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Cidade de origem é onde está o coração

Keystone

Abra um passaporte suíço e veja que, ao invés do local de nascimento de costume, ele mostra o "local de origem" de um cidadão, que seria onde os seus antepassados e nomes de família se originaram. Apesar das recentes alterações para igualar o sistema, este local continua sendo importante para muitos suíços.

O suíço herda o lugar de origem do lado paterno. O local de origem emite um certificado de origem do cidadão, que é entregue à cidade onde ele reside ou restituído ao local de origem, se ele se muda para o exterior. O local de origem também mantém o registro de nascimentos, casamentos e óbitos de toda a família.

Muitos suíços continuam emocionalmente ligados a essas raízes, especialmente os que vivem no exterior.

“Muitos da minha região voltaram para a Suíça para encontrar suas raízes”, disse Beth Zurbuchen, presidente do Centro Suíço da América do Norte. “Eu tive a oportunidade de conhecer onde meu avô materno e meu bisavô paterno moraram em Habkern. Saber que fazia parte de uma família, não importa o quão distante, me deixou muito emocionada.”

Em teoria, o suíço só tem uma origem, mas na prática, eles contornam a questão quando perguntados de onde vêm: “Eu sempre dou o meu lugar de origem quando me perguntam de que parte eu sou da Suíça”, explica Katharina Allen, que vive em Perth, no Canadá. “Minha irmã, por outro lado, diz o nome da cidade onde nasceu ou a última em que viveu antes de se mudar para o Canadá quando criança.”

O lugar de origem e a cidadania estão vinculados a uma pessoa, independentemente do local de residência.

A cidadania é adquirida através de nascimento ou de casamento. O lugar de origem é passado para a esposa, que pode manter seu próprio lugar de origem, e aos descendentes dos antepassados masculinos.

Os cidadãos suíços mencionam seu lugar de origem em quase todos os documentos oficiais, tais como passaportes e carteiras de identidades. Quem possui mais de um local de origem, tem que decidir qual deles quer carregar no documento.

Laços de família

Em 2001, o parlamento suíço abordou pela última vez a questão de mudar o lugar de origem pelo lugar de nascimento para fins de identificação. No final, decidiu-se manter o status quo, pois como argumentado pelo deputado Walter Glur, do Partido do Povo Suíço, a naturalidade é muito aleatória: “o nascimento pode ocorrer em qualquer lugar, enquanto que o sangue que corre em suas veias é sempre o da sua família”.

“Meu lugar de nascimento não tem nenhum significado para mim, minha mãe passou em Zurique só naquele dia”, diz Jack Gruring, originário da cidade de Biel, que vive agora na Croácia. “Para mim é importante onde eu cresci. E o meu lugar de origem é muito significativo, porque ele guarda a história da minha família”, declarou no site swisscommunity.org.

Muitos suíços podem rastrear seus nomes de família de volta às cidades de origem deles. O Registro de Sobrenomes Suíços, que é administrado pelo Dicionário Histórico da Suíça, oferece acesso a mais de 48.000 nomes, voltando centenas de anos. A família Chevrolet, por exemplo, vem de um vilarejo no cantão do Jura.

“Eu sou muito apegada a minha origem, porque todos os meus antepassados estão enterrados lá em um pequeno cemitério, em Cadro, meu lugar de origem. No meu dia-a-dia, eu nunca encontrei alguém com o meu nome de família”, diz Manuelle Merenda, que vive em Aix-en-Provence, na França. “Fiquei surpresa ao descobrir que cerca da metade das lápides deste cemitério traz o nome Merenda.”

No século XVI, alguns suíços emigraram para escapar da perseguição religiosa, é o caso das comunidades menonitas e Amish, hoje nos Estados Unidos.

Por cerca de 450 anos, o principal produto de exportação da Suíça era soldado. Entre 1400 e 1848, mais de dois milhões de mercenários foram contratados por potências estrangeiras. Mais tarde, os suíços emigraram também como comerciantes, missionários e agricultores.

O primeiro vinho dos EUA foi feito por John James Dufour, de Vevey, no final do século XVIII. No século XIX, foram os fabricantes de chocolate que se tornaram famosos na Alemanha, Rússia e Escandinávia.

Louis Chevrolet, nascido em La Chaux-de-Fonds, construiu um império automobilístico, enquanto que a família Guggenheim, de ascendência judaica-suíça, mudou a nossa forma de ver a arte moderna.

Entre os emigrantes mais recentes estão a psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross, autora de estudos sobre a ‘quase-morte’, e Adolph Rickenbacher, inventor da guitarra elétrica.

No final de 2012, pouco menos de 716 mil suíços – cerca de um décimo da população do país – estavam registrados no exterior, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores. Três em cada cinco viviam na Europa, um quarto nas Américas, outro quarto na França.

De volta às raízes

Cartórios e arquivos de igrejas cantonais são os depositários mais importantes para a pesquisa genealógica de clãs inteiros. Já que os registros das comunidades não foram destruídos durante as guerras, eles ainda estão muito completos e geralmente remontam ao século XV.

“Embora eu não tenha uma afinidade pessoal com o meu lugar de origem, ele é importante a partir de uma perspectiva histórica”, afirma Roland Isler, que vive em Melbourne, na Austrália. “É onde todos os registros da minha família estão sendo mantidos, independentemente de onde eu e meus parentes vivam ou viveram. Se um dia eu quiser pesquisar a história da minha família, eu sei para onde ir.”

Outra característica do lugar de origem era a de ser responsável em prestar auxílio financeiro aos seus cidadãos em necessidade.

Este dever social agora está sendo abandonado por causa da carga financeira que representa aos pequenos vilarejos rurais, que muitas vezes possuem mais cidadãos oriundos do que residentes. A obrigação de socorrer seus ‘burgueses’ empobrecidos era também uma pressão nos orçamentos apertados do século XIX. Algumas cidades se livraram de seus pobres oferecendo-se a pagar a travessia do Atlântico em troca de uma renúncia da cidadania.

Muitos aceitaram a oferta, e acabaram fundando cidades que ainda guardam o nome de suas origens, como Nova Berna, nos Estados Unidos, e Nova Friburgo, no Brasil.

Adaptação: Fernando Hirschy

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