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Em 2020, a mortalidade na Suíça atingiu níveis sem precedentes nos últimos 100 anos

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Um técnico prepara a entrada de um caixão em um dos fornos de cremação do centro funerário do cemitério de Saint Georges, em Genebra. Keystone / Salvatore Di Nolfi

Um número excepcional de mortes foi registrado em 2020 na Suíça. Intimamente ligada à Covid-19, a mortalidade excessiva afetou principalmente idosos e alguns cantões, como Genebra e Friburgo. Leia aqui números que questionam os resultados oficiais da pandemia e análises.

A pandemia não mata apenas pessoas que já estão no final de suas vidas. Os números da mortalidade de 2020, publicados na tarde de terça-feira pelo Departamento Federal de EstatísticaLink externo (OFS, na sigla em francês) enterram definitivamente essa ideia.

Em 2020, o órgão oficial previu cerca de 68.400 mortes, por todas as causas, para o período de 30 de dezembro de 2019 a 3 de janeiro de 2021. Ao fim, afetada pela Covid-19, a Suíça registrou mais de 75.900 óbitos – ou seja, 7.500 mortes a mais do que o esperado, um aumento de 11%.

Uma característica marca o ineditismo dos dados de 2020: somente 1918 com a gripe espanhola registrou um número tão elevado de mortes (veja o box no final do artigo).

Mais recentemente, o último episódio de mortalidade excessiva data de 2015. Uma gripe violenta seguida de uma onda de calor causou um excesso já incomum de cerca de 2.500 mortes. Em 2020, o excesso de mortalidade é, portanto, três vezes maior, apesar das medidas excepcionais implementadas para limitar o impacto da pandemia.

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Picos registrados a partir dos 70 anos

No entanto, esse excesso de mortalidade não atinge toda a população. Para os menores de 65 anos, o relatório anual permanece próximo das projeções do OFS (+ 3%).

Assim como acontece com as vítimas do Covid-19, o excesso de mortes é verificado principalmente dentre os idosos. Dentre os que tem mais de 65 anos, foram cerca de 7.200 casos.

Mas as mortes atingem somente apenas pessoas que já estão no fim da vida? Não. Os dados detalhados por grupos de idade mostram um nítido aumento da mortalidade a partir dos 70 anos, quando ainda há a expectativa de vida de mais 17 anos nesta idade.

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A segunda onda foi quatro vezes mais mortal

Outro elemento refuta a hipótese de que a epidemia atinge apenas pessoas à beira da morte: apenas uma pequena parte das mortes da primeira onda foram “compensadas” durante o verão.

Mas vamos analisar a situação desde o início de 2020. Antes da chegada da Covid-19, morreram 700 pessoas a menos do que o esperado durante o inverno, devido principalmente a gripes leves.

Foi em meados de março, quando a pandemia atingiu a Suíça, que o número de mortos disparou. O primeiro pico de excesso de mortalidade durou seis semanas e totalizou um excesso de 1.750 óbitos. E, segundo os indicadores da epidemia, o excesso de mortalidade recuou no final de abril.

É a partir daí que deveria ocorrer um período de alta da sub-mortalidade se as vítimas do coronavírus fossem constituídas apenas por pessoas já em final de vida. No entanto, durante os cinco meses seguintes à primeira onda, o escritório oficial de estatística registrou apenas uma leve sub-mortalidade (-600 mortes). O que, de longe, não compensou o excesso de mortes na primavera.

E então, em meados de outubro, no início da segunda onda, os números explodiram novamente. Ao contrário da primeira onda, o pico de mortalidade excessiva subiu mais alto e durou mais.

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Números oficiais da epidemia subestimados?

Os resultados da 2ª onda em 2020 são quatro vezes superiores aos da primeira onda, com um excesso de quase 7.100 mortes de meados de outubro ao final do ano.

No final, as duas ondas de Covid-19 causaram 8.850 mortes a mais do que o normal. Número maior do que as 7.400 mortes atribuídas ao coronavírus, segundo dados da Secretaria Federal de Saúde Pública no mesmo período.

Como os dados do Departamento Federal de EstatísticaLink externo não indicam a causa da morte, atualmente não é possível saber a origem dessa diferença. Alguns especialistas veem nisso uma possível subestimação das estatísticas oficiais mesclada com efeitos colaterais da crise.

“Por um lado, há pessoas que podem ter morrido sem ter sido diagnosticadas com Covid e que estão nas estatísticas de mortalidade excessiva”, estima o epidemiologista Antoine Flahault. “E então, talvez existam pessoas que podem ter tido patologias que não foram atendidas de forma totalmente adequada porque havia um certo congestionamento de hospitais ou falta de acesso ao atendimento no momento em certos cantões”.

Muitas mortes em Genebra e Friburgo

De fato, certas regiões apresentam estatísticas muito mais pesadas ​​do que outras. O aumento de mortes está distribuído de forma muito desigual pelo país, embora todas as partes da Suíça estejam registrando mais mortes do que o esperado – de acordo com dados do Escritório Federal de Estatística que publica dados detalhados para 18 dos 26 cantões.

Por um lado, algumas regiões ficaram particularmente afetadas pelo luto. É o caso de Genebra, Friburgo e Ticino, que registraram mortalidade 20% acima do esperado. No auge da pandemia, essas cidades experimentaram semanas com quase três vezes o número normal de mortes.

Pelo contrário, o excesso de mortes permaneceu mínimo em outras regiões. Em Graubünden e Basel-Stadt o aumento circulou entre 2%. O número pode ser explicado por flutuações naturais e não reflete um excesso de mortalidades excepcionais.

Mas os municípios poupados em 2020 não são necessariamente imunes à pandemia, com a mortalidade permanecendo em níveis históricos em todo o país no início do ano.

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Para fazer uma comparação do número de mortes 2020 na Suíça, é preciso voltar bem longe no tempo. Em 1918, especificamente, quando aconteceu uma furiosa… pandemia.

A gripe espanhola da época causou um aumento de cerca de 40% nos óbitos em comparação com anos anteriores. Este excesso de mortalidade, significativamente mais elevado do que o aumento registrado em 2020, aconteceu em um período que a Suíça tinha condições de vida e sanitárias incomparáveis às atuais.

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A taxa de mortalidade, ou seja, o número de mortes por 1000 pessoas durante o ano, permite avaliar a evolução das mortes levando em conta o tamanho da população. A diminuição dos índices de mortalidade caiu nas últimas décadas graças às melhorias do sistema de saúde e de condições de vida.

Com o aumento de mortalidade em 2020, o índice geral deve subir para cerca de 8,7 contra os 7,9 registrados em 2019. Assim, voltaria ao patamar alcançado no final da década de 1990. Outros índices baixos semelhantes foram registrados em 1944, ano particularmente marcado pela tuberculose na Suíça.

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Adaptação: Clarissa Levy

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