Procura-se: 10.000 professores por ano para as escola suíças
É o fim do semestre, ou em breve será, em muitos lugares, mas algumas escolas suíças já estão se perguntando como vão contratar pessoal suficiente para o início do próximo ano letivo.
A falta de professores tem sido descrita como grave em muitos cantões, que são responsáveis pelas questões educacionais na Suíça. As escolas apresentam grandes dificuldades para preencher todos os postos necessários antes do próximo ano letivo, que começa em agosto e setembro.
O que está acontecendo
No cantão suíço de Aargau (Argóvia) a situação é “a mais extrema que já se viu”, disse o diretor de uma escola primária local à televisão pública suíça SRFLink externo no final de maio. “Às vezes não há sequer um único candidato para alguns empregos”, disse Linda Villiger. As vagas disponíveis atuais são mais de 200.
No início de julho, o cantão de Berna estava anunciando quase 80 vagas para suas escolas públicas e, no cantão de Zurique, eram cerca de 270.
A situação foi confirmada por uma pesquisa recente conduzida entre diretores de escolas que descobriu que, em média, cerca de 39% dos diretores de escolas primárias estavam tendo dificuldades para preencher vagas em suas escolas.
O cantão de Berna já tinha tomado medidas em fevereiro, quando enviou cartas aos professores aposentados perguntando se topariam voltar temporariamente para a sala de aula. O cantão já recorre a professores estagiários quando necessário.
Em alguns lugares, certas escolas teriam recorrido a treinadores para aulas de esporte por falta de professores formados de educação física; em outros casos, professores foram convocados para lecionar em níveis acima de suas qualificações. Os cantões francófonos de Friburgo e Valais também estão enfrentando uma escassez de professoresLink externo, em parte devido a uma onda de reformas antecipadas após mudanças impopulares nos fundos de pensões dos professores.
Por que faltam professores?
São necessários mais de 10.000 professores por ano para preencher essa lacuna, diz Stefan WolterLink externo, professor de economia da educação na Universidade de Berna, que elaborou o Relatório da Educação Suíça de 2018Link externo. A escassez compreende 7.000 professores do ensino primário e mais de 3.000 do ensino secundário.
“Houve um duplo ‘baby boom'”, explicou ele à SRF. “O primeiro foi o dos nascidos nos anos 50 e 60, que são os professores prestes a se aposentar, e o outro foi nos últimos dois anos, mais ou menos, com mais crianças nascendo. É bom para a Suíça, mas as crianças estão entrando na idade escolar e precisam de mais professores.”
De acordo com a SRF, 5.000 professores estagiários se formam a cada ano, deixando um déficit anual de 5.000 professores. Destes, cerca de um quinto – 1.000 – terá abandonado o ensino dentro de cinco anos, ou muitos deles acabarão por trabalhar em tempo parcial, principalmente por razões familiares.
Trabalho de meio-período
Na verdade, enquanto há 20 anos a maioria dos professores primários na Suíça trabalhava em tempo integral, o professor primário médio, uma profissão dominada por mulheres, trabalha atualmente 63%, ou seja, pouco mais de três dias por semana.
+ Leia sobre os esforços para colocar mais homens no ensino primário (em inglês)
Wolter tem duas soluções para a falta de professores: aumentar as turmas, o que é uma sugestão bastante impopular, ou aumentar as percentagens de trabalho. “Se cada professor aumentasse sua porcentagem de trabalho em média 10%, não haveria mais falta de professores”, disse Wolter à SRF.
Em Genebra, os professores trabalham em média 84% porque o cantão proibiu efetivamente o trabalho a tempo parcialLink externo, em um esquema em que o pessoal pode trabalhar ou 100% ou em “partilha de posto” (2 x 50%).
Wolter acha que estabelecer um limite para pequenas percentagens de trabalho a tempo parcial, para um mínimo de 30-50%, poderia também funcionar para outros cantões. No entanto, a tentativa do cantão de Fribourg, em 2013, de acabar com os postos a 20-30% causou um protesto geral e foi abandonada.
Expulsando as mulheres?
O chefe da Federação de Professores Suíços de Língua Alemã, Beat Zemp, não concorda com o fim dos trabalhos de pequenas percentagens, pois ele acha que isso desencorajaria as mulheres com filhos pequenos que provavelmente irão aumentar suas percentagens de trabalho mais tarde.
Ele sugere que se encoraje as pessoas a regressarem à profissão ou que se recorra aos aposentados, se for realmente necessário, para ajudar a estancar a escassez.
“É importante formarmos jovens em números suficientes e garantir que a formação de professores permaneça atraente. Essa seria uma solução sustentável em vez de expulsar as mulheres da profissão”, disse ele à SRF.
A federação já destacou a questão do salário dos professores – que é por exemplo mais baixo nos cantões de Aargau e Berna – bem como as condições de trabalho como áreas chave que podem ser melhoradas e ajudar a reter os professores.
Lecionando em tempo parcial: uma comparação
A Suíça tem uma elevada taxa de professores que trabalham em tempo parcial (cerca de 70% dos instrutores) em comparação com outros países.
No Reino Unido, eles são 22% e na Alemanha, pouco mais de um terço (38%).
Fontes: Governo do Reino UnidoLink externo, Instituto Federal de Estatística AlemãoLink externo, Federação de Professores SuíçosLink externo
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Professores suíços querem melhores condições de trabalho
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