O melhor país do mundo para estudantes estrangeiros
A Suíça é o primeiro em atração de estudantes internacionais e o terceiro em trabalhadores educados e empreendedores. Alguns fatores explicam a preferência: universidades e centros de pesquisa entre os melhores nos rankings internacionais, ambiente internacional e anuidades módicas. Estudantes lusófonos testemunham.
Com uma população de 8,4 milhões de pessoas, das quais mais de 255 mil são estudantes inscritos em nível universitário, a pequena Suíça está no topo do mundo quando o assunto é atração de talentos acadêmicos. O país é o que mais bem acolhe alunos internacionaisLink externo, segundo os dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e na média um em cada quarto inscritos nas suas instituições é estrangeiro. Estudantes de língua portuguesa contam à swissinfo.ch as vantagens de se investir em uma educação helvética.
Com quatro idiomas oficiais, a Suíça é por natureza “internacional”, mas em nenhum lugar da sociedade essa pluralidade está mais evidente do que nas instituições educacionais universitárias. Nas escolas superiores técnicas e de ciências aplicadas a média é de cerca de 25% de estudantes estrangeiros, apontam estatísticas federais.
Segundo o trabalho da OCDE, divulgado em maio de 2019, o país alpino é o líder mundial em atração de talento acadêmico e o terceiro melhor para imigrantes empreendedores qualificados, atrás apenas da Austrália e da Suécia.
Mas o que é que a Suíça tem? Conforme aponta o levantamento, o país oferece custos educacionais relativamente baratos em comparação a outras nações desenvolvidas. Além disso, emite permissões de estadia a imigrantes de fora da União Europeia e da Associação Europeia de Comércio Livre (EFTA).
Vários estudantes de língua portuguesa confessaram à swissinfo.ch que – além de apresentar um bom custo-benefício – as instituições helvéticas são território fértil da diversidade, o que para eles é o verdadeiro diferencial.
Custos e visto
Ao avaliar a competitividade dos países, a OCDE “leva em conta os preços das taxas educacionais nas universidades, o que é um dos principais fatores determinantes na escolha do destino pelos alunos”. Nesse quesito é que a Suíça se destaca.
A paulista Amina Ribeiro, 32, cursa um doutorado e trabalha como pesquisadora remunerada pela Escola Politécnica de Zurique (ETH, na sigla em alemão). Há pouco mais de um ano na Suíça, a cientista física chegou a cogitar ir para a Espanha, Austrália e Estados Unidos, mas optou por Zurique depois de conhecer pessoalmente o orientador em um seminário em Maresias.
Para ela “são as pessoas” o grande diferencial do país alpino. No grupo de pesquisa do qual faz parte há também uma croata e diversos alemães. Junto a eles, Amina desenvolve experimentos sobre matéria sólida e aplicabilidade de materiais. A pesquisadora formada pela USP acha “impressionante como há tanto talento estrangeiro na ETH”.
Morando em um apartamento compartilhado com outros sete jovens, Amina confessa que teve de aprender o idioma alemão “na marra”, pois só havia estudado até o nível intermediário, uma vez que na ETH inglês é a “língua franca” das pós-graduações. O que ela mais gosta da vida na Suíça é a “abundância de recursos e oportunidades” e “o privilégio de poder explorar diariamente a fronteira do conhecimento”.
As tarifas educacionais anuais de graduação em universidades de primeira linha nos Estados Unidos, por exemplo, custam na média 25 mil dólares (24 mil francos). Enquanto isso, nas instituições suíças um semestre não sai por mais do que mil francos em taxas.
Por fazer parte dos acordos de Schengen e Dublin, a Suíça admite estudantes portugueses sem a necessidade de vistos. Após serem aceitos pela universidade, eles precisam apenas se registrar junto às autoridades cantonais em até 15 dias após a entrada no país.
Já os alunos brasileiros recebem um visto de categoria “D” e também solicitam uma permissão de permanência, se inscrevendo junto às autoridades cantonais.
Conforme dados do Departamento Federal de Estatísticas (BFSLink externo), atualmente as instituições superiores acolhem 61.485 alunos estrangeiros, dos quais 45.671 estudam em universidades e institutos de tecnologia. O restante em instituições de ciências aplicadas.
