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A Suíça portuguesa aos olhos de Catarina

Catarina Alves frente aos prédios da Escola Politécnica Federal de Lausanne. swissinfo.ch

Após a formação em engenharia biológica e a sua pós-graduação em "bioprocess designer", na Holanda, Catarina Alves mudou-se para Lausanne com o intuito de trabalhar na Escola Politécnica Federal de Lausanne, em janeiro de 2016.

Passado pouco mais de um ano da sua experiência helvética, swissinfo.ch conversou com Catarina sobre o seu trabalho relacionado com biorefinarias e a sua adaptação à vida na cidade.

Catarina Alves é natural de Leiria e quando decidiu prosseguir os seus estudos, teve de se mudar para Lisboa. Ingressou em Engenharia Biológica no Instituto Superior TécnicoLink externo. No momento em que teve de optar por este curso, não tinha uma ideia clara acerca do que queria, sempre gostei muito de matemática, ciências. Foi uma hipótese que me pareceu interessante, simplesmente”. De Portugal partiu em direção à Holanda para frequentar uma pós-graduação em Bioprocess Designer, na TU DelfLink externo.

Procurar trabalho à distância

Ainda na Holanda, decidiu começar a busca de trabalho na Suíça, mas “encontrar trabalho aqui é um desafio. A nível científico é bastante bom, por isso acaba por ser também um desafio.”

Como o seu namorado tinha-se mudado para o país helvético, Catarina aproveitou isso para dar um passo seguinte na sua experiência internacional. Apesar de ter contactado diversas entidades, a Escola Politécnica Federal de LausanneLink externo estava no topo das suas preferências pela qualidade daquela instituição académica. Quando descobriu o Bioenergy and Energy Planning GroupLink externo tentou a sua sorte e fez uma candidatura espontânea dirigida ao Professor responsável pelo grupo Edgard Gnansounou, “muitas vezes não abrem uma vaga na internet porque têm de fazer uma grande seleção dos candidatos”, salienta Catarina.

A carta de motivação causou impacto e logo no dia seguinte fizeram uma videochamada, “a conversa foi até muito informal, houve assim uma espécie de química”. Surgiu de imediato o convite para visitar a universidade e conhecer as pessoas do grupo. Essa visita realizou-se algum tempo depois, porque Catarina ainda tinha trabalho para terminar na Holanda, mas o caminho fez-se definitivamente em direção à universidade suíça.

Catarina Marciano Alves tem um contrato de trabalho a full-time com a universidade, renovável anualmente. A sua categoria é de scientific assistent por não ser doutorada mas, após a experiencia na Holanda e agora na Suíça, Catarina pretende aproveitar ao máximo a experiencia académica e aprofundar os seus conhecimentos.

As tarefas da investigadora

O seu trabalho consiste em design de processo e avaliação, assim como realizar propostas para concorrer a fundos. Neste momento, as bio-refinarias onde efetuam os estudos de caso estão localizadas no Brasil e na África do Sul, onde existe uma produção elevada de cana-de-açúcar que é utilizada como biomassa para a produção de produtos refinados. Contudo, “tive de me habituar a isto porque estava muito habituada à parte de química e bioquímica, e este grupo está mais relacionado com energia, planeamento energético”, salienta Catarina.

Maioritariamente, a investigação que realiza passa pelo desenvolvimento de processos para conversão da biomassa em diversos produtos, tais como combustível, e pela avaliação da viabilidade económica, ciclo de vida do produto, sustentabilidade, “portanto, trabalhamos muito nesta parte da avaliação deste tipo de sistemas”, partilha a investigadora.

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Para desenvolver o design de processo, recorrem a simuladores de computador, onde criam os processos químicos necessários à produção. Apesar de haver uma pessoa que realiza testes laboratoriais, “estamos muito focados em estudar estas plataformas para produzir diferentes tipos de produtos [combustíveis], mais a produção e gestão de energia”, por ser um grande desafio com o qual as sociedades se confrontam presentemente, isso, “dá-me imensa motivação para continuar, por ser uma investigação útil”, diz-nos bastante motivada.

