Facebook gera problemas para administração pública
O governo suíço proibiu o uso do Facebook na administração federal. O motivo não é perda de tempo durante o expediente e sim a sobrecarga do sistema de informática, explica o presidente do país, Hans-Rudolf Merz.
Enquanto o chamado governo eletrônico avança em muitos países, o uso das redes sociais pela administração pública ainda gera controvérsias e enfrenta resistências.
A rede social Facebook cresce em velocidade recorde. Desde o começo deste ano, o número de usuários saltou de 200 para 300 milhões, conforme declarou o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, na última terça-feira, num blog da empresa.
Não há dados oficiais detalhados disponíveis por países, mas, segundo o blog alemão facebookmarketing.de, 1,6 milhão de suíços (cerca de 21% da população) participam dessa rede social.
Entre os usuários mais ativos parecem estar os funcionários públicos, o que já levou prefeituras, alguns governos estaduais e o governo federal da Suíça a restringir o acesso ao Facebook no local de trabalho.
Em agosto passado, a prefeitura de Zurique bloqueou o acesso de seus funcionários às redes sociais. Anteriormente, a Câmara Municipal da maior cidade suíça havia dado uma “última chance” para reduzir o número de acessos a essas redes de 3,36 milhões (março de 2009) a, no máximo, 500 mil. Após uma breve queda, em julho ele voltou a subir e foram registrados 1,7 milhão de acessos pelos funcionários municipais, a maioria em caráter privado, conforme informou a prefeitura.
No plano federal, um apelo feito pelo governo em maio para que seus funcionários moderassem o uso pessoal da internet, em especial do Facebook, provocou apenas uma leve queda do acesso à rede social. O volume de dados baixados continuou aumentando na maioria dos ministérios.
Resultado: no último dia 15, o acesso ao Facebook foi bloqueado em seis dos sete ministérios – apenas o das Relações Exteriores foi poupado. A medida não se deve ao temor de que os servidores percam tempo demais com o uso do Facebook, mas porque ele sobrecarrega a rede de informática da administração federal, explicou o presidente suíço Hans-Rudolf Merz, nesta terça-feira (22/9), ao Senado.
Segundo ele, o tempo de trabalho recuperado com o bloqueio não é quantificável, mas provavelmente desprezível, informou a agência de notícias SDA. De acordo com dados do Gabinete Oficial de Informação e Telecomunicações (BIT), no início de 2009 o Facebook era o segundo site mais visitado dentro da administração federal, depois da página da Microsoft.
Um quarto do uso total
Após analisar os 200 sites mais visitados pelos servidores federais, o BIT concluiu que entre 16% e 25% dos dados baixados vinham do Facebook. Isso correspondia a um volume mensal de aproximadamente 500 gigabytes ou 25 megabytes por funcionário (o Ministério da Defesa não foi incluído na análise). Só o site da Microsoft causa uma maior circulação de dados na rede da administração federal, devido aos updates e das informações técnicas para os usuários de produtos da empresa norte-americana.
Desde o início deste ano, os funcionários do Parlamento suíço também não têm mais acesso ao Facebook. O mesmo vale para os servidores de alguns dos 26 estados, segundo informou o jornal NZZ. Quem precisar do acesso à rede social por motivos profissionais terá de fazer uma solicitação ao seu superior hierárquico.
O NZZ relativizou a sobrecarga de rede alegada pelo governo federal. Segundo o jornal, o volume de dados mencionado poderia ser gerenciado sem problemas por uma conexão privada à internet com velocidade média. E a infraestrutura de informática do governo federal está sendo ampliada.
Além de problemas técnicos, fatores como proteção, manipulação e controle de dados precupam os administradores públicos na hora de decidir sobre o uso ou não de instrumentos da Web 2.0, como mostraram os debates do Fórum Europeu sobre Redes Sociais e Administração Pública, realizado no começo deste mês em Alpbach (Áustria).
Questão do controle
Na opinião do vice-presidente do grupo de pesquisa e análise de tecnologia da informação Gartner, Andrea di Maio, “após mais de dez anos de esforços para aproximar a administração pública dos cidadãos através de e-services, há uma fadiga de governo eletrônico. Paralelamente ocorre o triunfo das redes sociais, que abrem possibilidades de comunicação completamente novas, mas que até agora merecem pouca atenção da administração pública”.
Segundo Di Maio, se os governos quiserem manter um contato estreito com os cidadãos, eles precisam aproveitar as possiblidades dos modernos métodos de informação e comunicação. “Para isso, é preciso permitir que funcionários públicos usem redes sociais externas, como fontes de informações e canais de comunicação, especialmente em casos urgentes, por exemplo, durante catástrofes naturais.”
Ele acredita que muitas autoridades proíbem o uso de redes sociais por seus funcionários temendo uma perda de controle. Visto que os indivíduos preferem o diálogo com pessoas à comunicação com “instituições impessoais”, ele sugeriu em Alpbach que as repartições públicas sejam representadas por seus funcionários nas redes sociais.
Segundo o especialista, o fato de estes usarem seus perfis pessoais poderá até causar uma reviravolta: não o funcionário perguntará ao empregador se pode usar o Facebook; a repartição pública lhe pedirá que participe dele. “Redes sociais são aceitas e usadas onde são úteis; a confiança se desenvolve depois”, argumentou Di Maio.
Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch
O Facebook parece causar problemas não só à administração pública na Suíça.
Em setembro do ano passado, o UBS – maior banco do país – proibiu os seus executivos de usar a rede social.
“Especialmente plataformas de redes sociais, como o Facebook, oferecem a possibilidade de gravar informações que permitem tirar conclusões sobre o empregador”, argumentou na época o porta-voz da empresa, Andreas Kern, em entrevista ao jornal Sonntag.
Outras grandes multinacionais suíças, como a Novartis e a Roche, não fazem esse tipo de bloqueio.
Na Itália, a Fiat, por exemplo, usa o Facebook para divulgar seus novos modelos de veículos. Mas há também empresas e repartições públicas italianas que bloqueiam o acesso à rede social no local de trabalho.
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