Tradição internacional
O ranking de educação Times Higher EducationLink externo (THE) avalia anualmente as instituições de estudo superior do mundo todo e compila uma lista com o perfil delas. No THE as universidades suíças têm há várias edições reportado um alto nível de participação de estudantes estrangeiros.
Na Escola Politécnica de Zurique (ETHLink externo), por exemplo, praticamente 40% dos alunos é de estrangeiros. Essa também é a parcela de participação observada na Universidade de GenebraLink externo. Na EScola Politécnica Federal de Lausanne (EPFLLink externo) o clima é ainda mais internacional, pois lá os alunos de fora correspondem a 57% do corpo estudantil, segundo dados do THE.
Nas instituições privadas de Lausanne a participação de estrangeiros é igualmente expressiva. Por exemplo, no instituto de formação de executivos IMDLink externo mais de 40 nacionalidades estão presentes.
Em 2018 o curso de mestrado em administração (MBA) contou com um recorde de 13 brasileiros em um programa que admite por volta de 90 alunos ao ano.
Na prática o número de lusófonos no IMD chega a ser ainda maior, pois a instituição possui parceria com a Porto Business School (PBS). Além disso, “alguns alunos brasileiros têm dupla ou tripla nacionalidade, então o total é superior”, pondera Paola Eicher gerente de admissões da instituição.
“Na Suíça há uma conexão global que favorece a vinda de estudantes lusófonos” avalia a diretora associada da PBS, a portuguesa Patrícia Teixeira Lopes.
Diversidade
Participante de um curso intensivo da instituição o paulista Paulo Luisada, acha que valeu à pena atravessar o Atlântico. Atualmente trabalhando na Zona Franca de Manaus, ele é vice-presidente de operações de uma fabricante de componentes eletrônicos. Investir em educação suíça foi uma dica vinda dos diretores finlandeses da empresa.
“Aqui em Lausanne é diferente do que outros cursos que eu já fiz fora do Brasil. Vejo que a diversidade é muito maior. Há pessoas de várias indústrias e as ideias trocadas nas aulas são referências de fora do nosso círculo (…) essa diversidade cultural é fantástica. Esse é o diferencial: a abertura e o espírito com que as pessoas participam”, avalia o administrador, que enfrentou a longa jornada desde o Amazonas.
Vice-presidente de uma gigante mundial de logística no Brasil, a paulista Flávia Sebastiani já morou em Zurique e atualmente está baseada em Campinas, interior de São Paulo. Ela também concorda que investir em educação de qualidade helvética vale à pena por causa da diversidade e da “impecável reputação”.
“A Suíça é uma nação onde há quatro países dentro de um. Os professores que lecionam aqui entendem naturalmente essa multiplicidade de culturas. Isso forma uma visão muito mais completa de business do que apenas uma perspectiva singular no espectro do conhecimento”, diz.
“Em comparação a outros cursos que frequentei nos EUA, aqui a diversidade é muito mais rica do que qualquer outro país que eu possa escolher…Digo a todos que me perguntam como é estudar na Suíça: venham! O investimento vale realmente a pena”, recomenda Flávia.
A mineira Letícia Vargas Bento, 29, cursa desde 2017 um doutorado na conceituada Universidade de St. Gallen (HSGLink externo). Anteriormente Letícia trabalhou no governo de Minas Gerais e escolheu “investimento de Impacto” como tópico de pesquisa.
A orientadora, Profa. Dra. Yvette Sánchez, foi apresentada a Letícia por um colega em comum. Ambas estão inseridas no núcleo de Estudos Latino-Americanos da HSGLink externo, unidade que tem fortes laços com o Brasil e conta até com um escritório em São Paulo. “Um dos motivos por eu ter escolhido especificamente a HSG é a excelência no ensino de administração e finanças. É uma das melhores universidades da Europa e a qualidade do ensino é incrível mesmo”.
Casada com um suíço, ela planeja permanecer no país por alguns anos após concluir os estudos, mas não deseja ficar para sempre. “É especialmente importante poder voltar depois ao Brasil e retribuir, compartilhar tudo que estou aprendendo aqui. Tenho uma responsabilidade com o país onde eu nasci”, afirma Letícia. “Quero ser capaz de ir criar meu impacto lá. A Suíça já é um país perfeito demais”, brinca.
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