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Cuba, uma revolução em marcha

Mulher trabalhando em uma padaria em Havana. No mural, a imagem dos cinco agentes cubanos presos nos EUA há dez anos. Reuters

Nascida no seio de uma família revolucionária, Mariela Castro, diretora do Centro Nacional de Educação Sexual (Cenesex), luta pelas mudanças e não hesita em reconhecer que Cuba necessita de profundas modificações.

No entanto, ela adverte que “as coisas estão mudando” na ilha e que nela se garantem direitos humanos que países que “atiram pedras”, incluindo os europeus, não alcançaram: a igualdade da mulher, por exemplo.

“Na Europa as mulheres continuam sendo discriminadas”, acusa a psicóloga. Ela refere-se aos salários mais baixos das mulheres trabalhadoras, aos fenômenos da imigração, ao tráfico de mulheres. “Na Europa existem sérios problemas, mas pouco se fala deles”, afirma em entrevista à swissinfo.ch.

Mariela Castro está visitando a Suíça, onde fez palestras em várias universidades, dentre as quais Basileia, Berna, Neuchâtel e Bellinzona. Ela também participa dos festejos do 25° aniversário da Associação de Ajuda Médica à América Central (AMCA), com sede no cantão do Ticino, ao sul do país.

“Fui convidada para falar sobre a nossa experiência de trabalho no Cenesex em termos de identidade de gênero, orientação sexual e a luta contra a discriminação sexual”, explica. Ela considera que são temas articulados a um processo histórico e relacionados “com muitas coisas que não posso me libertar”.

Discriminação e socialismo: incompatíveis

E é ela, como ativista incansável pela igualdade social, diretora do Cenesex, luta pela eliminação dos preconceitos e discriminação resultada da orientação sexual e que são incompatíveis com o projeto socialista.

Entre as realizações da entidade sob sua responsabilidade – ela foi criada sob a égide da Federação de Mulheres Cubanas (que sua própria mãe, Vilma Espín, coordenou de 1965 até seu falecimento em 2007) – estão o financiamento público para as operações de mudança de sexo e, em perspectiva, a união legal de homossexuais, que o Parlamento cubano votará no próximo ano.

A visita de Mariela Castro à Suíça despertou um grande interesse dos meios de comunicação, que dedicou a sua pessoa grandes espaços. Em seu encontro com a swissinfo.ch, a especialista fala com entusiasmo da instituição que dirige.

Ela explica que o Cenesex conta com diversas ferramentas e estratégias para cumprir sua missão: investigação, coordenação interministerial, trabalho comunitário, o ensino, a formação de ativistas e uma publicação (Sexologia e Sociedade).

Luta contra preconceitos

Ela fala das atividades que desenvolve o centro para que lésbicas, gays ou transexuais não sejam discriminados, para que eles mesmos não se sintam diferentes ou culpados , para que se convertam em ativistas de direitos sexuais e promotores de saúde sexual, com especial ênfase na prevenção da HIV AIDS. Ela também cita os grupos de apoio a famílias de pais ou mães gays ou lésbicas, mas também de país heterossexuais com filhos homossexuais, bissexuais ou transexuais.

Ela refere-se aos programas de sensibilização da população, em geral, e dos professores, em particular, para evitar que transmitam a seus alunos seus próprios preconceitos. Mariela Castro indica que os mecanismos de dominação existem também nos casais do mesmo sexo e admite ter muito trabalho com o Cenesex.

Mas ela é uma grande lutadora: “Somos todos em Cuba”, ressalta. Sem dúvida, um povo que suportou meio século de bloqueio, o período negro o fracasso socialista e três devastadores furacões…e uma crítica severa. Ela não vacila em apontar as falhas.

O que há para melhorar Cuba?

– “Muitas coisas!”

O fundamental?

“Temos de fortalecer a economia. Criar mecanismo que facilitem esse fortalecimento e, pelo que estou observando, já ocorrem mudanças nesse sentido. Talvez não sejam todos os que estamos necessitando, mas pelo menos começaram.”

Mariela se refere aos dois grandes pilares da Revolução Cubana, a educação e saúde, e assinala que elas não saíram ilesas da crise que se iniciou nos anos 90. “Se perdeu muito”, admite e “também houve estratégias equivocadas”. Não obstante, ela indica que se está produzindo uma melhor reorganização dos dois setores.

Ela manifesta a necessidade de agilizar os trâmites para que as pessoas possam viajar ao exterior com maior facilidade. Disse que uma comissão discute as mudanças necessárias na legislação pertinente.

“Vejo movimento em Cuba, o que é interessante. E movimento a partir da opinião popular, do que as pessoas têm levantado. E é o melhor, pois não há ninguém melhor para decidir o que necessita e como fazê-lo do que a própria população.”

Meio século de isolamento

Ao falar de Cuba, o tema do bloqueio americano é obrigatório…

Mariela Castro assegura entre risos que “O dia que cair o embargo, nossos salários disparam”. Ela comenta que Barack Obama “chegou com boas intenções e realmente encheu o mundo de ilusões”, porém “demonstramos mais uma vez que ser presidente dos Estados Unidos é servir aos principais grupos de poder e nada mais. Se você não o faz, podem fazer você desaparecer como ocorreu com o Kennedy.”

Porém mais uma vez o tema é Fidel Castro.

“Fidel continua sendo o líder máximo e também o do partido. Bem: Fidel é Fidel e onde aparece e todos nós ficamos felizes!”

Na sexta-feira de três de setembro, umas dez mil pessoas ficaram felizes em Havana. O ex-presidente cubano pronunciou seu primeiro discurso público depois que sua debilitada saúde o obrigou a deixar o poder em 2006, depois de 49 de governo.

As agências de notícia deram conta do entusiasmo que provocou sua aparição nas arquibancadas da Universidade de Havana e trajando seu uniforme verde-oliva.

“Como nos dói que Fidel tenha largado seu posto de comandante-em-chefe, pois afinal, todos continuamos a dizer comandante…mas o fazemos com absoluta honestidade e coerência. Fidel é um homem absolutamente coerente.”

Filha de Raúl, sobrinha de Fidel…O que significa ter esse nome?

“O sobrenome Castro é muito comum. É como López ou González”, responde entre risos”, mas de todas as maneiras me sinto muito satisfeita e orgulhosa dos meus pais, da minha família e, sobretudo, de ser cubana nessa época.

“Encanta-me ter vivido essa experiência difícil, contraditória. Enche-me de orgulho, de aprendizagem e de projeto para o meu futuro e o da minha geração…se estão de acordo com essas ideias.”

Marcela Águila Rubín, swissinfo.ch
(Adaptação: Alexander Thoele)

“Quando começamos a implementar esse trabalho nas universidades, há dois anos, não imaginava que houvesse tantos preconceitos no mundo universitário.

Você tem de contribuir com elementos que ajudem as pessoas a pensar mais profundamente para acabar com todos esses preconceitos históricos que herdamos.

O homem mudou a partir da mudança vivida pela mulher, mas necessita de espaços de debate e reflexão para elaborar sua realidade a partir da masculinidade hegemônica que tem dominado.”

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