Brasileiros dizem que não dá mais para ficar em Portugal
Não há um número, certo ou aproximado, relativo aos imigrantes brasileiros que têm vindo a abandonar Portugal, mas a Organização Internacional para as Migrações (OIM) não tem dúvidas que são bastantes. A saída de cidadãos brasileiros intensificou-se nos últimos anos. A crise é a explicação apontada pela OIM e pelos imigrantes que entrevistámos.
Bernadete, Bruno, Josias e Ronaldo (nome fictício) deixaram o Brasil há alguns anos para trabalhar em Portugal. Quando chegaram não tiveram dificuldades em encontrar emprego, mas o país de acolhimento entrou em crise e alguns deles estão, agora, sem trabalho. Ponderam regressar ao Brasil. O mesmo acontece com os que estão empregados…
Ronaldo chegou a Portugal há onze anos. Arranjou logo trabalho, algo que deixou de ter há cerca de um ano e meio. Na falta de um emprego fixo, este operário da construção civil vai fazendo “uns biscates”, enquanto a mulher “faz bolos por conta própria”. O que os dois recebem não dá pagar todas as despesas de uma família com quatro filhos: “É impossível! Só vamos acumulando dívida”. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a água e a luz, que já foram cortadas mais do que uma vez. Para conseguirem que seja restabelecida a ligação, depois de cada corte, colocam como titular outro familiar.
“Eu já tentei o que podia e não teve jeito. Agora, a esperança é voltar para o Brasil e ver se as coisas melhoram. Em princípio, está melhor do que aqui”, sublinha Rogério, cuja data de regresso “é para ontem”. Em Terras de Vera Cruz, a família tem casa própria, perspectivas de trabalho e parentes, que, em caso de necessidade, podem ajudar.
Com o Brasil no horizonte
Bernadete Pelissári também está desempregada. Deixou o trabalho que tinha em Janeiro, por inadaptação, mas agora está a ter dificuldades para encontrar novo emprego. “Quando vou às entrevistas tem muitas pessoas à espera. Tem sido mais complicado do que antes. Antes saía de um trabalho e entrava logo noutro”, realça a brasileira que está em Portugal há quase dez anos.
A imigrante acredita que vai encontrar um emprego, mas já tem no horizonte o regresso ao Brasil no próximo ano. “Conheço muita gente que está a pensar voltar, que tem uma expectativa muito boa do Brasil, porque aqui está bem cotado, bem falado. A gente ouve falar que lá está melhor”, destaca.
Após oito anos em terras lusas, Bruno Nascimento decidiu que “está na altura de voltar” ao Brasil, mesmo, se ao contrário de Ronaldo e Bernadete, tem trabalho num restaurante perto do Porto. O imigrante de 26 anos soube através dos media que “o Brasil está muito bom” e pensou que tinha chegado a hora de ajudar os negócios dos pais “a crescer”.
Salário “não é compatível” com as despesas
A pujança da economia brasileira contrasta com a crise em que Portugal mergulhou. “O negócio aqui está ficando cada vez pior. Quando cheguei era bem diferente. A gente conseguia juntar um dinheiro. Na época boa, consegui mandar muito dinheiro para o Brasil. Hoje, temos que largar muitas coisas que fazíamos para poder juntar algum”, lamenta Bruno, considerando que trabalhar em Portugal já não compensa no caso dos imigrantes.
Josias Oliveira também tem trabalho em Portugal, “mas actualmente não está dando mais para ficar”. É que o salário “não é compatível” com as despesas de aluguer, água, telefone, electricidade, combustíveis e impostos. Este cozinheiro, que chegou a Portugal há quase quatro anos, está, por isso, a pensar regressar ao Brasil. Como data-limite traçou Maio do ano que vem. Para já, não tem perspectivas de emprego. Ele, a mulher e dois dos três filhos vão apenas “com a cara e a coragem”, tal como quando chegaram a Portugal. O outro filho deve continuar em território luso: “Ele está a trabalhar. Para um solteiro talvez dê, com um quartinho”.
A swissinfo.ch contactou o Consulado-Geral do Brasil no Porto, que remeteu quaisquer questões sobre o retorno dos imigrantes brasileiros para o Ministério das Relações Exteriores. Brasília não respondeu às informações que solicitámos por e-mail.
O número de candidatos ao Programa de Retorno Voluntário (PRV), gerido pela OIM, com sede em Genebra, em colaboração com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, ultrapassou a barreira dos dois mil no ano passado (87% eram brasileiros), contra cerca de mil em 2009.
Após a suspensão e o cancelamento de vários processos, 594 pessoas retornaram aos países de origem em 2011. O aumento do número de pedidos tem a ver sobretudo, segundo Luís Carrasquinho da OIM, com a crise económica.
A OIM também presta, em algumas circunstâncias, ajuda ao nível da reintegração, mediante um processo de selecção.
Luís Carrasquinho explica que as pessoas seleccionadas podem “beneficiar de um apoio para a abertura de um pequeno negócio no país de origem”. O montante pode atingir os 1100 euros.
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