Neste momento, encontra-se igualmente a desenvolver propostas para concorrer a fundos da SNSFLink externo e do Horizon 2020Link externo, no sentido de desenvolverem o projeto relacionado com smart grids e estratégias de planeamento energético em países em desenvolvimento. Para além destes fundos, suíço e europeu, Catarina trabalha em conjunto com fundos de empresas, particularmente no Brasil, com vista à instalação de bio-refinarias no país.

Consciência ambiental

Catarina Alves sente que, de uma forma geral, o seu trabalho é um pouco abstrato para as pessoas. No entanto, quando compreendem que está relacionado com a eficiência energética, recebe sempre comentários positivos. Ao questionarmos acerca da sensibilidade das pessoas na Suíça para esta temática, reconhece que há uma franja da sociedade que procura deslocar-se de transportes públicos ou bicicleta, mas há também o outro lado. Descreve que se encontram também “outro tipo de pessoas, que só têm os carrões, que nunca imaginariam usar o comboio”. No entanto, destaca os grandes progressos feitos nessa matéria, assim como a atenção que as pessoas dão à separação do lixo e o seu tratamento nos locais apropriados.

A vida social

O grupo onde trabalha é constituído por oito pessoas de diversas nacionalidades e a língua utilizada é o inglês, o que, para Catarina, acaba por ser limitativo no que toca à melhoraria no domínio da língua francesa. Para Catarina é importante contactar com suíços e estar envolvida na comunidade. Por esse motivo, quando surgiu a oportunidade de pertencer à equipa de voleibol feminino VBC PullyLink externo, agarrou-a pois viu no desporto uma forma de conhecer novas pessoas. As aulas de francês que frequentou e os barbecues junto ao Lago Léman para os quais uma e outra pessoa a convidavam para ir foram atividade que, com o tempo, aumentaram a sua rede de relações.

Para além disso, costuma fazer caminhadas na montanha com os amigos e confidencia-nos, “as pessoas dizem que Lausanne é aborrecida. Eu acho que se tu gostares de facto da natureza, não te cansas. Pelo menos eu não me canso. Acho que até vou ter saudades um dia que saia daqui”, sorri.

A paisagem que lhe relembrou Portugal

Talvez por ter chegado à Suíça vinda da Holanda, Catarina sentiu-se praticamente em casa e assume, “o clima para mim é como em Portugal”. Conta-nos que não sentiu qualquer dificuldade em se adaptar às rotinas de Lausanne, “como é um país muito organizado, encaixei-me perfeitamente”, para além de o ambiente na cidade a fazer sentir-se “quase em casa quando cheguei aqui porque muitas coisas me faziam lembrar Portugal”. No entanto, confidencia-nos que lhe causa algum desconforto o facto de sentir que a vida é orientada pelo dinheiro, sendo frequentemente um tema de conversa.

Catarina assume que não tem um gosto especial em procurar produtos portugueses, “pode acontecer”, mas não faz parte dos seus hábitos. Nem o café português lhe desperta a atenção, “já me habituei ao café grande, peço desculpa”, ri-se. Inclusivamente, a sua rede de relações portuguesas é diminuta, “não há um jantar de portugueses. São casos pontuais”. A sua rede de relações é dispersa e acaba por estar com pessoas de diferentes origens aos fins-de-semana.

Portugal e Indústria: se for possível

Relativamente ao seu futuro, Catarina Marciano Alves gostaria de permanecer por mais algum tempo em Lausanne, a trabalhar na academia e a enriquecer o seu conhecimento, mas gostaria igualmente de ter uma experiência mais prolongada na indústria. Quando questionada se na Suíça ou em Portugal, assume que pretende ficar mais uns anos na Suíça, mas que “dou muito valor à minha família e amigos em Portugal com quem mantenho relações fortes”, salienta. Por isso, pretende regressar a Portugal no médio-prazo e “contribuir para o país porque acho que isso é o justo”, sorri. No entanto, sabe que não será fácil um regresso e que sentirá falta do ambiente internacional que a Suíça lhe proporciona.

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