1975 fortes protestos populares impediram a construção da energia nuclear no vilarejo de Kaiseraugust, no cantão da Argóvia. A ação mais espetacular foi a ocupação por onze semanas do terreno onde seria construída a nova central. Em 1988 o projeto foi definitivamente abandonado pelo governo.
Nas décadas seguintes, diversos plebiscitos levantando questões sobre a energia nuclear ocorreram na Suíça. O último ocorreu em 2017, quando os eleitores aprovaram uma nova lei que prevê o abandono progressivo da energia nuclear na Suíça.
Protestos continuam
Em março de 2014, um grupo de ativistas do Greenpeace ocupou temporariamente a área “do reator mais antigo do mundo” para exigir seu fechamento. Em 1993, ativistas da mesma ONG já haviam invadido a usina.
Em março de 2015, o reator Beznau I teve de ser desligado devido à descoberta de um defeito no reator. A empresa operadora, AxpoLink externo, excluiu riscos à segurança da população. O Inspetorado Federal de Segurança Nuclear (ENSILink externo), órgão fiscalizador, aceitou as medidas tomadas e aprovou a entrada em funcionamento do reator em março de 2018.
A decisão foi contestada. Um estudo encomendado pelo Greenpeace e pela Fundação Suíça da Energia, publicado em novembro, questiona o relatório preparado pela empresa. Os opositores da energia nuclear acreditam que a segurança de uma central nuclear tão antiga não pode ser garantida.
A Axpo, por sua vez, ressalta que investiu milhões de dólares em sistemas de segurança do reator e espera poder mantê-lo em operação por mais alguns anos. O jornal dominical NZZ am Sonntag revelouLink externo na metade de 2019 que especialistas do Departamento Federal de Energia da Suíça (SFOE) consideram a possibilidade de continuação da operação das usinas nucleares no país por mais sessenta anos.
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