Qual a medida certa de tecnologia para as salas de aula suíças?
Na mesma sala de aula onde antes os alunos se sentavam para olhar para um professor em frente à lousa, hoje pode ser o local onde um trabalho em vídeo é preparado ou há crianças aprendendo a codificar um robô. A educação está passando por uma mudança radical, mas nem todos na Suíça se sentem preparados para isso.
A digitalização – mudança da tecnologia analógica para a tecnologia digital – foi a grande palavra de ordem nas recentes feiras WorlddidacLink externo e SwissdidacLink externo sobre tendências educacionais realizadas em Berna. Muitas tecnologias de aprendizado digital foram exibidas, inclusive um robô finlandês para o aprendizado de idiomas.
Na Suíça, as tecnologias de aprendizado digital têm sido usadas nas salas de aula há algum tempo, mas só recentemente passaram a fazer parte do debate público, segundo Beat A. Schwendimann, da Federação Suíça de Professores (LCHLink externo – sigla em alemão para Dachverband Lehrerinnnen und Lehrer Schweiz), entidade da suíça de língua alemã.
No último ano, o governo suíço divulgou sua estratégia de digitalizaçãoLink externo e os cantões, responsáveis pela educação na Suíça, publicaram seus projetos para as escolasLink externo.
“As coisas estão avançando na Suíça”, diz Schwendimann, sobre a tecnologia educacional.
“Aprender primeiro, tecnologia depois”
Joseph SouthLink externo é o diretor de ensino da Sociedade Internacional de Tecnologia e Educação (ISTELink externo na sigla em inglês), sediada nos Estados Unidos, que realizou a conferência “Transforming EducationLink externo” (Transformando a Educação) na Worlddidac. Ele também é ex-diretor do Escritório de Tecnologia Educacional do Departamento de Educação dos Estados Unidos e diz que este é o momento em que os educadores precisam pensar na estratégia certa para a digitalização, já que ela está “impactando todas as partes do sistema educacional”.
South diz que a prioridade deve ser “aprender primeiro, e tecnologia depois”.
“Quando há excursões escolares, os iPads estão em toda parte, mas isso não muda o aprendizado”, explica ele. “É possível fazer algo tão certo ou tão errado quanto antes, com ou sem um iPad.”
A tecnologia precisa ser uma experiência transformadora para o aprendizado, enfatiza South, cuja organização desenvolveu padrõesLink externo para usar a tecnologia na sala de aula.
Efeitos nos alunos
Ainda há algumas preocupações sobre os efeitos da tecnologia nas crianças, mesmo nos Estados Unidos, onde a tecnologia digital para o aprendizado está em uso há algum tempo. South aponta que usar um dispositivo para comunicar ou resolver problemas, por exemplo, é diferente de apenas assistir e ouvir passivamente.
“Parte da razão pela qual há uma relutância em usar a tecnologia em alguns lugares é a falta de confiança nela. Não temos certeza de que será melhor para nós”, diz ele. “Estamos certos em ser cautelosos, a tecnologia nem sempre ajuda. Mas o lado positivo e as possibilidades de transformação são tão grandes que realmente vale a pena adotá-la”.
Os alunos também precisam aprender a ser bons cidadãos digitais, acrescenta. Isso significa aprender quando usar a tecnologia, como usá-la civilizadamente e promover mudanças.
“Se isso for feito, muitas de nossas preocupações com a tecnologia desaparecerão”, argumenta South.
Preocupações dos professores
Na Suíça, a federação de professores (LCH), junto com sua contraparte francófona, a SER (Sigla em francês para Syndicat des Enseignants Romands) publicaram recentemente um artigoLink externo defendendo uma posição semelhante ao ponto de vista de South sobre tecnologia na educação.
“Chamamos isso de ‘pedagogia antes da tecnologia’”, diz Schwendimann, acrescentando que a o importante é garantir que “a tecnologia realmente agregue valor à educação. Não é apenas o número de equipamentos digitais na sala de aula que conta, mas como eles estão sendo usados”.
Para isso, Schwendimann e seus colegas argumentam que os professores precisam de treinamento adequado e livros inovadores.
Mas ele admite que alguns professores, curiosos para aprender e se desenvolver profissionalmente, estão apreensivos com a introdução de novas tecnologias na educação. Os professores veem as promessas das empresas de tecnologia com cautela, diz ele. Eles precisam de atividades curriculares confiáveis, para as quais precisam ser treinados.
Schwendimann observa que, com muita frequência, os políticos alocam orçamentos únicos para o hardware, mas esperam que os professores aprendam a usá-lo por conta própria.
E o objetivo não é ter tecnologia em todo lugar e o tempo todo, diz. “Os professores precisam usar seu julgamento profissional para decidir quando usar tecnologias digitais em sala de aula e quando não usá-las.”
No entanto, um curso obrigatório de mídia e informáticaLink externo foi introduzido na escola primária sob o novo currículo unificado (Lehrplan 21Link externo) e está sendo implantado na Suíça de língua alemã. Da mesma forma, o currículoLink externo na parte de língua francesa inclui mídia e informática (MITICLink externo) como um tópico que permeia várias disciplinas.
Estes cursos são planejados para ajudar a preparar os estudantes para o mundo digital, diz Schwendimann.
Pensamento Computacional
Joseph South, da ISTE, ficou impressionado com uma das áreas de tecnologia educacional, na qual a Suíça parece estar à frente, em relação a outros países: sua ênfase no pensamento computacional, ou a divisão de um problema em tarefas menores para que uma máquina possa executá-lo.
Por exemplo, uma Iniciativa de Pensamento Computacional (CTI, sigla em inglês para Computational Thinking InitiativeLink externo) para educação, apoiada pela federação de professores (LCH), foi lançada durante o Dia Digital em 25 de outubro. Ela usa o robô “Thymio” para ensinar essas habilidades a alunos do ensino fundamental. A tecnologia foi desenvolvida pelo Instituto Federal de Tecnologia da Suíça em Lausanne (EPFL).
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Novo centro integra pensamento digital no currículo escolar
Para Schwendimann, as escolas enfrentam dois desafios: o uso da tecnologia como ferramentas de ensino e como ensinar tecnologia como conteúdo (como notícias falsas ou mídias sociais).
Em geral, ele conclui, a Suíça está lidando bem com a tecnologia na educação, mas ainda há muito o que fazer para competir com países da Escandinávia, Estônia, Coréia do Sul e Cingapura. O governo federal alemão também liberou € 5 bilhões (CHF5.7 bilhões) para desenvolver ainda mais as CTIsLink externo nas escolas públicas.
“Isso requer um esforço conjunto que envolve desde o governo federal até as escolas”, disse Schwendimann.
Adaptação: Heloisa Broggiato
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