Dalai-lama visita a Suíça
O líder espiritual do Tibete, Tenzin Gyatzo, o 14º dalai-lama, chegou na quarta-feira à noite à Zurique para uma visita de cinco dias à Suíça, mas não será recebido pelo governo.
Ele participa de uma conferência em Zurique e de vários eventos da comunidade tibetana na Suíça, com cerca de 4 mil pessoas, a maior da Europa e terceira no mundo.
A conferência no Centro de Convenções de Zurique, de 9 a 11 de abril, questiona se há lugar para altruísmo e compaixão em “sistemas produtivos”. O dalai-lama vai discutir esse assunto com economistas, psicólogos, antropólogos e neurocientistas.
A mesma questão será aborda pelo Prêmio Nobel de 1989 em sua palestra pública em 11 de abril, no ginásio de esportes de Zurique. Durante duas horas ele falará sobre “Responsabilidade Universal e Economia”. Dez mil ingressos estão à venda.
Agenda cheia
Na manhã desta quinta-feira (8/3), o Tenzin Gyatzo visitou o Instituto Tibete em Rikon, no estado do Zurique. Ele foi recebido em clima de festa em sua 13ª visita ao mosteiro budista fundado em 1968. Nove monges das quatro grandes correntes do budismo tibetano vivem no local.
À tarde, ele se encontrou com o Grupo Parlamentar Suíça-Tibete e participou de uma festa com 400 convidados da comunidade tibetana na Suíça e em Liechtenstein e da Sociedade de Amizade Suíço-Tibetana (GSTF), em agradecimento pela recepção dos primeiros refugiados tibetanos nos anos de 1950. Hoje vivem cerca de 4 mil tibetanos na Suíça.
No sábado à tarde, ele participa de uma manifestação de solidariedade ao Tibete, em Zurique. Segundo a GSTF, o Tenzin Gyatzo vai agradecer à população suíça por seus 50 anos de solidariedade ao Tibete.
Governo não tem tempo
Não está previsto um encontro do dalai-lama com membros do governo suíço – por falta de espaço na agenda, segundo explicou a ministra das Relações Exteriores, Micheline Calmy-Rey, em meados de março no Parlamento. Segundo ela, nos últimos anos ocorreram quatro encontros oficiais com o líder religioso do Tibete.
A GSTF considera a postura do Conselho Federal (Executivo) “politicamente questionável”. A decisão do governo só pode ser explicada “pela pressão política de Pequim”, disse a entidade, segundo a agência de notícias suíça SDA.
Em sua última visita à Suíça, no ano passado, o dalai-lama foi recebido pela então presidente da Câmara dos Deputados, Chiara Simoneschi-Cortesi. Sua sucessora, Pascale Bruderer, faz o mesmo desta vez. Na manha de hoje, ela se encontrou com o dalai-lama no Instituto Tibete em Rikon.
Jovens lideram a resitência
No sábado, antes de voltar a discutir com cientistas, o dalai-lama encontra-se com os participantes do primeiro Parlamento tibetano jovem, que se reúne no final de semana na Universidade de Zurique. Jovens de toda a Europa vão discutir novos caminhos para o movimento do Tibete.
A juventude desempenha um papel central na resistência à China no exílio. Os protestos contra os Jogos Olímpicos em Pequim mostraram que “a juventude assumiu o comando na luta por liberdade no Tibete”, disse Kelsang Gyaltsen, enviado do dalai-lama, em uma mensagem ao parlamento jovem.
Segundo ele, a juventude cresceu na Europa e fala as línguas locais. “Suas campanhas e seu ativismo têm mais efeito do que a luta das velhas gerações.”
Rigzin Gyaltag, vice-presidente da Associação Jovens Tibetanos na Europa (VTJE), confirma essa afirmação. “Falamos a língua do país, nos formamos aqui. Temos mais preparo para lidar com a mídia. Nossa tarefa é manter o tema vivo”, disse à agência de notícias SDA.
A VTJE, com sede em Zurique, é a maior associação de jovens tibetanos na Europa. Fundada em 1970, ela tem 400 membros e sabe “encenar” eventos com repercussão na mídia.
Simbiose com a mídia
Segundo o jornal Basler Zeitung, há uma simbiose entre “a luta por um Tibete livre” e a mídia. O tema está frequentemente presente nos meios de comunicação porque os tibetanos no exílio chamam a atenção com frequentes protestos.
“O noticiário é beneficiado pela ampla simpatia de que desfruta o movimento, especialmente por ser pacífico e pela impressão de que aqui se trata de uma luta de Davi contra Golias”, escreve o jornal de Basileia.
swissinfo.ch com agências
Estima-se que na Suíça vivam aproximadamente 4 mil tibetanos. Eles afirmam que formam a maior comunidade tibetana na Europa e a terceira maior do mundo.
A imigração para a Suíça começou em 1960, com a chegada de dez meninos e dez meninas à vila Pestalozzi de Trogen e do lançamento do programa “1000 lares para refugiados tibetanos na Suíça”, aprovado pelo governo e apoiado pela Cruz Vermelha suíça.
Entre 1961 e 1964, 158 órfãos tibetanos foram adotados por famílias suíças e a comunidade lançou em 1967 a construção do primeiro mosteiro tibetano no Ocidente, em Rikon, perto de Zurique.
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