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A criminalidade em um dos países mais seguros do mundo

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Uma operação policial terminou com a prisão de um suspeito de assassinato em uma rua da cidade de Bienne, no cantão de Berna, em 12 de novembro de 2020. Keystone / Adrian Reusser

Embora a Suíça seja considerada um dos países mais seguros do mundo, a percepção da população sobre o crime contrasta com essa perspectiva em escala global. O que as estatísticas indicam? 

De acordo com o Índice de Paz Global 2020, do Instituto de Economia e Paz (IEP), a Suíça é o décimo país mais seguro do mundo. Nos primeiros lugares estão Islândia, Nova Zelândia e Portugal. 

Apesar desta percepção internacional, 61% da população na Suíça acredita que o crime aumentou nos últimos anos, e 68,8% acredita que os crimes cometidos por estrangeiros se tornaram mais frequentes na Suíça, de acordo com uma pesquisa da Universidade de Ciências Aplicadas de Zurique (ZHAW). 

Entretanto, 2,1% dos entrevistados disseram ter sido feridos fisicamente por outro indivíduo nos últimos 12 meses, 6% foram vítimas de um assalto e 0,4% de um assalto à mão armada. 

Para 55,2% dos entrevistados, a criminalidade é a segunda fonte de preocupação mais comum, após o medo de sobrecarregar o sistema social. 

A análise feita pelos pesquisadores de Zurique mostra que o medo do crime é muito pouco influenciado pela experiência pessoal, enquanto outros fatores externos entram em jogo nesta avaliação. “Quanto mais à direita do espectro político, mais as pessoas pensam que o crime é um problema”, diz o pesquisador e diretor de estudos Dirk Baier sobre as razões para esta percepção. O consumo frequente de canais privados de televisão local intensifica a preocupação com a criminalidade, enquanto o consumo de jornais nacionais a reduz, conclui o estudoLink externo

Para abrir o horizonte, pelo menos em nível europeu, basta mencionar o banco de dados do Eurostat que mostra a incidência de homicídios por 100 mil habitantes em 31 países europeus: a Suíça compartilha as últimas posiçõesLink externo com a Noruega e Luxemburgo; na tabela de roubos, a Suíça está na 21a posição.

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De acordo com o registro nacional de ocorrênciasLink externo policiais, os assaltos estão entre os crimes em declínio nos últimos anos: em 2019 diminuíram em 6,3% em comparação com 2018. Por outro lado, o número de crimes violentos graves é estável. Em 2019 houve 46 homicídios (50 em 2018), 161 tentativas de homicídios (149 em 2018), 637 violações graves de lesões corporais (585 em 2018) e 679 violações de estupro (626 em 2018). Em geral, os números da criminalidade no país alpino mostram uma tendência decrescente.

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O gráfico seguinte mostra quatro categorias de infratores de acordo com seu status de residência: residentes suíços e estrangeiros, que constituem a população permanente da Suíça em um país onde 25% da população não têm a nacionalidade suíça; pessoas envolvidas em procedimentos de asilo e pessoas com autorização de residência temporária ou sem direito de permanência em solo suíço.

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O criminologista Marcelo Aebi, especialista responsável pela compilação das estatísticas criminais anuais do Conselho da Europa, explica sobre o crime perpetrado por pessoas sem nacionalidade suíça e sem autorização de residência na Suíça:

“São pessoas que não têm acesso ao mercado de trabalho. Existe, portanto, o risco de que eles sejam ativos na economia informal. Não se trata de justificar a situação, mas de explicá-la: como posso sobreviver? Como posso conseguir dinheiro sem um emprego? O tráfico de drogas, por exemplo, é uma área clássica. Se analisarmos os dados, em particular, o grande número de pessoas originárias do continente africano aparece especialmente na área do tráfico de drogas em pequena escala. Uma questão a ser levantada.

De fato, nas estatísticas policiais sobre delitos previstos na Lei de narcóticos por pessoas sem visto de residência na Suíça, destacam-se as pessoas originárias da África Ocidental (698), seguidas de cidadãos de países da ex-Iugoslávia (538), e de longe, em termos de número, em comparação com as pessoas de outras nacionalidades. Todas as pessoas envolvidas são homens, exceto 19 mulheres (nada excepcional, pois a forte representação masculina é um achado recorrente em todas as estatísticas criminais).

Limites das estatísticas

Se nos concentrarmos novamente na população legalmente residente na Suíça – nacionais e estrangeiros – a mídia ecoa as estatísticas sobre a taxa de condenação em relação a mil habitantes da mesma nacionalidade, destacando-se também os grupos do continente africano. Nossos leitores nos pediram mais detalhes sobre estas informações, curiosos para entender por que se fala de pessoas de origem africana por área, sem mencionar nacionalidades específicas.

Nesse sentido, o Depto. Federal de Estatísticas (BSF, na sigla em alemão) ressaltaLink externo que uma das principais medidas tomadas para garantir a qualidade destas informações foi reunir em grupos regionais os acusados que apresentam uma forte incerteza na definição de sua nacionalidade. E muitas das pessoas que foram inscritas várias vezes nos registros criminais com duas nacionalidades diferentes são precisamente de nacionalidade africana.

Assim, de acordo com os dados do registro criminal relativos às sanções sob o código penal, a região da África Meridional tem a maior taxa de condenação por mil nacionais (30) com 52 pessoas condenadas, seguida pela África Ocidental (21,7) com 279 pessoas denunciadas. Entretanto, em números absolutos, os suíços estão em maioria com 13.842 pessoas (e uma taxa de condenação de 2,6) seguidos por pessoas da antiga Iugoslávia, 1.810, (7,6) e Portugal, 1.232 (6,1).

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O professor Aebi e o própria BFS apontam que é impossível tirar conclusões sobre os motivos da criminalidade apenas com base em estatísticas, pois estas não incluem variáveis como nível de educação, status social, renda, solidariedade de uma família ou rede comunitária e tempo de permanência no país ou o motivo da migração no caso de um estrangeiro.

Entretanto, o especialista adverte sobre a importância de divulgar os dados existentes sobre o crime. “Em uma sociedade democrática, o acesso à informação deve ser garantido. Por outro lado, quando falamos de sobre-representação, a questão se torna muito rapidamente um debate ideológico. Como cientista tenho de reagir aos dados. E a questão da forte representação de estrangeiros é um problema da Europa Ocidental. E a Suíça é um caso particular, provavelmente devido, entre outros fatores, à sua posição geográfica e ao seu poder de compra.

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