Fórum Social Mundial prepara propostas para a Rio+20

Manifestação de rua no primeiro dia do FSM em Porto Alegre. Keystone

Com palavras de ordem contra o capitalismo e em defesa do meio ambiente, uma marcha pelas ruas de Porto Alegre com cerca de cinco mil pessoas marcou na terça-feira (24) o primeiro dia do Fórum Social Mundial (FSM), evento que reúne até o dia 29 no Brasil organizações da sociedade civil e movimentos sociais de todo o mundo.

Como já se tornou tradição, o FSM está sendo realizado em contraponto ao Fórum Econômico Mundial, que também acontece esta semana na cidade de Davos, na Suíça.

Batizado Fórum Social Temático 2012, com o título “Crise Capitalista, Justiça Social e Ambiental” o FSM acontece este ano no Brasil em versão reduzida. Cerca de 40 mil pessoas, segundo a organização, devem participar do fórum, que terá como principal objetivo discutir e elaborar propostas a serem apresentadas durante a Rio+20, a conferência sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável da ONU que acontecerá em junho no Rio de Janeiro.

As principais discussões em Porto Alegre terão como foco a busca por estratégias para superar a crise econômica global sem penalizar as camadas mais pobres da sociedade, além da definição de caminhos para uma economia sustentável que ofereça alternativas de enfrentamento às mudanças climáticas: “Três anos após a pior crise econômica mundial desde 1929, três anos depois da enorme alta nos preços das commodities e dos alimentos provocada pela especulação dos gigantes das finanças, quatro anos depois do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) ter alertado para a urgência na transição para uma economia de baixo carbono, todos os problemas se arrastam sem perspectivas de solução, com os poderes estabelecidos apenas preocupados em manter os negócios como sempre”, diz o documento de abertura do FSM.

O fórum não terá desta vez a presença de chefes de Estado estrangeiros, com exceção do presidente do Uruguai, José Mujica, que irá participar na quinta-feira (26) de um debate ao lado da presidente do Brasil, Dilma Rousseff. A orientação de Dilma a seus ministros e outros membros do primeiro escalão presentes a Porto Alegre é debater a fundo com os representantes dos movimentos sociais as questões ligadas ao tema do fórum e também aos esforços pela erradicação da pobreza no Brasil, que é a principal bandeira de seu governo.

Segundo o assessor especial para Assuntos Internacionais da Secretaria-Geral da Presidência, Diogo Sant`Ana, o governo buscará o diálogo durante o FSM para “aparar as arestas” com a sociedade civil: “Existem temas polêmicos, mas todas as conversas que tivemos com o comitê organizador do evento nos fazem acreditar que será possível se chegar a um consenso”, diz, lembrando que a elaboração do documento oficial do governo brasileiro para a Rio+20 foi feita após diversas consultas à sociedade.

Personalidades

Outros momentos importantes do Fórum Temático são os debates com as participações da ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e do idealizador do Programa Fome Zero no Brasil, José Graziano, que acaba de assumir o posto de diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Alguns nomes da esquerda internacional habitualmente ligados ao FSM também estarão em Porto Alegre, como o jornalista espanhol Ignacio Ramonet, o sociólogo português Boaventura.de Souza Santos e o italiano Luigi Bobbio, entre outros.

Um dos primeiros a chegar a Porto Alegre, Boaventura de Souza Santos faz um balanço positivo dos onze anos de existência do fórum: “O FSM foi responsável por tornar a América do Sul o continente com o maior número de movimentos de contestação ao capitalismo. Além disso, o fórum teve participação importante na consolidação dos governos de esquerda da região”, analisa.

Outras participações no FSM prometem render mais polêmica. É o caso do italiano Cesare Battisti, que teve no ano passado seu pedido de extradição pela Itália – onde é acusado por quatro assassinatos – recusado pelo governo brasileiro. Battisti chegou a Porto Alegre na terça-feira (24), e foi recebido pelo governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, que era ministro da Justiça na época da recusa ao pedido de extradição.

Presença suíça

É difícil precisar o número de participantes suíços no FSM 2012: “A organização do Fórum não registra os participantes do evento por nacionalidade. Em todo caso, acredito que pelo menos uma dúzia de organizações suíças esteja participando direta ou indiretamente das atividades”, diz Ivan Trindade, da Assessoria de Comunicação do Fórum Temático 2012.

Representando a agência de cooperação suíça Heks, que é ligada à Igreja Protestante e tem sedes nos cantões de Zurique e de Lausanne, Uli Ide participou do seminário “Rumo à Rio+20: Por Uma Outra Economia”, que reuniu diversas organizações socioambientais para discutir a necessidade de se transformar os modos de consumo e produção da humanidade para deter o aquecimento global.

“Nosso objetivo é articular com os atores locais, até a Rio+20, algumas atividades conjuntas relacionadas à questão agrária e da soberania alimentar em todo o mundo. É possível mudar a produção agrícola e debater propostas alternativas à economia verde”, disse à swissinfo.ch o representante suíço.

Agenda cultural

O Fórum Social Temático 2012 tem uma extensa agenda cultural, com a apresentações de música, teatro, dança e poesia, além de debates, oficinas e inúmeras manifestações populares e tradicionais.

Entre os nomes mais conhecidos, que se apresentarão no palco às margens do Guaíba, destaque para o ex-ministro da Cultura, Gilberto Gil, e para o grupo paulista de hip-hop Racionais MCs.