Campanha combate preconceitos contra refugiados
Cerca de 42 milhões de pessoas encontram-se em fuga em todo o mundo. Uma pequena parte vem para a Suíça e se confronta com preconceitos.
Por ocasião do Dia Mundial dos Refugiados, em 20 de junho, a Organização Suíça de Ajuda aos Refugiados (Osar) lançou uma campanha provocadora.
“Todos traficantes?” – esta pergunta em letras garrafais amarelas sobre fundo preto aparece em cartazes espalhados por toda a Suíça, nas respectivas línguas regionais, e tem por objetivo provocar um debate público sobre o preconceito contra os refugiados.
A Suíça tem boa reputação mundial como um país com uma grande tradição humanitária. A disposição de “ajudar pessoas necessitadas”, no entanto, é cada vez mais substituída por “medos e preconceitos em parte alimentados conscientemente”, diz o secretário-geral da Osar, Beat Meiner.
Segundo ele, a alegação frequentemente ouvida de que os requerentes de asilo são traficantes e criminosos é “falsa e degradante para as pessoas afetadas”. Meiner menciona uma estatística da polícia estadual de Zurique: em 2008, menos de 50 suspeitos de tráfico de drogas eram requerentes de asilo ou asilados.
Alta taxa de reconhecimento
Também o preconceito de que requerentes de asilo são mentirosos pode ser refutada, diz Meiner, porque a maioria vêm de países em que reinam guerras ou conflitos civis.
Em 2008, a Secretaria Federal de Migração (SFM) decidiu a favor dos requerentes de asilo em dois terços dos casos. “Para os 35% restantes, a rejeição do pedido não significa que eles tenham mentido, mas que os motivos apresentados foram considerados insuficientes.”
Na campanha divulgada através dos cartazes, a Osar coopera também com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (UNHCR, na sigla em inglês). A Suíça desempenha um “papel importante” ao prestar “significativo apoio financeiro”, afirma Hans Lunshof, diretor do UNHCR para a Suíça e Liechtenstein. “Também a taxa de reconhecimento na Suíça é bastante boa.”
Retomar uma antiga tradição
Há alguns meses, o UNHCR se empenha para que a Suíça reintroduza a tradição de acolhimento de refugiados por cotas. Por exemplo, em 1956, húngaros, ou em 1968, tcheco-eslovacos obtiveram asilo sem que seus pedidos fossem analisados individualmente.
“A reinstalação (de refugiados em outro país), como costumamos dizer, é um importante instrumento de proteção, por exemplo, para pessoas que vivem em campos de refugiados, presos entre as frentes de batalha”, justifica Hans Lunshof a reivindicação do UNHCR.
Decisão ainda em 2008
“Milhões de pessoas vegetam por vezes durante anos sem qualquer perspectiva em acampamentos”, diz Lunshof. Assim vivem, por exemplo, refugiados iraquianos na Síria ou na Jordânia, eritreus no Sudão e birmaneses na Tailândia.
A Secretaria Federal de Migração criou um grupo de trabalho que no momento avalia as possibilidades de acolher refugiados com base em cotas.
Formalmente nada impede a reintrodução das chamadas reinstalações. A lei suíça de asilo revisada em 2006 prevê expressamente o sistema de cotas. O Conselho Federal (Executivo suíço) é a autoridade que decide sobre o assunto. Lunshof espera que ele tome uma decisão ainda no corrente ano.
Mundialmente o UNHCR procura vagas para a “reinstalação” de 127 mil refugiados. A maioria dos refugiados contingenciados são acolhidos pelos Estados Unidos, o Canadá e os países do norte da Europa. “No total, são 15 Estados que fazem isso”, diz Lunshof.
Andreas Keizer, swissinfo.ch
Segundo dados do UNHCR, 839 mil pessoas procuraram asilo em todo o mundo no ano passado – duas em cada cinco queriam ir para a Europa.
O maior número de pedidos foi feito à África do Sul – 207 mil, sobretudo, de refugiados do Zimbábue.
Mais da metade (55%) dos cerca de 15,2 milhões de refugiados vive em países em desenvolvimento, como Paquistão (1,8 milhão), Síria (1,1 milhão) e no Irã (980 mil).
Em 2008, foram apresentados 16.606 pedidos de asilo na Suíça (a maioria de eritreus, somalianos e iraquianos), 53,1% a mais do que no ano anterior.
No total, pedidos de asilo de 40.794 pessoas estavam em tramitação no país, 0,7% a menos do que em 2007.
No ano passado, 11.062 pedidos foram decididos em primeira instância, um aumento de 9,9%.
Na Suíça, 2261 pessoas receberam asilo em 2008, o que corresponde a 23% dos pedidos feitos no ano.
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