Aposentados recusam ser taxados de “ricos”
O Conselho Suíço de Idosos refuta a idéia em discussão de que aposentados devam pagar mais impostos, pois estão financeiramente em melhores condições do que a população ativa no país.
O lobby do “cabelo branco” acredita que a proposta de uma “contribuição de solidariedade” trazida pelo Ministério da Previdência está baseada em conclusões precipitadas e preconceitos.
Referindo-se a um estudo da Universidade de Genebra publicado no ano passado, a co-presidente do Conselho Suíço dos Idosos, Christiana Jacquet-Berger, explicou à swissinfo que os resultados foram mal interpretados e transmitem um retrato injusto dos anciões no país dos Alpes.
“Não temos nenhuma crítica a fazer sobre a qualidade da própria pesquisa. Contudo, tirar conclusões desse trabalho e dizer que as gerações mais velhas devem ser taxadas é esquecer que essas pessoas não estão na mesma situação.”
Jacquet-Berger afirma que os idosos são como o resto da população, ou seja, existem os ricos e os pobres. “As diferenças econômicas não estão entre as gerações, mas sim dentro delas.”
O conselho encarregou Walter Rehberg, do Colégio de Ciências Aplicadas de St- Gallen, de reexaminar a pesquisa original. O economista apresentou em Berna na última sexta-feira (24.04) os resultados do seu trabalho.
“A taxa de pobreza de jovens ativos e aposentados é praticamente idêntica, entre 14 e 15%, declara.
Armadilha da pobreza
Rehberg salienta que muitos jovens vivem a pobreza apenas temporariamente, enquanto idosos que empobrecem não saem mais dessa situação. “Estima-se que um terço das pessoas terá experiência com a pobreza em um determinado momento das suas vidas”, acrescentou Rehberg.
Ele deu o exemplo de estudantes que acabam de sair da casa dos pais e têm poucos recursos financeiros. “De acordo com as definições de pobreza, eles são classificados como pobres, mas está muito claro que esse é apenas um período transitório nas suas vidas.”
“Por outro lado, pessoas idosas não têm muitas possibilidades de ganhar mais. Quando são dependentes de assistência social para completar sua renda, a única coisa que essas podem fazer é trabalhar mais, o que, segundo a idade e a saúde, não é sempre a solução mais viável.”
Cerca de 12% dos aposentados recebe alguma forma de ajuda estatal às suas rendas, mas isso não representa o verdadeiro número de pessoas em necessidade. Razão: muitas dessas pessoas ainda não fizeram valer seus direitos, como explicam os representantes do lobby dos aposentados.
Não é possível generalizar
Um desses representantes da “terceira idade” é Jasmine Elisabeth Jamin, que se tornou viúva ainda jovem. Ela se incomoda com a imagem de idosos abastados tida por muitas pessoas. Aos 72 anos de idade chegou muitas vezes a fazer em casa trabalhos de contabilidade e traduções para manter o nível de renda da família. “Por muitos anos paguei a educação dos meus três filhos e nunca recebi um tostão de ninguém. Tudo veio do meu próprio bolso. Para isso trabalhei dia e noite”, lembra-se Jasmin.
“E agora estou em uma situação crítica: como não consegui acumular tempo suficiente de contribuição, pois tive de cuidar dos meus filhos, minha pensão é hoje muito baixa”, continua. “Sim, existem idosos que vivem muito bem e podem fazer viagens ao redor do mundo, mas isso está longe de ser o caso de todos nós.”
As estatísticas nesta questão parecem muitas vezes contraditórias. Aposentados têm uma média três vezes maior de bens (fortuna) do que a população em idade ativa. Porém sua renda corresponde apenas a dois terços a dos grupos mais jovens.
De acordo com o economista Rehberg, muitos dos idosos “ricos” são apenas afortunados no papel, sobretudo graças ao valor da casa em que vivem.
Reconhecimento
O Conselho Suíço dos Idosos também chama a atenção para a contribuição feita pela terceira idade à sociedade, seja em termos materiais através do pagamento de impostos ou contribuições financeiras dados aos seus filhos, assim como através de assistência não material. Um exemplo desta é guarda de crianças para pais que trabalham.
Globamente, os avós despendem um número estimado em 100 milhões de horas por ano cuidando de crianças. Em valores reais seria algo estimado em dois bilhões de francos (US$ 1,8 bilhões) para a economia.
Em resposta às queixas feitas pelo grupo de lobby, Yves Rossier, diretor do Departamento Federal de Previdência (o ministério da Previdência), afirmou que nunca se cogitou criar taxas específicas para aposentados.
De qualquer maneira, ele lembrou que os grupos onde o risco é maior de empobrecimento mudaram e que será necessário mais dinheiro necessário para esse problema demográfico. “As pessoas ativas não devem carregar sozinhas essa carga”, reforçou.
O sistema de aposentadoria helvético é considerado um dos melhores do mundo.
Na Suíça o trabalhador conta duas fontes obrigatórias: a primeira, mais conhecida como 1° pilar, é o seguro básico para todas as pessoas que residem ou trabalhem na Suíça. Ela é baixa, mas garante que ninguém deixe de ter uma renda mínima quando atingir a idade de abandonar o batente, atualmente aos 65 anos.
A segunda base é a previdência profissional, o chamado 2° pilar, que assegura todos os empregados a partir dos 25 anos de idade e cujo salário anual atinje o limite mínimo anual de CHF 19.350. Ela complementa a renda e é calculada por uma taxa de conversão do capital acumulado durante os anos de trabalho. A taxa atual de conversão do 2° pilar é de 6,4 ou seja, para um capital acumulado de 100 mil francos, ao se aposentar com 65 anos de idade, a pessoa terá um salário anual de 6 mil e 400 francos.
O terceiro pilar é a previdência privada.
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