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Amor e outras histórias na visão de uma imigrante

Lígia Braz assinando o livro em Zurique. swissinfo.ch

Uma brasileira falando de amor em outros continentes. Essa é a temática do livro da escritora e jornalista Lígia Braz, que veio à Zurique apresentar sua obra com um acompanhamento musical de forró.

swissinfo.ch encontrou a autora, conhecida também por ter lançado uma das mais bem sucedidas revistas dedicadas à comunidade brasileira na Alemanha.

A sala no prédio onde também está sediado o Cebrac (Centro Brasileiro de Ação Cultural) em Zurique já estava cheia nessa tarde de sábado. Foi quando Lígia Braz começou a fazer a leitura acompanhada pelo músico brasileiro Chico Chagas. “Não me sentia apaixonada. A expressão mais exata seria inebriada, encantada”, declamou um dos trechos do texto, com o som nostálgico de uma sanfona ao fundo, a uma plateia de dezenas de pessoas.

Essa escritora e jornalista, imigrante brasileira residente em Stuttgart, Alemanha, há quase duas décadas, veio apresentar a sua primeira obra à comunidade tupiniquim: “A fila anda – milênios da observação fêmea”, um livro com 285 páginas. A temática está ligada a sua própria vida. “Ele fala do relacionamento entre homens e mulheres, da perspectiva da mulher”, ressalta.

Escrito em forma de crônicas, Lígia Braz aborda sentimentos bastante humanos. “Falo de amor, desamor, de briga e cotidiano e também fantasia”. Ela confessa que o fato de viver há tanto tempo fora do Brasil também se tornou pano de fundo para suas histórias.

A motivação de fazer o trabalho veio de um encontro à distância. “Era um namorado que tive aos 19 anos e que acabei esbarrando na internet”, conta. Ela enviou-lhe alguns textos e recebeu críticas extremamente positivas, “que acabaram me motivando a escrever mais”. Assim Lígia conseguiu juntar material suficiente para editar a obra.

Trabalho comunitário

À swissinfo.ch, a escritora afirma estar bastante integrada no movimento cultural de imigrantes na Alemanha. Ela criou em 1993 a revista “Circulando”, em suas palavras “a primeira revista bilíngue a existir nos países de língua alemã”, uma publicação gratuita que editou até 1997. Depois manteve por vários anos uma loja especializada na venda de produtos brasileiros. No campo do jornalismo, essa paulistana também deu apoio de comunicação a artistas brasileiros que se apresentavam em um grande festival anual de música em Tübingen, Alemanha.

No lançamento do livro em Stuttgart, Lígia contou com o apoio da secretaria local de integração de estrangeiros. “Conseguimos reunir em uma festa 300 pessoas. Era uma noite de terça-feira, na prefeitura, e havia nevado na cidade”, lembra-se com orgulho.

A presença em Zurique veio de um convite da comunidade brasileira local, dentre elas a associação Cebrac e empresas geridas por brasileiros. Para apresentar seu trabalho, ela trouxe na “bagagem” 36 pessoas, brasileiros e alemães, quase todos membros de uma escola local de forró, o grupo Forró de Domingo. Após a leitura, as pessoas presentes foram convidadas a participar de uma festa, na qual tocou um verdadeiro grupo de forró, com sanfona, triangulo e zabumba, instrumentos típicos desse ritmo do Nordeste brasileiro.

Planos futuros

“A fila anda – milênios da observação fêmea” foi lançado no Brasil, mas existe a possibilidade de publicação na Europa. “Quanto mais apoio eu tiver de leitores na Europa, maiores as chances de conseguirmos traduzi-lo”, conta a motivada escritora. Ela diz ter ainda mais material para realizar um segundo livro. “Para isso só faltam duas ou três histórias”.

Com relação ao forró, Lígia é mais modesta. Ensaiando alguns passos no salão, a jornalista confessa não ter crescido próxima a essa manifestação cultural brasileira. “Era patricinha, mas agora estou fazendo curso”. Porém a animação geral de todos os presentes na festa coorganizada por ela, estrangeiros e brasileiros, mostra que sentimento não tem identidade.

Profissionalmente, Lígia trabalha como assistente social da Caritas na região de Stuttgart. Nas horas livres, uma das suas atividades preferidas é fazer rádio. Desde 2001 mantém um programa dedicado à cultura brasileira.

“Na Europa morei em 1985 em Paris e cheguei na Alemanha em 1989. Passei tres anos em Bonn e depois me mudei pra Stuttgart onde mora até hoje.

Circulando foi a primeira revista bilingue a existir nos países de língua alemã e foi editado de 1993 a 1997

Depois criei minha própria empresa – Brasiversum GmbH – e trabalhei alguns anos no canal de televisão do fabricante alemão de veículos Daimler.

Hoje sou assistente social na Caritas na região de Stuttgart e participo do projeto ABba plus – Ausländische betriebe bilden aus.

Faço radio desde 2001 voluntariamente.”

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