Estudo analisa transferências financeiras dos imigrantes
País de imigração por excelência, a Suíça é também um dos países de onde os imigrantes mais enviam dinheiro para o seu país de origem. A proporção mais elevada é observada na diáspora portuguesa.
A importância das remessas financeiras internacionais como ferramenta de desenvolvimento tem atraído atenção nos últimos anos. Segundo as Nações Unidas, os repasses financeiros dos imigrantes para o seu país de origem representam um total de três vezes o montante investido em ajuda oficial ao desenvolvimento.
Considerando as transferências feitas dentro do próprio continente europeu, em geral sabemos pouco sobre elas, ainda que ocorram frequentemente. Agora, uma equipe da Universidade de Zurique preencheu parcialmente esta lacuna ao realizar um estudo, publicado no Journal of Ethnic and Migration Studies, que avalia a importância deste fenômeno entre as pessoas que emigraram da Itália, Grã-Bretanha, Portugal, Alemanha, Bósnia e Sérvia. Na pesquisa, que foi realizada por escrito, foram entrevistadas 3.000 pessoas, abarcando a primeira e segunda gerações de imigrantes.
Quantidades muito diferentes
Os resultados mostram que pelo menos 21% dos entrevistados enviam dinheiro para seu país de origem pelo menos uma vez por ano. A proporção mais elevada (46%) é observada na diáspora portuguesa. Entre as pessoas de origem italiana, o percentual cai para 13%.
Os montantes transferidos variam muito de acordo com a nacionalidade e refletem também o estatuto socioeconômico de quem emigra.
Os britânicos, que geralmente gozam de uma boa situação econômica, enviam cerca de 4.000 francos por ano. Os portugueses transferem em média 2.200 e os alemães 1.100. Os italianos (650), os sérvios (460) e os bósnios (324) transferem montantes significativamente inferiores para o seu país de origem.
A destinação destes valores também varia consideravelmente. “É surpreendente que as pessoas da Bósnia e Herzegovina, Itália e Sérvia utilizem com muita frequência remessas para sustentar familiares e amigos, enquanto aqueles que emigraram de Portugal transferem principalmente dinheiro para suas próprias contas”, descreve o comunicado de imprensa que acompanha o estudo. Já os britânicos e alemães estão no meio do caminho, alternando entre transferências para terceiros ou contas pessoais.
“Descobrimos que as pessoas quem têm origem na Sérvia e na Bósnia e Herzegovina aderem muito facilmente o modelo tradicional de remessas, ajudando as suas famílias e entes queridos no seu país de origem, principalmente em momentos de dificuldade e para manter o seu nível de vida”, escreveram os pesquisadores. O mesmo se aplica, até certo ponto, aos italianos, embora neste caso as despesas pessoais sejam a outra razão principal citada para as remessas.
Menos laços na segunda geração
No que diz respeito à comunidade italiana na Suíça, a proporção relativamente baixa de remessas também pode ser explicada pela maior proporção de representantes da segunda geração.
“Em geral, a segunda geração de imigrantes está menos inclinada a enviar remessas. Isto explica-se pelo fato das relações sociais no país de origem dos pais serem mais fracas e em menor número”, explica o sociólogo Jörg Rossel, principal autor do estudo.
PLACEHOLDERNão é um sinal de falha na integração com a Suíça
O estudo também destaca que o envio de remessas não é um sinal de má integração na sociedade suíça. Pelo contrário, significa o oposto.
“Os resultados mostram claramente que o pagamento das remessas depende de uma integração bem sucedida no mercado de trabalho e, portanto, de um rendimento elevado”, aponta o estudo.
Também é verdade que variáveis puramente econômicas não explicam diferenças entre grupos. Por exemplo, os portugueses enviam remessas com muita frequência, enquanto os alemães tendem a fazê-lo com menos frequência.
As remessas também dependem dos “laços e padrões morais do país de origem”. As pessoas que têm família ou propriedade residencial no seu país de origem e uma obrigação moral de sustentar a sua família são mais propensas a transferir dinheiro, diz Jörg Rossel. No entanto, isto tem pouco a ver com a integração na Suíça”.
(Adaptação: Clarissa Levy)
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