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Missão Católica de língua portuguesa organiza semanalmente missas no cantão de Friburgo

A catedrau de São Nicolau, em Friburgo, 
A catedrau de São Nicolau é a mais importante igreja no cantão católico de Friburgo. Keystone

A entrada da igreja "La Tour-de-Trême" é o teatro de encontros calorosos nesse domingo pela manhã. Aproximadamente cinquenta pessoas fazem grandes gestos com as mãos e se cumprimentam com um caloroso "Olá" antes de se abraçar. 

Todos, ou quase, trajam suas roupas de domingo: vestidos para as mulheres e meninas, camisa para os homens e meninos. O relógio da igreja marca dez horas: os grupos entram no edifício em levas. A missa está a ponto de começar. Sua particularidade: ela será executada totalmente em português. 

Como todos os segundos e quartos domingos do mês, a igreja da “La Tour-de-Trême” recebia ontem pela manhã a missa da Missão Católica de Língua Portuguesa em Friburgo. Uma celebração marcada para os lusófonos pela despedida daquele que foi seu abade por quase dez anos, o padre Henrique Manuel Caldas Januário. O homem de fé e diretor da missão celebrava pela última vez na Suíça. Ele retornará no mês que vem ao Porto.

Algumas diferenças

A sua última missa era marcada por dois batizados: o de Kevin, um ano de idade, e Liana, quatro anos. Vindos de Mouret, o pais da garotinha pegaram a estrada até o Gruyère para poder batizar a sua filha em português. “No lugar de fazer a cerimonia em Portugal com toda a família, fazemos aqui com uma pequena parte da família, mas em português. Dessa forma conseguimos, assim, acompanhar a tradição”, explica Raquel Pereira, a mãe.

Como ela, uma grande parte dos aproximadamente cem fiéis presentes na igreja falam fluentemente o francês. Mas assistir a missa da Missão Católica Portuguesa não é simplesmente uma escolha linguística. “Além da língua, essa é uma oportunidade de encontro para a comunidade”, justifica Lourdes Ferreira, co-diretora do coro que se apresenta hoje.

As missas em português são igualmente a ocasião para esses imigrantes de vivenciar um rito que difere ligeiramente do praticado na Suíça. “A missa é mais participativa em Portugal. Na Suíça ela é mais contemplativa. Os cantos são também diferentes. Eles são mais alegres em português, porém menos espirituais”, explica o abade

Januário. A prova ontem: acompanhados por uma flauta transversal, a dezena de cantores do coro estava instalada diretamente no meio dos fiéis, que eram frequentemente solicitados a caprichar na voz.

Sem guetos

O abade repetiu-a por várias ocasiões: se as missas suíças e portuguesas são diferentes, nenhuma das duas é superior a outra. O homem de fé milita, pelo contrário, por um enriquecimento mútuo das duas comunidades. “Nossa missão é tentar de abrir aos imigrantes à relação com os cristãos suíços. Não devemos nos esconder em guetos, mas sim fazer uma comunhão entre todos, sem que ninguém perca sua originalidade”. Na hora de se despedir da Missão Católica Portuguesa de Friburgo, o abade pede na reza por uma multiplicação de iniciativas que permitam às duas comunidades de se encontrar. Como foi o caso da peregrinação de Nossa Senhora de Fátima, organizada em 13 de maio em Romont, que é costuma ser frequentada tanto por católicos francófonos como lusófonos.

Na escola, esse processo de aproximação é acelerado pela integração religiosa através do catecismo e das crianças portuguesas nascidas na Suíça. Finalmente, o principal objetivo dos católicos de Friburgo é chegar a uma reunião de todos os fiéis em uma mesma comunidade. “É a ocasião para revitalizar a comunidade de fiéis”, alegra-se Dom Rémy Berchier. O vigário episcopal para a parte francófona do cantão ressalta, de fato, que existe uma diferença de idades entre a comunidade lusófona – jovem e familiar – e a comunidade francófona – com muitas pessoas em idade avançada. “Gostaria também que os portugueses se integrem nos conselhos das comunidades e paroquial”, completa.

“Ser imigrante representa uma grande riqueza”

Criada em 1982 pela diocese, a Missão Católica de Língua Portuguesa é a mais recente e a maior do cantão. Além de ajudar seus fiéis a se integrar socialmente no cantão, ela organiza regularmente missas em Friburgo. “Estimamos que aproximadamente 35 mil portugueses vivam no cantão, contando inclusive aqueles que adquiriram a nacionalidade suíça. Em comparação, a paróquia de Bulle tem 40 mil fiéis”, ressalta Berchier.

A comunidade portuguesa tem a característica particular de ter se formado em duas grandes ondas migratórias: a primeira, formada por trabalhadores sazonais, chegou nos anos 1960; e uma segunda, após a crise de 2008, ressalta o abade Januário. Os objetivos da missão católica se adaptaram a essa situação. “Inicialmente a missão foi criada para manter uma vida de fé e uma identidade nacional entre os trabalhadores sazonais, que iriam retornar depois ao seu país de origem. Mas essas pessoas ficaram”, analisa o abade. “A segunda geração não é mais completamente portuguesa, nem completamente suíça. Nosso objetivo agora é ajudar os imigrantes a compreender a riqueza da sua experiência de vida. Aos olhos da fé, ser imigrante representa uma grande riqueza”. Após ter assistido um aumento do número de imigrantes portugueses nesses últimos dez anos, o homem da fé constata uma estabilização da força de trabalho. Por isso a missão perderá inclusive uma parte dos seus cooperadores: ela terá em breve apenas um padre trabalhando em tempo integral, contra dois hoje em dia.

O cantão de Friburgo tem duas outras missões voltadas às comunidades linguísticas. Dois padres a tempo parcial coordenam as comunidades de lingua italiana e a de lingua espanhola. Um padre vietnamita também está empregado com uma carga de trabalho de 10%, ressalta Dom Berchier. Outras missões, organizadas na parte francófona do país, ou a nível nacional, também visitam regularmente o cantão. Elas permitem aos fiéis de assistir, por exemplo, a missas em croata ou filipino.

* Artigo publicadoLink externo em 26 de junho de 2017 no jornal La Liberté, Friburgo. 

Adaptação: Alexander Thoele

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