Imigração volta a ser alvo de atenção
O impacto da imigração sobre o meio ambiente e a qualidade de vida na Suíça se tornou tema de debate político, há cinco meses das eleições legislativas federais.
Para a Comissão Federal sobre Assuntos Migratórios (EKM, na sigla em alemão) o enfoque está completamente errado.
Em uma coletiva de imprensa na segunda-feira (23/05) para apresentar as atividades de 2010, o presidente da comissão sobre Assintos Migratórios, Francis Matthey, defendeu que os diversos desafios enfrentados pela Suíça atualmente sejam abordados “pelas áreas políticas a que pertencem”.
“O que estamos dizendo em voz alta e clara é que os problemas como os de transporte e meio ambiente não devem ser relacionados exclusivamente aos imigrantes”, declara.
Seu apelo sai no mesmo dia em que o Partido do Povo Suíça (SVP, na sigla em alemão) anunciou o lançamento de uma iniciativa popular (proposta de modificação de lei através de plebiscito, concretizada após o recolhimento de 100 mil assinaturas) para pedir a introdução de um limite máximo e quotas para os estrangeiros com direito de residência.
A Associação de Meio Ambiente e População (Ecopop) já lançou uma iniciativa intitulada “Contra a superpopulação para garantir os recursos naturais”. Ela exige que o crescimento populacional anual – atualmente na base média de 1,3% – seja limitado a 0,2%. Ecopop também afirma que a iniciativa não se destina a estrangeiros, mas contra a superpopulação no planeta Terra em geral. “Para nós o que interessa é a densidade populacional, não importando de onde as pessoas vêm”, explica o site na internet.
E no final de 2009, dois membros do Partido Verde da Suíça publicaram um estudo controverso alertando sobre os perigos da superpopulação para o meio ambiente, apesar de não mencionar expressamente estrangeiros. De fato, um dos seus autores, Bastien Girod, declarou ao jornal Le Matin que, em sua opinião, o problema também seria solucionado se mais pessoas emigrassem.
Carência de imigrantes
“Um certo número de políticos neste país atribuem as dificuldades à população estrangeira. Na comissão, parte do nosso papel não é tentar contradizer, mas explicar, se possível, como os fatos realmente são. E os fatos dizem que temos um país com aspirações de ter uma economia de alto nível e uma população suíça que não está crescendo há muitos anos. Seu crescimento só ocorre graças à imigração”, declara Matthey.
Seu relatório apontou que não apenas grandes companhias estão à procura de mão-de-obra especializada no exterior. Cerca de 80% das pequenas e médias têm atualmente dificuldade em recrutar os especialistas que necessitam.
A EKM reconhece que o crescimento traz problemas, mas estes devem ser abordados dentro do contexto das políticas de planejamento, infraestrutura, transporte e habitação. O estudo ressalta que a Suíça se beneficia das contribuições realizadas pelos trabalhadores estrangeiros ao sistema de seguridade social.
“O Ministério do Interior calculou que se não fossem os imigrantes, o caixa da previdência já estaria em déficit desde 1992”, escreve. “A imigração também compensa o processo de envelhecimento da população”, embora admita que, a longo prazo, ela não será suficiente e clama por novos caminhos para assegurar o financiamento do sistema de seguridade social.
“Trabalhadores não qualificados são necessários para funções que suíços não podem ou mão querem exercer”, lembrou Matthey. Embora esse grupo seja o que mais tem problemas para ser aceito na sociedade, esses trabalhadores contribuem para o sistema de bem-estar na Suíça em áreas como hospitais, hotelaria e agricultura.
“E se você for diz que eles devem partir, ou que um certo número deve ser cortado, então você precisa saber quem irá substituí-los”, diz. “O que a Suíça quer ser nos próximos dez ou vinte anos? Essas são questões reais precisam ser colocadas.”
História de sucesso
Ele está convencido que a Suíça é um modelo de sucesso em comparação com os países vizinhos no que diz respeito à integração de estrangeiros. “Obviamente existem aqueles que não se adaptam aos nossos padrões, mas a grande maioria dos imigrantes aceita os valores deste país, eles trabalham, suas crianças vão à escola e nós acreditamos que a sua integração é muito bem-sucedida”, afirma.
Enquanto a atenção até agora tem sido amplamente focada na integração de imigrantes que vivem nas cidades, se tornou evidente nos últimos anos que muitos deles – como muitos habitantes nativos – afastaram-se das áreas urbanas em direção aos subúrbios, que não mantém o seu caráter rural.
Em 2008, a comissão lançou um programa intitulado “Periurbano” para promover também a integração de estrangeiros nessas áreas. Ela tem apoiado cinco regiões que vieram com propostas para promover a coexistência entre os diferentes grupos populacionais.
A diretora da comissão, Simone Prodolliet, explica que, embora o projeto ainda esteja na sua fase inicial, ele criou uma consciência crescente nas regiões atingidas: para resolver os problemas, é necessário o envolvimento de toda a população local.
“Outro importante sucesso foi o fato de que diferentes atores de várias áreas – planejamento urbano, assistência social e outras – trabalharam em conjunto para encontrar pontos em comum.” O projeto agora está sendo ampliado para que outras regiões possam ser convidadas a apresentar propostas à comissão.
A Comissão Federal sobre Assuntos Migratórios, lançou o projeto “Periurbana” em 2008.
A fase inicial envolveu cinco regiões:
Rheintal (St. Gallen)
Freiamt (Aargau)
Cantão de Glarus
La Broye (cantão de Friburgo e Vaud)
Le Chablais (cantão de Vaud e Valais)
Os objetivos foram os seguintes:
– contribuir para o desenvolvimento regional
– ajudar a melhorar a coexistência
– reunir pessoas de diferentes origens
– incentivar a participação da população local
– conscientizar sobre o trabalho de integração
– encontrar novas maneiras de realizar o trabalho de integração
– estimular políticas sustentáveis de integração local
Para a segunda fase do projeto, mais 15 regiões foram convidados a se inscrever no trabalho de integração conduzido pela comissão.
Adaptação: Alexander Thoele
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