Perspectivas suíças em 10 idiomas

Beznau: de símbolo de progresso à pomo da discórdia

centrale atomica
Em março de 2014, ativistas do Greenpeace ocuparam a usina nuclear de Beznau e exigiram seu fechamento. Keystone / Urs Flueeler

Ao entrar em funcionamento há exatamente cinquenta anos, ela marcava o início da exploração comercial da energia atômica na Suíça. Hoje, Beznau I é uma das mais antigas usinas nucleares do mundo ainda em operação.

O ônibus sai do vilarejo de Brugg, no cantão da Argóvia, e se aproxima do rio Aare. É uma paisagem típica ao norte da Suíça, onde o meio rural se mistura com áreas habitadas e industriais. Então chegamos a um lugar que a população batizou de “Vale Nuclear”.

Nele encontra-se o Instituto Paul ScherrerLink externo (PSI, na sigla em alemão), um centro especializado em pesquisa nas áreas de engenharia, incluindo energia alternativa e nuclear. Não muito distante está o depósito temporárioLink externo de resíduos radioativos de Würenlingen.

Um pouco mais adiante, em uma pequena ilha no meio do rio, é possível ver os dois prédios cilíndricos, que contém os reatores Beznau I e Beznau IILink externo.

País atômico

Beznau I é um dos reatores mais antigos ainda em funcionamento no mundo: desde 9 de dezembro de 1969 fornece energia ao país. Apenas algumas usinas na Índia e nos Estados Unidos superam a central suíça em tempo de uso.

No final dos anos 1960 a Suíça havia abandonado suas tentativas de construir o próprio reator depois que um grave acidente em Lucens, ocorrido em janeiro de 1969, enterrou o sonho de autossuficiência (ver galeria de fotos abaixo).

Mostrar mais
Subterranean experimental nuclear power plant in Lucens.

Mostrar mais

Acidente nuclear histórico destruiu sonhos atômicos suíços

Este conteúdo foi publicado em A usina foi inaugurada em 1962, com o objetivo de não apenas produzir energia, mas também permitir que a Suíça desenvolvesse um reator de fabricação nacional e possibilitar experimentos com energia nuclear. Mas esses planos foram deixados de lado quando ocorreu um desastre na cavidade do reator da usina em 21 de janeiro de 1969.…

ler mais Acidente nuclear histórico destruiu sonhos atômicos suíços

O reator de Beznau I utiliza uma tecnologia importada dos Estados Unidos e abriu uma nova temporada na política energética helvética. Em 15 anos, com a construção das usinas de Beznau II (1972), Mühleberg (1972), Gösgen (1979) e Leibstadt (1984), a energia nuclear passava a cobrir 40% da demanda no país.

Mais oposição

A central de Beznau levou quatro anos para ser construída. Na época, havia um grande otimismo em relação à energia nuclear: a perspectiva de utilização pacífica da nova fonte de energia alimentou visões eufóricas de um futuro livre das preocupações energéticas. 

Porém, no início da década de 1970, começou a formar-se uma oposição organizadaLink externo contra a construção de centrais nucleares. Ela era alimentada em especial pelas dúvidas crescentes à segurança do uso da energia atômica e preocupação em relação ao armazenamento dos resíduos radioativos, um problema não resolvido até hoje.

Em 1975 fortes protestos populares impediram a construção da energia nuclear no vilarejo de Kaiseraugust, no cantão da Argóvia. A ação mais espetacular foi a ocupação por onze semanas do terreno onde seria construída a nova central. Em 1988 o projeto foi definitivamente abandonado pelo governo.

Nas décadas seguintes, diversos plebiscitos levantando questões sobre a energia nuclear ocorreram na Suíça. O último ocorreu em 2017, quando os eleitores aprovaram uma nova lei que prevê o abandono progressivo da energia nuclear na Suíça.

Gráfico das usinas nucleares
swissinfo.ch

Protestos continuam

Em março de 2014, um grupo de ativistas do Greenpeace ocupou temporariamente a área “do reator mais antigo do mundo” para exigir seu fechamento. Em 1993, ativistas da mesma ONG já haviam invadido a usina.

Em março de 2015, o reator Beznau I teve de ser desligado devido à descoberta de um defeito no reator. A empresa operadora, AxpoLink externo, excluiu riscos à segurança da população. O Inspetorado Federal de Segurança Nuclear (ENSILink externo), órgão fiscalizador, aceitou as medidas tomadas e aprovou a entrada em funcionamento do reator em março de 2018.

A decisão foi contestada. Um estudo encomendado pelo Greenpeace e pela Fundação Suíça da Energia, publicado em novembro, questiona o relatório preparado pela empresa. Os opositores da energia nuclear acreditam que a segurança de uma central nuclear tão antiga não pode ser garantida. 

A Axpo, por sua vez, ressalta que investiu milhões de dólares em sistemas de segurança do reator e espera poder mantê-lo em operação por mais alguns anos. O jornal dominical NZZ am Sonntag revelouLink externo na metade de 2019 que especialistas do Departamento Federal de Energia da Suíça (SFOE) consideram a possibilidade de continuação da operação das usinas nucleares no país por mais sessenta anos.

Mostrar mais

Mostrar mais

Como a Suíça desmonta sua primeira usina atômica

Este conteúdo foi publicado em O desligamento definitivo da central de Mühleberg da rede energética não é realmente uma dor de cabeça para a Companhia Energética Bernesas (BKW, na sigla em alemão), a empresa de eletricidade que a opera. Afinal, todos os anos, as instalações são desligadas para trabalhos de inspeção. Uma vez que não será produzida eletricidade, a desmontagem e desmantelamento…

ler mais Como a Suíça desmonta sua primeira usina atômica

Adaptação: Alexander Thoele

Mais lidos

Os mais discutidos

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR