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Ensinando imigrantes a dar pedaladas

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Aprender a andar de bicicleta em um ambiente divertido e seguro Susan Misicka / swissinfo.ch

Tão fácil como andar de bicicleta? Não se você nunca soube como. Assim, uma associação suíça sem fins lucrativos oferece aulas de ciclismo especialmente para mulheres de outros países.

“Eu cheguei a andar um pouquinho quando era criança, mas foi tudo. No Irã, as mulheres não têm permissão de andar de bicicleta na via pública”, conta Fatemeh Vafaei. Agora mãe, ela é grata pela chance de aprender a dar uma volta em duas rodas de novo. Seu marido iraniano, que veio apoiá-la em uma tarde ensolarada no subúrbio de Berna, concorda com ela.

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Fatemeh Vafaei: “No Irã, as mulheres não têm permissão de andar de bicicleta na via pública” Susan Misicka / swissinfo.ch

Vafaei é uma das 20 mulheres que fazem o curso de seis dias oferecido pela Pro Velo, uma associação de defesa dos interesses dos ciclistas. O curso é voltado especialmente para os imigrantes, principalmente os que nunca andaram de bicicleta.

O curso é composto de seis aulas de duas horas durante um período de três semanas, e é dado no pátio de uma escola em Zollikofen, perto de Berna. Voluntários ajudam os participantes a pedalar em modelos de tráfego apresentados com cones de trânsito e giz.

Apesar do ditado, verifica-se que isso não é “tão fácil como andar de bicicleta”.

“Hoje está indo bem, mas ainda acho difícil virar à esquerda. E os sinais para virar também, não gosto de tirar a mão do guidão”, confessa Vafaei no segundo dia.

“Nós dirigimos à esquerda na Tailândia, isso é um ajuste importante para o domínio do trânsito”, observa Praden Vuilleumier com um sorriso. Ela soube do curso através de uma associação de mulheres da região chamada Karibu.

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Praden Vuilleumier: “Dirigimos pela esquerda na Tailândia” Misicka, Susan (swissinfo)

Karibu e Pro Velo realizam juntos o curso em Zollikofen, que custa 60 francos por participante e inclui o uso de uma bicicleta e capacete, bem como cuidados infantis.

“Este curso dá às mulheres mais autoconfiança e mobilidade. Elas podem fazer algo que muitas pessoas na Suíça já desfrutam”, ressalta a diretora da Karibu, Heidi Mosimann.

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Cemile Selen, da Turquia: “Eu quero andar de bicicleta com meus netos” Misicka, Susan (swissinfo)

Cemile Selen, originária da Turquia, quer aprender para poder andar de bicicleta com seus netos. “O curso é muito útil. Por exemplo, para começar eu já não sabia mudar as marchas. Eu estou gostando muito e estou ansiosa para mostrar para meus netos. Eles não sabem que estou fazendo isso.”

Uma das voluntárias menciona discretamente que algumas mulheres precisam lidar com um desafio muito mais desconfortável: a mutilação genital. Andar de bicicleta pode ser doloroso para elas, dependendo de como suas feridas se cicatrizaram e as complicações relacionadas. Ainda assim, quase todas aderem às lições, como descobrimos em uma segunda visita.

‘Fazer algo por si mesma’

No sexto e último dia, há visivelmente menos ondulações. As mulheres parecem mais confiantes e muito menos tímidas. Elas aprenderam a ter equilíbrio, técnicas para frear e algumas leis do trânsito.

A afegã Yusufi Benazir ainda está um pouco instável e acaba batendo com sua bicicleta. Mas ela termina as aulas bem entusiasmada.

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Yusufi Benazir do Afeganistão: “Eu preciso aprender para poder ir para o trabalho” Misicka, Susan (swissinfo)

“Eu gosto de andar de bicicleta. E preciso aprender para ir trabalhar ou fazer compras”, diz Benazir, acrescentando: “provavelmente vou fazer um segundo curso”.

“Elas estão realmente fazendo algo para elas aqui. Nós aplaudimos cada um dos progressos que motiva as mulheres”, diz Gabriella Bolliger, da Pro Velo, responsável dos cursos na região de Berna há dez anos. “Com suas novas habilidades, espero que elas possam andar no tráfego.”

No final da última lição, muitas já estão fazendo exatamente isso. Acompanhadas por outras voluntárias, várias mulheres se aventuram a dar uma voltinha no bairro.

Em teoria, não há nada para impedi-las de continuar progredindo.

“O único problema é que muitas mulheres não têm suas próprias bicicletas, então elas não podem praticar após o curso. Estamos procurando comprar algumas para poder emprestar”, diz Mosimann.

Enquanto isso, a tailandesa Vuilleumier vai aproveitar a oferta especial da Pra Velo. Ela decidiu ir para casa na bicicleta em que aprendeu, e que pôde comprar por 250 francos.

Pro Velo 

Fundada em 1975, a Pro Velo possui 34 mil membros. Além das aulas para imigrantes em toda a Suíça, a associação oferece aulas de ciclismo para crianças, bem como cursos de ciclismo noturno, ciclismo eletrônico e reparos de bicicletas. Além disso, a Pro Velo costuma organizar feiras de bicicletas de segunda mão.



Adaptação: Fernando Hirschy

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