Suíça financia série na TV nigeriana para dissuadir os migrantes
Acabar com o mito do eldorado suíço e informar os candidatos africanos à imigração sobre os riscos da viagem à Europa: esse é o objetivo de uma série da televisão nigeriana financiada pela Suíça. Porém o impacto do projeto de 450 mil francos está longe de ser evidente.
Viver na Suíça não é sempre fácil. O jovem nigeriano Joshua teve seu pedido de asilo político negado pelas autoridades e agora é obrigado a passar à clandestinidade. Sua história serve de linha condutora para uma série televisiva intitulada “The missing steps”, uma coprodução suíço-nigeriana realizada no contexto da parceria assinada entre os dois países em 2011 para questões migratórias.
Essa ficção em 13 episódios tem um objetivo claro: dissuadir os nigerianos de ir à Suíça para procurar um futuro melhor. “Nós queremos oferecer informações objetivas sobre a migração, mostrar que a travessia (do Mediterrâneo) é perigosa e que os nigerianos têm muito poucas chances de receber asilo político. Queremos também explicar que a vida dos clandestinos na Suíça não é fácil”, declarou à rádio pública Lukas Rieder, porta-voz da Secretaria de Estado para Migrações (SEM).
O orçamento previsto para a realização do projeto é de 450 mil francos, fornecidos inteiramente pelo órgão. A série compreende também algumas cenas gravadas na Suíça pelo diretor nigeriano Charles Okafor e sua equipe.
Não é a primeira vez que o governo suíço se lança em um projeto semelhante. Em 2007 já havia financiado um comercial de dois minutos difundido em diversos países africanos como os Camarões e a Nigéria. A mensagem? “Não acredite em tudo o que dizem a você”. O clip recebeu críticas, pois mostrava a Suíça “em um dia ruim”. Depois em 2013 foi a vez do Kosovo, com dois vídeos publicados no YouTube e destinado aos jovens.
A Suíça não é o único país a financiar campanhas semelhantes. Alemanha, Itália ou Austrália já produziram vídeos com mensagens mais ou menos agressivas, destinadas aos candidatos à migração.
Eficácia duvidosa
A questão é saber se a estratégia funciona. O especialista em assuntos migratórios, Jill Alpes, realizou uma pesquisa de opinião nos Camarões para descobrir como as pessoas se informam antes de emigrar. Ele não está convencido. “A maioria das pessoas conhece perfeitamente os riscos, seja através dos familiares ou amigos”, explicou em entrevista à televisão pública. Ela duvida que os filmes tenham um impacto direto nos fluxos migratórios.
A Anistia Internacional se interroga também sobre o impacto das campanhas. “É claro que os migrantes deveriam ser informados corretamente sobre a lei e os procedimentos de asilo na Suíça”, explica a jurista Denise Graf. “Mas a Suíça deveria antes de tudo trabalhar para melhorar a situação dos direitos humanos e se engajar por uma melhor distribuição de recursos na Nigéria. Esses são os aspectos fundamentais se queremos que as pessoas tenham a possibilidade de continuar no seu país.”
Mas obviamente as campanhas não procuram dissuadir os estrangeiros de viajar à Suíça. Uma análise dos comerciais da Suíça Turismo, o órgão de promoção do turismo do país, mostra que migrantes e turistas não estão na mesma categoria.
Praticamente sem chances
Em 2016, dos 27.207 refugiados solicitaram refúgio na Suíça, 1.106 foram de nigerianos (4,1%). No mesmo ano, dos 1.261 pedidos tratados, apenas três nigerianos receberam asilo e seis a admissão provisória.
Adaptação: Alexander Thoele
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